Sai de uma casa, sem teto e sem nada
Sem valor, moral, sem ética
À luz fui introduzido
E com ela uma grande, complexa e eterna morada
Nessa morada, aprendi muito
A falar, andar, pensar, criar
Aprendi como me portar, como ser
Como de alguma forma todo são, eu também fui
Criado
Moldado
Lapidado
Ensinado
Para quê? Por quê?
...
Eu devia ser, como eles eram
E me tornei, o que todos nós somos
Condicionados
A pensar, agir, viver e fazer
Tudo o que todos fazem
Fui mais um trabalhador
Ganhei dinheiro e construí patrimônio
Tive filhos
Os criei, moldei e lapidei
Eles aprenderam
Trabalhavam, ganhavam dinheiro
Queriam construir
Patrimônio
No fim da vida, tinha tudo, mas não tinha nada
No leito de morte, queria meus filhos, minha família
Queria afeto, conexão, alento para o momento
Mas o que tive, foi solidão
Tinha os melhores médicos
Os melhores cuidados
Dos melhores profissionais da área
Pois tinha dinheiro
Meu conhecimento e educação
Me lapidaram para contribuir a um mundo caduco
Venci a corrida da vida que pensei que fosse certa
Mas sozinho ergui esse troféu
Porque meus queridos entes
Estavam correndo para construir seu império pecuniário
Em meu sepultamento, haverá choros e velas
Pessoas irão, chorarão e lembrarão
Mas no outro dia, tudo terá que voltar ao "normal"
Todos voltarão à corrida da vida que lhes ensinaram a correr
Viverão gananciosamente para ganhar o que não precisam
E deixarão, infelizes, seus bens ganhados
Que tanto lhes privaram de viver
Para correr
A culpa disso tudo? Quem saberá
Põe na conta das relações
Põe na conta da sociedade
Da religião
Põe na conta de sei lá quem
Mas na minha conta não, ela já está cheia
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