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sexta-feira, 29 de abril de 2022

Desordem e Regresso: análise da realidade brasileira pelo viés positivista.

    Ordem e Progresso. Retirada dos ideais positivistas, talvez seja a frase mais conhecida de todo o Brasil, estampada no maior símbolo nacional - a bandeira - desde a Proclamação da República, em 1889. 130 anos depois, é de se pensar que estaríamos no último dos três estágios propostos por Auguste Comte (não que isso queira dizer algo benéfico) mas aparentemente retrocedemos ao primeiro estágio, o que contraria a filosofia positivista da constante evolução.
    A Lei dos Três Estágios, proposta pelo sociológo e pai do positivismo, Auguste Comte, rege que a humanidade estaria em evolução e seria marcada por três diferentes etapas. A primeira, seria o estágio teológico, em que a sociedade seria guiada pelos deuses e pela mitologia, como exemplo, a civilização egípcia em que as ações eram baseadas por seres antropozoomorfos. Por conseguinte, o estágio metafísico, como dos gregos, em que a filosofia serviria de base para as decisões tomadas naquele período. Por fim, o estágio positivo, em que a ciência deveria ser a resposta para todas as coisas, sendo que, para Comte, este estágio é irreversível e o que toda civilização deveria almejar, mas que, segundo o mesmo, apenas certas civilizações europeias seriam capazes.

    Desde 2016, é possível observar uma grande radicalização política no Brasil, contudo, a eleição do candidato Jair Bolsonaro no ano de 2018, agravou o cenário vivenciado. Milhões de pessoas o veem como se fosse um deus, um messias, e baseiam toda a sua vida e suas ações inspiradas nele, como se fosse um faraó dos tempos antigos, e por isso é possível notar a semelhança com um primeiro estágio. Ademais, nada é visto de forma racional, nenhum de seus seguidores é capaz de raciocinar de forma coesa sobre o que ele diz, portanto, nem o segundo estágio é capaz de se averiguar. 

    Contudo, um traço muito forte do positivismo que é possível observar nestes indivíduos é o imediatismo, frequentemente observado nas "opiniões" transmitidas, em que não há qualquer tipo de análise acerca do que é repassado e portanto, em nome de manter a ordem e o conservadorismo, acabamos retrocedendo em coisas simples do cotidiano, como o reaparecimento de doenças arcaicas, extintas há décadas, devido a negação dos seguidores do então presidente em vacinar seus familiares, resultando em um retrocesso que vai à contramão do progresso pregado pelo positivismo.

Lorenzo Pedra Marchezi - Direito - 1º Ano - Noturno


terça-feira, 26 de abril de 2022

Produção em massa de bolos: uma análise existencial e social do Positivismo

 

A racionalidade pode, em determinados contextos, ser o regente equivocado da interpretação da existência. Na busca pelo pragmático, ela almeja localizar e identificar fatores lógicos – os quais, por essência, podem levar a imediatismos e à superficialidade. Para otimizar a projeção do postulado, tomemos como exemplo o  corpo humano. Pelo viés da lógica que almeja ser racional, ele pode – sem grandes dificuldades – ser interpretado unicamente como um conjunto sistematizado de órgãos e mecanismos funcionais integrados e essenciais para a vida. Contudo, a partir da perspectiva concreta (isto é, não somente racionalmente lógica), é notório que ele representa fatores que estão situados além dos domínios restritos de uma abordagem simplista, como, por exemplo, a própria essência etérea da alma.

Essa óptica restrita é facilmente expressa pela doutrina social e filosófica do Positivismo. Por ele, entende-se como um fenômeno metodológico e criterioso de interpretação, o qual tem como um dos princípios básicos a busca pela racionalidade em todas as instâncias – ainda que isso culmine no obscurecimento de parcelas essências do objeto de estudo. Ademais, essa doutrina possui a pretensão de, a partir dos fatores já mencionados, estipular condições “seguras” para o progresso social efetivo. Sob o risco de o leitor mais desatento já estar inserindo o título de “filiado à doutrina positivista” na sua biografia do Instagram, em virtude da maneira pela qual as informações foram apresentadas, reformulemos a visualização da perspectiva por meio de outra vertente (igualmente pertinente). Imaginemos uma receita de bolo intitulada de Bolo de chocolate mais gostoso que tem: o segredo pra conquista a muié. Os ingredientes necessários, bem como os procedimentos de realização do processo, são expostos de forma nítida (escrita), sintetizada (sem grandes complexidades), organizada (antes os requisitos e, em seguida, os modo de preparo) e, lógica (baseada em um padrão racional). O ato de seguir estritamente os procedimentos indicados tal como postos resulta, na melhor das hipóteses, em um bolo semelhante ao proposto em primeira instância – atendendo, ou não, à expectativa de ser o segredo para conquistas amorosas. Em contrapartida, o ato responsável pela adoção de procedimentos paralelos e, portanto, orientados pelo lado criativo e revolucionário pessoal pode culminar em, pelo menos, uma das três seguintes possibilidades: (I) algo intragável, (II) uma bomba nuclear, ou (III), na mais extraordinária raridade, uma descoberta gastronômica sublime. Tendo como eixo central o exposto, é preferível a (quase) certeza de um bolo bem sucedido, ou o risco eminente de produção de um artifício dos caos capaz de dizimar cozinhas? Para este humilde autor, a solução é veementemente óbvia.

Para além disso, retirando o quadro do âmbito metafórico para o concreto, o Positivismo, enquanto um fenômeno de regulação e orientação sociais, é o lábaro de progressos a partir da imposição de padrões, ou condicionantes sociais, os quais, em nome do zelo pelo bem coletivo – a sociedade –, devem ser contemplados invariavelmente. O principal subterfúgio que sustenta essa conjuntura de dever é a busca pela coesão social ou, pela configuração do exemplo desenvolvido, a produção massificada de bolos igualmente deliciosos que promovam em todos aqueles que os degustem sensações idênticas de conforto, autorrealização e felicidade. Ou seja, os meios de ação são os mesmos em prol de que os efeitos também sejam os mesmos e, assim, de que a homeostase do sistema seja regulada e assegurada.

A coesão simboliza o mais genuínos dos objetivos lógicos, na perspectiva positivista, justamente devido ao fato de culminar na articulação de indivíduos que, mesmo sendo naturalmente distintos, são convertidos compulsoriamente em iguais a partir do conjunto em que estão inseridos. Por serem iguais, as diferenças ideológicas e demais conflitos entre cada um deles são praticamente inexistentes. O equilíbrio flui de modo mais facilitado e, como conseguinte, os donos das confeitarias especializadas na venda de bolos irresistíveis e conquistadores não se preocuparão com mudanças na programação ou, em palavras mais adequadas para este contexto, alterações no cardápio.

Óbices reais e determinantes emanam, com o decorrer do tempo, de alterações subversivas no desenrolar da existência. Bolos memoráveis e extraordinários começam a surgir e, assim, a tão estimada estabilidade começa a ruir. Seria ingênuo e, até mesmo, irracional aguardar pelo contrário. Padrões de conduta – sejam eles os expressos pela moral, pela busca pela felicidade ou pela realização do trabalho  não simbolizam mecanismos eficientes de regulação social precisamente por serem problemáticos e incompletos da sua própria essência. Considerá-los e defendê-los, a partir e ao lado do Positivismo, seria – no mínimo – contraditório, por não ser uma atitude lógica e racional. O bem coletivo assenta-se justamente sobre o respeito àquilo que garante a diversidade: a pluralidade. Zelar pelo oposto – a padronização – consiste na forma mais eficiente de deturpação do respeito pelo indivíduo e, por integrá-lo, pelo coletivo.

A harmonia social encontra-se no ato de salvaguarda da essência humana, o qual, por excelência, implica a noção de que ela não é perdida com a inserção da pessoa no corpo social. Posto que, antes mesmo de ser parte de determinado todo (ou mesmo um produtor especializado de bolos), o indivíduo é humano e – como tal – merece ser submetido a tratamento digno (fato este que abrange, também, o respeito à sua subjetividade). Ao aceitar a predominância da padronização, a esperança do surgimento de inovações é dissolvida logo no anseio por melhorias, assim como a possibilidade de descoberta de estonteantes maravilhas “bolásticas”. Somos nós os responsáveis pela escolha dos efeitos que desejamos. 

Mario Augusto Monteiro Filho, Direito, Noturno.

Os três estágios

Segundo Comte, o positivismo surge afim de organizar a sociedade e sistematizar a moral, voltando-se sempre para o progresso. Desta forma faz-se a Lei dos três estágios sociais, teológico ou fictício, metafísico e positivo ou científico respectivamente.

No primeiro estágio (teológico), tem-se a primeira forma de explicar o mundo que nos rodeia, que parte de elementos religiosos e sobrenaturais, atribuindo divindade a objetos inanimados, como as civilizações politeístas e mais gradativamente às sociedades monoteístas, podemos observar uma linha evolutiva do pensamento religioso, pois esse modelo de pensamento tende a diminuir.

No segundo estágio (metafísico), convém chama-lo de estágio transitório, onde a filosofia passa a tomar o lugar da mitologia e religiosidade de forma gradativa, partindo parar explicações mais racionais, como os filósofos que partiam da própria natureza para explicar o universo, por exemplo Tales de Mileto que conclui que a origem do universo provem da água, o princípio da umidade que fundamenta o universo.

Após essa transição, temos o terceiro estágio (positivo ou científico), onde segundo o autor apenas algumas civilizações seriam capazes de atingir, considerado o último estágio irreversível do pensamento humano de maneira a nunca regredir, com o objetivo de explicar o mundo e reformar a sociedade afim de obtê-la de forma harmônica e coesa.

Chegando a física social, como ciência que trabalha elementos concretos, do ponto de vista do autor uma ciência pura, neutra e objetiva.

Jéssica Cristina Santos Bozi, 221226011, Matutino

segunda-feira, 25 de abril de 2022

OS POSITIVISTAS PRECISAM IR AO OFTALMOLOGISTA PARA OBSERVAR A REALIDADE CORRETAMENTE?

 

O positivismo é uma via de mão dupla. Pois se por um lado não há como discordar que suas contribuições para as ciências humanas, por outro essa corrente filosófica trouxe muitos problemas, principalmente para minorias sociais após o surgimento do darwinismo social.

          Auguste Comte é frequentemente considerado o pai da sociologia, pois foi o primeiro a estudar e dedicar um método para analisar a sociedade (ou pelo menos foi o primeiro que ganhou notoriedade ao estudar essa área), dedicando uma nova ciência apenas para compreender as “leis da sociedade”. Entenda “lei” não como norma jurídica, mas como as leis da física por exemplo, a comparação é tão apropriada que a sociologia quase se chamou física social.

          O método positivista entendia que a sociedade sempre estava se direcionando ao progresso pela ordem. Essa forma de entender o mundo encontrou adeptos no exército, que estampou em nossa bandeira os dizeres “ordem e progresso” ao mesmo tempo que exaltava o “passado retrógrado” usando as cores da casa de Orléans e Bragança para colorir a bandeira brasileira, o que é no mínimo um pouco confuso, mas se esse tipo de gafe fosse a única forma de errar dos adeptos dessa corrente filosófica ela não seria tão problemática.

          Não se pode dizer que o positivismo foi uma vítima de uma interpretação errada, pelo menos não no caso dos darwinistas sociais. Diferente do caso da filosofia de Nietzche que foi sequestrada pelos nazistas mesmo com a discordância por parte do autor, os darwinistas sociais apenas interpretaram a realidade aos moldes previstos pelo próprio positivismo, sendo uma influência para os nazistas ainda maior que a própria filosofia já citada.

          O positivismo não é a ferramenta mais precisa para interpretar a realidade pois ela só observa progresso, mas a humanidade sempre passa por episódios de decadência que precisam ser reconhecidos. Como a nossa situação atual, onde o debate é guiado por “pessoas isentas”, mas radicalmente adeptas a alguma ideologia, quando não estão mentindo abertamente no meio do debate. Vivemos em um tempo de decadência para o debate, para a política, para as instituições (que dormem furiosamente) e os atuais positivistas se assemelham muito com os adeptos do “império das bestas louras”. Um positivista que observa o mundo atualmente enxerga tão bem quanto quem usa óculos escuros quando se está de noite e sem nenhuma fonte de luz por perto.

O desafio do positivismo

 As ideias inicialmente proclamadas durante as revoluções de 1789 e 1830 não se desenvolveram como queriam seus pensadores por uma série de motivos. De um ponto de vista simplório, o homem seria incapaz de praticar a verdadeira fraternidade e liderar uma sociedade positiva por ser frequentemente perturbado por suas vontades primitivas de egoísmo, soberba e vaidade, indo contra os conceitos positivistas defendidos por Comte, deles, dois exemplos são simbolicamente estampados na bandeira brasileira: ordem e progresso. 

A razão humana se tornou embaçada com o desenvolvimento da sociedade, o caos e o fanatismo não permitem o pensamento lógico e atrasam o desenvolvimento da mente. De certo, muito se conquistou com o desenvolvimento da religião, contudo, não se faz justificável o seu uso durante o raciocínio positivo, uma vez que esse será material. 

O pensamento positivista busca levar o homem à seu maior estado de consciência, e para tal, exige do indivíduo disciplina e paciência que não é facilmente conquistada no atual estado da sociedade. O ritmo frenético do capitalismo contemporâneo leva o homem a se perder no seu dia-a-dia, sem tempo para refletir sobre a verdade do pensamento ou sobre o andamento da sociedade, e se o faz de maneira idealista e revolucionária, muitas vezes se vê preso em um sistema que foi há muitos anos consolidado para que possa rapidamente se derrubar. 

Pede-se controle, ordem, uma análise precisa e positiva dos fatos, e apenas a prática ao longo das gerações, com uma constante redefinição das normas será possível alcançar o positivismo defendido por Comte.

Positivismo: origens e consequências

 No século XIX, o mundo estava mudando; a burguesia se expandia e buscava hegemonia não só política, como também ideológica. Nesse contexto surge o Positivismo, fruto das ideias de Auguste Comte, o Positivismo visava sistematizar o conhecimento do mundo social. As ideias positivistas foram influenciadas por Francis Bacon, onde buscava-se o conhecimento através da observação. Pode-se dizer também que o positivismo foi a primeira sociologia. 

Embora o positivismo tenha trazido avanços, suas ideias geraram e ainda geram consequências problemáticas. Por exemplo: o positivismo visava produzir uma harmonia social. Essa harmonia seria alcançada através de um código de conduta para todos os cidadãos. Como é possível imaginar, isso viria a criar grupos marginalizados, que sofreriam perseguição por não cumprirem seu papel de seguir a moral estabelecida dessa sociedade.

A Ironia Positiva Brasileira

 

Ao analisarmos a proposta de Augusto Comte, mais especificamente as “Leis dos Três Estados”, percebe-se que o propósito do Positivismo é a busca quase infinda ao progresso intelectual. Este é o ponto de ironia em comparação à realidade apresentada no Brasil, pois é justamente uma contraposição ao discurso dos conservadores, que prezam por uma sociedade com costumes ultrapassados, divergindo da doutrina da sociologia de Comte.

Além disso, outro ponto de divergência é a indiferença com as camadas sociais e problemas da sociedade. Os conservadores, liderados pelo discurso positivo “Ordem e Progresso” da bandeira, priorizam majoritariamente a economia acima do bem-estar social.

POSITIVISMO E DOMINAÇÃO: ORDEM E PROGRESSO PARA QUEM?

 

A partir da necessidade de suprir questões sociais complexas concretizadas pelas grandes revoluções dos últimos séculos, Augusto Comte desenvolveu o positivismo, como uma teoria social capaz de sistematizar a desorganizada relação entre o desenvolvimento humano e a conservação de princípios.

 Apesar da teoria positivista soar, progressivamente, como o caminho à evolução máxima da humanidade, o que é possível constatar na prática é a predominância dos valores conservadores da sociedade em detrimento da evolução. Os ideais positivistas atualmente representam o embasamento filosófico sob os quais as classes dominantes se pautam, de modo a retardar a emancipação daqueles que podemos considerar vassalos ao domínio econômico.

A teoria proposta por Comte é falha na prática à medida em que sugere que as formalidades e a universalização das ideias de ordem e progresso em comunhão são possíveis em sociedades com interesses, costumes e princípios diversos. Entretanto, Comte traz grandes contribuições ao pensamento sociológico ao desenvolver a complexa relação entre o pensamento teológico e a metafísica, tornando possível a compreensão da necessidade da construção de uma filosofia e sistema pautado no desenvolvimento humano.

Porém, a ideia de manutenção da ordem em Comte, no mundo real, representa a conservação da dominação do homem pelo homem, em detrimento de qualquer movimento de subversão dessa ordem com intuito de democratizar a sociedade e emancipar todos os homens de amarras morais e materiais. Dessa forma, constata-se a utopia e manipulação construída através de tal teoria, que quando analisada em comunhão com a história da humanidade, mostra o sentido prático de manutenção da ordem como uma forma de controle das elites.

Positivismo no cenário militar: desordem e regresso

 

Durante a Idade Média, o cenário industrial evidenciou a explosão de crises sociais protagonizadas pela sociedade fabril. Nesse sentido, o advento e crescimento das indústrias foi a gênese da desordenada explosão demográfica e, consequentemente, da desigualdade social. Sob essa ótica, propondo como solução para esse paradigma caótico, Auguste Comte apresentou a teoria do Positivismo, a qual exaltava o progresso científico como alternativa para o desenvolvimento da sociedade. Sendo assim, a concepção positivista enfatizava o pensamento racional e sistemático como parâmetro para concretizar o progresso social, dessa forma, preteria o misticismo e a ordem teológica, aspectos que corroboram o regresso da humanidade. Tendo em vista que o positivismo constitui um sistema filosófico, ele procura estipular a máxima unidade na explicação dos fenômenos universais, evidenciando seu caráter dogmático físico e cético metafísico.

Primeiramente, Auguste Comte, na sua teoria dos três estados, ressalta a importância da história passar por uma gradual evolução, sendo submetida às sucessivas etapas lineares. Nesse viés, o memorável lema “Ordem e progresso” elucida a teoria comtiana em questão, assim, a ordem corresponderia ao artifício utilizado para firmar a inércia dos estados perante às revoluções e grandes transformações, já o progresso representaria a consequência inevitável desse cenário.

Ademais, outra marca do Positivismo no contexto brasileiro corresponde ao período da Ditadura Militar, visto que o autoritarismo e as desumanas e abusivas torturas, as quais infringem os direitos humanos, foram ambos justificados pelo positivismo jurídico, concepção ideológica que alega que as normas escalonadas são provenientes do Estado. Sob esse prisma, tendo em vista as situações anteriores, a norma jurídica é formalmente dotada de mecanismos que legitimam sua força obrigacional, sendo assim, em detrimento do positivismo jurídico, foram estipulados os Atos Institucionais, medidas que exaltavam a Ditadura, bem como justificavam as maiores brutalidades que violavam os direitos e garantias fundamentais.

Portanto, tanto o Positivismo jurídico como a Ditadura Militar buscavam garantir a segurança nacional, no entanto, os militares utilizaram dos mecanismos positivistas para legitimar os desumanos atos de violência, tortura e perseguição.

Pandemia: da concretude à alienação atrelada aos ídolos

 

Francis Bacon, fundador do método indutivo de investigação científica, foi um dos assíduos críticos da Filosofia Grega, escolástica e renascentista. Nesse sentido, a partir de uma análise empirista, Bacon propõe uma reforma do conhecimento, preterindo a lógica aristotélica, a qual não apresentava uma noção segura científica. Sob esse cenário, o filósofo afirmava que a existência de ídolos, ou seja, falsas noções intrínsecas na psique humana, intensificava a inércia da racionalidade humana, impedindo seu efetivo progresso. Traçando um panorama comparativo com a realidade contemporânea, pode-se citar a disseminação de “fake news”, tendo em vista que essas notícias falsas não só constituem o imaginário humano, corroborando a alienação e a vulnerabilidade à manipulação, mas também impedem a obtenção de um conhecimento verídico e validado pela racionalidade. A exemplo disso, é imprescindível salientar o caso relacionado às vacinas contra a COVID-19, no qual o negacionismo, fundado por notícias falsas, foi a gênese de movimentos antivacina no Brasil.

Segundo Francis Bacon, os ídolos podem ser divididos em quatro aspectos, sendo eles: os ídolos da tribo, os ídolos da caverna, os ídolos do foro e os ídolos do teatro.

Primeiramente, os ídolos da tribo constituem a própria natureza humana, originando-se nos preconceitos, limitações e em supostas verdades absolutas. Sendo assim, os ídolos da tribo simplificam as noções racionais e reduzem o complexo ao simples e, por consequência, concebem as irredutíveis superstições. Para elucidar essa definição de Bacon, é possível citar o caótico cenário pandêmico, no qual os indivíduos adotavam a equivocada premissa de que as vacinas que combatem a COVID-19 poderiam findar em resultados nefastos, invalidando seu verdadeiro propósito preventivo. Nesse viés, o movimento antivacina solidificou-se devido aos negacionistas ídolos da tribo (“fake News”), os quais foram instigados por indivíduos imprudentes que exercem influência sobre a população brasileira, tendo como lamentável resultado a morte de mais de 600 mil pessoas. Sob essa óptica, é notório ressaltar como a humanidade fica sujeita à manipulação e aos danosos efeitos das notícias falsas.

Outrossim, os ídolos do foro correspondem à tendenciosa arte de manipulação em massa por meio das palavras. Desse modo, a ambiguidade é promovida pelas distorções e pelas abstrações, as quais estão presentes em discursos proferidos por oradores parciais que, impiedosamente, manipulam seu público. Transpondo para o paradigma real, é possível enfatizar o irresponsável comportamento dos indivíduos que, sob um amplo domínio e influência, utilizaram das palavras para pregar não só uma visão deturpada da vacina, mas também para preterir a relevância da pandemia e do isolamento social. A exemplo disso, pode-se citar alguns líderes influentes que, a partir das notícias desvinculadas da veracidade, negligenciaram as irreversíveis consequências da COVID-19, tal como fez Jair Bolsonaro, o Chefe de Estado brasileiro, durante 2020 e 2021.

Portanto, o cenário pandêmico pôde elucidar o contexto redigido por Francis Bacon, evidenciando como a humanidade ainda está vulnerável aos ídolos e às suas falsas concepções de realidade. Logo, os homens ainda possuem um forte vínculo com os ídolos concebidos pela sociedade, comprovando que a humanidade é facilmente manipulada pelas notícias falsas e não possui autonomia suficiente para refutá-las e alcançar o conhecimento verídico e racional.

Progressos

    Como em um terminal rodoviário, com toda sua ordem e horários milimetricamente pensados e organizados, a ordem social existe e tudo que perturba o progresso de sua monotonia é considerado um atraso, tal como a mudança de horário de um ônibus.

    A corrente positivista, que tem Auguste Comte como importante pensador, buscou ao longo de muitos anos manter uma ordem social baseada apenas na ciência e na estática, a permanência de costumes, tal como explica utilizando-se das leis de Newton como analogia às regras imutáveis para explicar suas ideias  

    Em outra perspectiva, vale ressaltar que apesar de muitas figuras políticas e influentes ainda contribuírem com a disseminação de ideais conservadores, como a preservação dos “bons costumes”, que é um ideal muito semelhantes à lógica positivista e uma forma na qual o movimento ainda persiste na sociedade, é importante pensar que o ideal positivista de progresso é contraditório, pois conforme a sociedade avança, ainda que tratando-se da temática científica, surgem novas necessidades sociais, portanto é impossível que o progresso seja estático e com preceitos imutáveis.

     Desse modo, fica claro que as mudanças são parte fundamental na sociedade, sobretudo na conquista de direitos e ascensão de minorias e que a perturbação do meio tradicional faz-se necessária para que ocorra o real progresso: aquele que trás uma nova perspectiva ao usual, comum e tradicional. Portanto, como em um terminal rodoviário em que a mudança de horário causa um transtorno, as movimentações sociais ocorrem e mudam toda a trajetória daquela sociedade

Preconceito


O francês Auguste Comte é considerado o fundador da filosofia positivista. Ele acreditava que a história caminhava de forma evoluída a um determinado fim. Existiam 3 fases da história segundo Comte: (teológica, metafísica e positiva, ou seja, explicações dadas pela religião, filosofia e ciência).

O pensamento positivista seria baseado única e exclusivamente pela ciência, um pensamento que não erra, pragmático e técnico. Essa etapa positivista incluía o domínio da ciência e indústria, expulsão dos políticos metafísicos, ditadura republicana tecnocrática e ensino laico, público, gratuito e universal.

Hoje contestamos essa ideia, não associamos a religião ao atraso, associamos dogmatismo à ciência e que a ciência não é tão exata como pensávamos. Entretanto, essa visão de progresso eurocêntrica traz a ideia de que a Europa era um modelo a ser seguido. Ficar cada vez mais parecido com os países colonizadores. Um valor muito forte trazido pelo positivismo é a ideia de classificação entre sociedades evoluídas e atrasadas, o que justificou o imperialismo.

 

Positivismo perpassando diferentes períodos históricos

            A escola Positivista nasceu no início do século XIX, com fortes influencias de Auguste Comte que pregava o desenvolvimento de uma teoria social e filosófica de desenvolvimento constante da sociedade. Dessa maneira, para o autor, o positivismo abrangia os campos da política e da ciência, defendendo que tal teoria formulava um meio para que se atingisse o aprimoramento da sociedade civil. Para tanto, a ordenação e o avanço das ciências experimentais seriam indispensáveis para o desenvolvimento social da humanidade. Diante dessa necessidade de análise visceral da sociedade, Comte criará o desenvolvimento de uma nova ciência para o estudo da sociedade e que serviria como ferramenta para o positivismo: a Sociologia. 

           Tal método, a grosso modo, consiste na observação cientifica dos fenômenos socias, a saber, trata-se da aplicação do método cientifico sob a ótica da sociologia. Além disso, opõe-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da valorização, essencialmente, da experiência sensível, única capaz de produzir dados concretos (positivos) a verdadeira ciência (na concepção positivista), sem qualquer atributo que poderia atrapalhar na investigação da verdade. Atributos estes que poderiam ser teológicos, metafísicos ou mesmo inclinações pessoais. Submete-se, então, a imaginação à observação, tomando como base apenas o mundo físico ou material.  

            Ainda que o método tenha papel sine qua non no entendimento do Positivismo Comtiano, A ideia-chave, ou mesmo o princípio teleológico que norteia essa forma de análise é a Lei dos três estados, a qual o entendimento humano está em processo de formação e no futuro, formar-se-á por completo passando por três estágios em suas concepções, isto é, na forma de conceber as suas ideias e a realidade.  

São eles: o Teológico que o ser humano explica a realidade por meio de entidades supranaturais, buscando responder a questões de natureza absoluta por meio de explicações não racionais. Já o metafísico: é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade.  Em vez de Deuses, criam-se entes abstratos para explicar a realidade “O povo” “a política” “bons costumes”. A universalidade ainda é preponderante do que a explicação racional e metódica das coisas. Já o terceiro estágio, o positivo é a etapa final e definitiva, não se busca mais a causa das coisas, mas sim a maneira de como elas se fazem presentes, por meio da descoberta e do estudo das leis naturais, ou seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. Assim, a imaginação submete-se a analise concreta da realidade, limitando-se tão somente ao observável e palpável  

            Nesse sentido, podemos presumir o quão influente foi esse autor (e ainda é!) não somente na Europa, mas nas relações históricas brasileiras, tal como no ideal da República Brasileira e na sua futura efetivação, como também na formação da bandeira nacional. Outrossim, no âmbito do direito, faz-se presente a influência de Comte. Pois, este, versa sobre a ideia de ordenamento da sociedade e, o meio pelo qual se fará tal ordenamento será por meio das leis, normas e tratados. Ou seja, por meio do direito, ordenar-se-á a sociedade. Sob essa lógica, entende-se que o positivismo não somente influenciou o direito de outrora, mas perpassa até os dias atuais na formulação de leis, tornando-o atemporal e, por conseguinte, afetando diretamente a vida da sociedade. 


Positivismo na Sociedade Brasileira

   O Positivismo vem do séc. XVIII, foi uma corrente revolucionária, pois pautava suas ideias em fatos e teorias racionais. No entanto, não explica, plenamente, a sociedade, já que utiliza de estudos atemporais e considera existente as leis sociais, que assim como as leis da natureza, regem o mundo independentemente do período histórico e lugar analisados. Dessa forma, essa corrente é falha, porque a sociedade muda constantemente e variavelmente dependendo de cada estado e comunidade.

   No Brasil, por exemplo, foi incrementado o ideal positivista, seu lema, "Ordem e Progresso", está na bandeira. Porém, é nítida a falta de organização na política, em que os poderes legislativo, executivo e judiciário se misturam corriqueiramente. Além disso, muitos brasileiros e brasileiras ainda colocam sua crença acima da ciência, o que é completamente errado segundo o Positivismo.

Portanto, essa corrente não pode ser aplicada em qualquer lugar e período, pois cada estado evolui diferente da Europa, que é a base desse estudo.


João Olavo de Miranda Vieira, Direito-Noturno, 1 semestre.

 


 A transformação no método de se enxergar e entender uma sociedade 

Por muito tempo, o que constituía o pensamento humano, o que movia a sociedade, o que trazia conforto sobre a realidade, estava enraizado em conhecimentos desenvolvidos sem perspectiva cientifica, mas aquilo que se aprendia vivendo, conhecimentos que contribuíam para a construção de um pensamento social. 


Mitologia, deuses que traziam consigo o poder de controlar a natureza, de determinar as características de determinados seres. Religiões que traziam consigo suas noções de certo e errado, de como viver, enxergar e sentir o mundo, do que deve ou não ser feito. Experiencias adquiridas a partir das relações entre seres humanos e natureza. 


Tudo que não houvesse bases cientificas, todo o conhecimento acerca do mundo e de vivencias pessoas acabara de ser deixado de lado, o que é necessário para essa nova sociedade? Ir além, pensar além do individual, observar a sociedade a partir de uma única lupa, criar estereótipos e enquadrar tudo aquilo que conseguir, sem mudanças, sem superstições, o certo sobre o incerto, o progresso como consequência da ordem, a criação de uma moral que se sobrepõe ao indivíduo, que se torne universal, que o “eu” sempre, em qualquer hipótese, dê lugar ao coletivo, visando sempre a concretização da ordem, sacrificando desejos pessoais em prol do coletivo. 


Consequentemente, um estado com olhar positivista focado em interesses coletivos, se torna incapaz de atuar contra as adversidades da realidade social, tornando a ordem e o progresso, meras idealizações de algo que se encontra cada vez mais longe de se tornar real. 

 O positivismo surge com a ideia de ser uma “física da sociedade”, depois de Descartes e Bacon as ciências naturais sofreram um grande progresso, e graças as leis e equações de Isaac Newton a natureza pode ser dominada e entendida, cada vez mais. Essa nova ciência buscava garantir o domínio sobre o mundo social – em grande efervescência na época – e assim levar a sociedade ao progresso defendendo-a do revolucionarismo insustentável. Uma vez estabelecido esse objetivo, as ideias positivistas queriam garantir que o espírito humano se desenvolve ao máximo, por isso consideraram a teologia e a metafisica como estágios iniciais e já ultrapassados que agora seriam secundários para o desenvolvimento e progresso da sociedade.

Com isso os positivistas em geral buscavam coisas como: a formação de uma moral ativa e universal, aplicada aos agentes individuais e coletivos e dessa forma gerar a chamada “harmonia social”, além disso queriam moldar uma sociedade para ser solidária, mas essa solidariedade é para o bem geral dos indivíduos e não para o bem individual, é como se disséssemos, por exemplo: “Unesp acima de todos” – os estudantes deveriam repensar qualquer ação que prejudique de alguma forma a Unesp (representante física e figurada de todos os seus estudantes), sacrificando-se um pouco. Já que esse ato levaria ao bem geral seguramente seria um sacrifício nobre.

A partir dessa introdução vou desenvolver um pouco sobre como o positivismo está presente no contemporâneo utilizando alguns exemplos, no âmbito formal, onde de certa forma houveram alguns estudos de teorias filosóficas, sociais e políticas por parte dos indivíduos, podemos achar o positivismo com maior originalidade, contudo os exemplos que eu busquei estão presentes no discurso informal da internet e em todas as incertezas presentes nas redes sociais, além disso em nenhum momento palpitarei sobre quem está certo ou errado nos embates virtuais utilizados.

O positivismo está presente nos dias de hoje, tão quanto esteve na época de sua criação e talvez ainda mais, por diversas vezes podemos observar traços positivistas em discursos e expressões de opiniões ligados ao conservadorismo ou extrema direita - no dia a dia da população -, a imagem 03, e a imagem 01 que tratam sobre o aborto são exemplos. Sobre a primeira imagem, segundo o site de noticias "R7" que faz a analise de farsas e fatos que surgem na internet, determinou que a noticia era manipulada e que inclusive a data: 21/01/2022 não era verdadeira. Esse acontecimento - exemplo fiel do fenômeno "fake news" - evidência a presença de traços do positivismo que representa a conciliação da conservação com o progresso, dessa forma a perspectiva positivista muitas vezes condiciona os individuo à um olhar superficial, se existe um problema, esse deve ser imediatamente solucionado, se existe uma transgressão, essa precisa ser imediatamente remediada para manter a ordem no país, entre outras coisas desse gênero. Evidentemente existem traços positivistas, mas não é o positivismo puro, pois analisando a terceira imagem podemos ver que o discurso contra o aborto é baseado primordialmente na justificativa religiosa, se quer ponderando sobre causas, consequências e soluções, a solução é imediata - mesmo sendo uma ação imediata que é consequência implícita do positivismo, certamente o teológico não está sendo secundário frente ao racional -. 

Sendo assim, conclui-se que características positivistas estão presentes no conservadorismo, contudo, a esquerda não está isenta da influência desse “positivismo moderno” com seu modo próprio de atuação. A segunda imagem é de uma pessoa em certo nível influente – possui o símbolo de verificado do Twitter – e mesmo que alguém considere que exista verdades no que ela escreveu, o significado geral e a intenção da autora são evidentes e não só notoriamente especulativas, como também conspirativas. Com isso, ainda que a direita esteja sujeita a Fake News e pensamentos imediatistas, baseados em noções individuais, a esquerda não é heroica, pelo contrário, está sujeita aos mesmos erros e hipocrisias. Não é certo dizer que o positivismo é o fantasma que assola a modernidade, mas sim, as pessoas estão utilizando-se de características negativas do positivismo e potencializando ainda mais os potenciais de prejuízo delas.





Rodrigo Gabriel L Zanuto - Direito, noturno. 

A Nova Ordem Mundial

 

Era uma tarde gélida e meio caótica em meados de julho de 1985. Um mundo totalmente positivista, todos viviam sob ordem e progresso. Um homem está sentado a beira da calçada refletindo acerca de seu passado, mas chega um amigo seu e lhe cumprimenta.

-Amigo! Como tem passado esses dias frios?

-Nossa que prazer imenso te encontrar por aqui, os dias não tem sidos muito bons, mas a gente tenta relevar as situações ruins...

Logo após uma longa conversa, se despedem e vão seguir seus rumos.

O homem caminha até a biblioteca e tenta escolher um livro, mas todos são de histórias maçantes, criticas duras acerca da realidade, e nenhum deles se permite a escrita de uma ideia fantasiosa, a ficção nesses tempos, é estritamente proibida.

-Como se pode? -indagou o homem ao bibliotecário. Não se pode mais ser criativo, não se pode mais escrever sobre o que se pensa ou acredita, tudo é baseado nesse tal método, positivismo... o que se tem de positivo nisso?

-Meu amigo, você está enganado, lembre-se do nosso lema, ordem e progresso, as ideias são liberais, mas todas sob a ótica positivista, só assim poderíamos atingir tantas coisas boas na ciência.

-Mas o que é a ciência, se não uma indagação da própria realidade? Uma forma abstrata de pensar que possibilita tantas histórias e tantas outras ciências, porque toda essa bagunça de ordem, não há nada de bom.

-Eu não entendo amigo, como não consegue enxergar o quanto o método é bom e revolucionário? Todas as culturas unidas em uma só, não há espaço para discriminação já que somos todos iguais.

-Mas isso é um tanto contraditório, se não há espaço para diferentes tipos de pensamentos, o pensamento em si se torna algo extremamente redundante, não tem coisa nova

O homem desiste de argumentar e sai apressado da biblioteca, como num ato de tentar escapar daquela realidade. Ele decide ir para casa e deitar-se, acaba pegando no sono e começa a sonhar...

No seu sonho, ele vê um mundo em caos completo, indivíduos enfileirados, todos presos por grossas correntes, ele caminha até a fila e avista um ser no fim da fila com um chicote na mão açoitando os pobres coitados.

Ei! você! – disse o sujeito com o açoite na mão – Quem lhe deu permissão para andar livremente desse jeito? Não vê que o único caminho é nesse sentido, sempre pra frente, vamos, ande, não tenho tempo a perder com você.

-Espere, o que está acontecendo? Essas pessoas... elas não conseguem perceber que isso tudo é errado??

-O que você está dizendo? – disse uma voz no meio da fila – a gente tá aqui por conta própria, o nosso líder sabe o melhor pra gente, ele nos açoita, mas é para o nosso bem, só assim vamos saber o caminho certo a seguir, ordem e progresso sempre.

A mente do homem começa a colapsar, ele começa a delirar e sai correndo em direção ao vazio daquele sonho. De repente ele acorda assustado e levanta de súbito da cama. Vai correndo olhar a janela, e ver se não está mais naquele sonho. Ele então percebe que foi tudo coisa da cabeça dele, o mundo daquele sonho era todo caótico e cheio de ordem, o que era totalmente contraditório um lema daqueles. Ele observa o movimento da rua pela janela, e pensa “não seria possível que meu mundo pudesse ficar daquele jeito... será que eu tive uma premonição?’’

Gabriel Ferreira - Noturno


 

Xavier

Vinte e um dias de luto na vida da família de Xavier. Seu irmão mais velho havia falecido depois de um quadro pneumático decorrente da contaminação pela Covid. Xavier nunca concordou com a ideologia do irmão, Fábio, que acreditava ainda em uma interpretação retrógrada da sociedade em que estavam inseridos, apesar de das diferenças dos ideais políticos, que sempre gerava discussões, eles se amavam, muito.

Xavier deixou seu quarto apenas para pegar água, da maneira mais sorrateira possível, evitando o olhar julgador da mãe que rezava junto ao resto da família o típico Rosário da tradição católica. O garoto de 23 anos se negava a acreditar em um deus que permitisse tanta desgraça e ainda por cima negasse a se mostrar, apesar de ainda propagar o respeito ao pai e a mãe como virtude indispensável em sua vida.

Sentou-se em sua cama e ligou no noticiário local, não acreditava nos assustares números de pessoas mortas e na estabilização do quadro vacinal, os que não podiam se vacinar devido os que não queriam, por motivos religiosos ou conspirativos morriam através da propagação de novas cepas e maior propagação vírus. As pessoas iam para a praia e grandes festas, postavam fotos com enormes sorrisos, a felicidade não existia em meio àquele caos.

Bufou quando a novela começou e desligou a televisão, ao se reparar com o silêncio ajudou os pais com a arrumação da casa e deu adeus a eles para que pudesse dormir, seguiu para o quarto ainda atormentado de não ter novas notícias falsas ou reportagens parciais divulgadas pelo irmão no grupo da família.

Era tão simples em sua compreensão, como pode um comum ser humano querer abdicar do bem social, renegar a moral e ainda por cima protestar contra métodos provados da eficácia da vacina? Não era como se pudesse ver baleias na rua depois da campanha de vacinação.

Entretanto, de nada importava suas próprias divagações, as coisas já haviam acontecido e a formulação de novos “e se” prejudicava a ordem de seus pensamentos. Nada mais deveria sugar suas energias além da compreensão da realidade pelo que é visto. Fechou os olhos e virou de lado, em pouco tempo, adormeceu.


Bianca Lopes 
1º ano - Matutino

Ingenuidade na cognição social

 

Em uma primeira análise superficial da teoria positivista, nota-se que existem algumas ressalvas consideráveis do enunciado e ao associar tais ao contexto de produção do sociólogo, são, significativamente, promissoras, tal qual a proposição da superação de dogmas e estudo da sociedade. São proposições que, inicialmente, são tentadoras e “bonitas”, contudo, a questão problemática da teoria positivista de Comte está justamente nos meios que ele defende para alcançar tais objetivos e conseguir o almejado progresso da sociedade.

Diante disso, a teoria positivista assume em uma visão contextual atual até mesmo um posicionamento ingênuo e fantasioso sobre a sociedade, já que a tentativa de estudar a sociedade como se estuda uma ciência exata se enquadra no campo onírico, isso porque uma sociedade composta de organicidade, subjetivismos e construções identitárias individuais não pode ser estudada e concebida como um formulário de regras e funções. Por isso, tentar transformar uma ciência social em “física social”, embora seja um ímpeto de coragem, é, também, um ímpeto de ingenuidade, já que denuncia a forma de percepção limitada da sociedade.

Nessa mesma perspectiva idealizante, percebe-se que a superação dogmática proposta por Comte é um preludio interessante. Porém, a forma como tal a propõe é, também, ingênua e incompatível com a sociedade. Comte traz que o progresso humano só ocorreria mediante a ordem, logo, a primazia social deveria ser em manter a ordem de todas as coisas para contribuir com o progresso da humanidade, e dentro de tal progresso estaria a superação dogmática – ocasionada principalmente pela corrente teológica. Dentro desse panorama, percebe-se que, de fato, Comte não concebe a sociedade como uma comunidade de indivíduos heterogêneos, mas sim um conglomerado de seres humanos massificados, já que a sua visão propõe, de forma implícita, que os seres sempre serão iguais, sem mudanças, sem visões que se alterem ao longo do tempo, assim, a ordem seria facilmente mantida. Dessa forma, a perspectiva de ordem de Comte trouxe como efeito prático o fortalecimento do conservadorismo e retaliação, pela ala conservadora social, dos movimentos que questionem a dominação e ordem hierárquica das coisas, talvez – e deixo aqui um espaço registrado a uma possível ingenuidade da minha parte-- se Comte estivesse nessa sociedade moderna para atestar sua teoria foi deturpada e utilizada para outros fins, mudaria os meios de alcançar o progresso e defenderia a emancipação e revolução da sociedade.

1º ano Direito matutino

Julia Samartino

Controvérsias do Positivismo

     O positivismo sendo mais capaz que o conceito teológico-metafísico para organizar a sociedade e sistematizar, não só essa, mas também a moral, e, além disso,  com essa corrente sendo o último estágio do desenvolvimento do conhecimento, isto é, passando pelo teológico e metafísico, constata-se , assim, imperante sua função no método operante social. Assim, este texto visa apresentar duas questões acerca das bases positivistas.

    Em primeiro lugar, levando em consideração que o positivismo preza pela caracterização da ciência como ferramenta única e exclusiva para atingir o conhecimento e, ainda mais, que todo o somatórios dos conhecimentos científicos prévios seja realizado, é apresentado uma questão fundamental e principalmente de embate filosófico, ou seja, se a ciência é renovada todos os anos e não fica estagnada ou dependente do tempo ( atemporal ), aqueles conhecimentos anteriores tidos como científicos não mais representam a ciência elaborada atualmente, pois já não a são. Logo, se estes não são mais a verdadeira ciência ou a que é conceituada no tempo atual, então eles não seriam conhecimentos verídicos e, portanto, não poderiam ser utilizados para a fundamentação das posteriores.

    Em segundo lugar , outro princípio construtor da corrente positivista, principalmente pela visão de Francis Bacon, é a de que o mundo exterior ao indivíduo turva seu conhecimento e também que a contemplação não deve ser método válido para formar o que é verídico, porém a forma primordial que levou à construção da ciência , desde a história humana, é exatamente o olhar atento ao mundo que cerca o ser humano. A exemplo do acima exposto, a formulação de Newton sobre a gravidade. Assim, como seria possível fundar a ciência completa sem sequer observar aquilo que é demonstrado ao ser de forma natural?

Pedro Pucci Focaccia - Direito Noturno - 1 ano