O caso de Matheus Gabriel Braia, ex-aluno de
medicina da UNIFRAN, deveria ser tratado como mais um exemplo de como a
estruturação machista influencia a sociedade atual e o comportamento daqueles
que a integram.
Matheus foi acusado de divulgar ideias que
promovem a apologia ao estupro, além de propagar discursos machistas e
sexistas, em um trote de recepção aos calouros da universidade, ato que já
fazia parte da tradição da mesma.
A fala que se destinava aos calouros, em
específico, estimulava o abuso e a manipulação de todas as mulheres que
fizessem parte do curso de odontologia e estudassem na FACEF, outra
universidade. Já o discurso voltado especificamente para as calouras, propagava
o desrespeito e o machismo ao realizar apologia ao estupro com falas como: ´´Compreendo
que namoro não combina com faculdade e a partir de hoje sou solteira, estou à
disposição dos meus veteranos´´ e ´´Juro solenemente nunca recusar a uma
tentativa de coito de veterano...´´.
Quando o caso do ex-aluno é posto perante os estudos
de Pierre Bourdieu, é possível abordar determinados conceitos, como o de
´´Habitus´´ e o de ´´Poder Simbólico´´ , que quando associados servem como
auxílio para uma tentativa de entendimento da sentença declarada pela juíza do
caso que absolveu o acusado e ainda realizou críticas ao feminismo.
Para Bourdieu, habitus é uma imposição
cultural que retrata o conhecimento adquirido e incorporado a um indivíduo que,
por sua vez, age e realiza suas escolhas com base neste conceito. Já o poder
simbólico é a ação de domínio exercida com base no capital simbólico, ou seja, no
acúmulo de recursos que destacam o indivíduo em meio a determinado campo, outro
conceito de Bourdieu.
Quando estes conceitos se associam, o
comportamento incorporado e o domínio dos que se destacam, é possível
visualizar com mais clareza a desigualdade estrutural que se faz presente no
Brasil e que, neste caso, focaliza a desigualdade de gênero.
Mesmo que não seja justificativa para os
crimes diariamente cometidos que se relacionam ao preconceito de qualquer tipo,
a colonização brasileira embasa o comportamento atual, de determinada forma, uma
vez que o machismo já é destacado nesta época, não necessariamente com esta
abordagem.
O fato de atitudes machistas já estarem
incorporadas na sociedade podendo nem ser percebidas pelo total, pode ser mais
uma vez reconhecido quando, além da absolvição ocorrer por parte da juíza
responsável, Laís Góes de Oliveira Silva, também ex-aluna da universidade, saiu
em defesa de Matheus apontando que não foi desrespeitada por ninguém e também
já pronunciou os discursos anteriormente citados.
Dessa forma, percebe-se a essencialidade de
discussão do habitus imposto e de como e por quem o poder simbólico
atua, uma vez que o ciclo machista estabelecido continua a acontecer dentro e
fora do direito no corpo social atual.
Isabella
Anjos - 2° Semestre – Direito
Diurno.
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