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segunda-feira, 25 de setembro de 2017

O emaranhado racionalmente construído do marketing multinível



“O Multinível é essencialmente um modelo de vendas diretas que distribui produtos e/ ou serviços por meio de empreendedores independentes, comissionados em diferentes níveis (multiníveis) de acordo com a equipe de vendas que ele construiu. Uma empresa de Marketing Multinível deve apresentar: produtos inovadores, um plano de bonificação que gera comissões para revenda, comissões sobre formação de equipe de vendas e um plano de bonificação que não seja alimentado somente pelos novos cadastros. O cadastro não deve ser remunerado, o mais correto é que esse cadastro se dê mediante a aquisição de produtos que chegarão com emissão de Nota Fiscal e todo o processo normal de compra e venda que se observa numa operação. Esta empresa deverá apresentar um sistema que permita que um empreendedor que começou hoje no negócio possa ganhar até mais do que alguém que começou antes. E por fim, o modelo de negócio não deve iludir os empreendedores com a garantia de riqueza fácil.
O limiar que une os fenômenos da racionalização da atividade econômica capitalista intrinsicamente ligada ao protestantismo com a proliferação das empresas que professam o marketing multinível reside na máxima proposta por Weber em “A ética protestante e o capitalismo”: quem não adapta seu modo de vida às condições do sucesso capitalista é sobrepujado.
Ao contemporizar a sistematização do desenvolvimento capitalista de Weber para a contemporaneidade, guardada as devidas proporções, pode-se identificar meandros que continuam a se repetir numa pós-modernidade marcada pela busca incessante do ser que é a finalidade em si mesmo. Seria, de alguma maneira, tentativa meramente idealizada procurar as minúcias e singularidades weberianas que o autor caracteriza durante os séculos por ele estudados, contudo, muito das suas generalidades continuam como prerrogativas concretas para ensaiar acerca dos cenários socioeconômicos hodiernos. Por exemplo, a busca pela tipificação ideal fundada na união de um meio racional e de um programa econômico correto que resultam num progresso sem obstáculos almejando a dominação e efetividade de uma ética de racionalização da conduta. Nesse sentido, é aí que o marketing multinível abraça as ideias de Weber.
A economia multinível propõe, num nível interiorizado, o trabalho com a subjetividade e com o emocional de todos aquelas que se emaranharam em suas teias. É comum a realização de inúmeras palestras motivacionais, com modelos vivos daqueles que, ao cumprirem o cronograma proposto pelas suas empresas, alcançaram a tipificação de indivíduo que é o fim em si mesmo: repleto de realizações profissionais e pessoais. Desviando um pouco da lógica weberiana, esse indivíduo pós-moderno, fundado numa ideologia estéril do neoliberalismo, consumista ao extremo, no último de seus estágios auto-realizáveis, expõe a ostentação de todos os seus bens, tipificando o “sujeito alcançável”. Do ponto mais tecnicista de sistematizar racionalmente os processos dessa tendência capitalista e do lucro, o marketing em rede inova ao propor a extinção de intermediários para redução de custos, propõe uma economia direta entre fornecedor-comprador, infindas bonificações, metas de vendas, hierarquização marcadas através de “títulos” para os integrantes que cumprem ou sobrepujam essas metas e uma capacidade de atração rápida de novos membros.
Apesar de se misturarem a ética da convicção e a da responsabilidade, muitas vezes para atrair novos indivíduos ao processo em rede, a ética da responsabilidade se sobressai, mesmo que travestida, no âmago de cada um uma, vez que se pode ganhar cada vez mais, muitas vezes, como o próprio introito ressalta, mais do que aqueles que ali já trabalhavam. A otimização das relações econômicas num cenário em que a competitividade se faz prospectiva é um campo extremamente germinável para que empresas como Avon, Herbalife, i9Life, Tupperware continuem a recrutar seus exércitos de vendedores com um discurso extremamente racionalista adornado com uma subjetividade de auto-realizações.

Leonardo Henrique de Oliveira Castigioni
1º Ano Direito - Noturno

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