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domingo, 21 de abril de 2019

A pseudo ordem de Carvalho

No início do século XIX na França, o filósofo Auguste Comte foi o responsável por fundar o Positivismo, corrente de pensamento que tinha como objetivo descobrir e estabelecer leis gerais para a sociedade baseando-se na sucessão de fenômenos e suas similaridades, assim como existem leis para as ciências da natureza. Além disso, o pensamento positivista busca diagnosticar problemas nas instituições sociais que danifiquem a ordem, a fim de restabelecê-la assim que possível. 
À luz desse pensamento é possível estabelecer uma relação com as ideias do ensaísta brasileiro Olavo de Carvalho. Em sua obra "O Imbecil Coletivo", texto "Mentiras Gays", o escritor utiliza de uma lógica positivista de manutenção da ordem para explicar características da realidade dos homossexuais e tentar desmistificar o que ele chama de inverdades.
Olavo tenta convencer o leitor de que os homossexuais estiveram em posições de opressão diversas vezes ao longo da história, através de uma inversão de papeis e utilização de exemplos de ditadores cruéis supostamente gays. Ele também atribui caráter natural e necessário à heterossexualidade e coloca a homossexualidade no patamar de uma simples escolha, e dessa forma, defende que o preconceito é uma mera expressão de opinião que deve ser aceito por se tratar de algo inerente a essa opção sexual. Além disso, Olavo de Carvalho utiliza de uma argumentação baseada em conceitos biológicos de amadurecimento do corpo humano para fazer uma analogia desonesta entre homossexualidade e pedofilia.
Contudo, o discurso do escritor ignora completamente toda a discriminação sofrida por homossexuais ao longo da história e no cotidiano. A dificuldade de aceitação da sociedade brasileira em relação à população LGBTQ+ é demonstrada pela baixa representatividade de homossexuais em cargos políticos, ataques homofóbicos nas redes sociais e principalmente nos altos índices de homicídios de pessoas gays e trans. Olavo defende que o preconceito é apenas um exercício da liberdade de expressão, porém, esse preconceito é responsável por ceifar milhares de vidas apenas por uma opção sexual fora dos padrões da "ordem" social. Olavo alega que a homossexualidade é uma mera escolha, mas quem escolheria ser discriminado todos os dias apenas por se relacionar com um indivíduo do mesmo sexo?
Falta a Olavo compreender de que não se trata de uma escolha, um capricho e ou uma mentira, homossexualidade se trata de diversidade, afeto e principalmente, resistência.


Mariana Paz Formigoni Puentedura (Matutino) 

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