Total de visualizações de página (desde out/2009)

segunda-feira, 28 de maio de 2018

Judicialização: Os dois lados da mesma moeda


Ao falarmos de cotas raciais, deve-se entender antes de mais nada, que elas representam um importante dispositivo para o logro de um corpo social mais isonômico , já que assim como as outras ações afirmativas, possuem a função de diminuir as distâncias enormes que existem entre ricos e pobres no país. No Brasil, foram 354 anos de escravidão- o último país das Américas a abolir a escravidão - nos quais a população negra foi massacrada, humilhada e torturada. Não obstante, no período após a abolição, nem sequer pensou-se em criar instrumentos de inclusão para essa população na sociedade, fazendo então com que saíssem das senzalas para as favelas, o que explana porque a maioria da população negra vive ainda em condições inferiores ao restante da população. Sendo assim, o que a história nos mostra é, o quão excluída e colocada a margem da sociedade foi essa população, e que a mesma vive até hoje os frutos desse período terrível
.
Ainda assim, mesmo com esse passado horrendo, que por si só já justificaria a necessidade da implantação das cotas raciais no país, o DEM, Partido Democrata, entrou com um ADPF( Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental), instrumento utilizado para tolher ou reparar dano a preceito fundamental consecutivo do Poder Público, alegando a implantação das mesmas como inconstitucional e levando o caso ao Supremo Tribunal Federal, justificando entre outros argumentos, o princípio da meritocracia, ou que tal ação acabaria por gerar a intensificação do racismo e da ideia de inferioridade do negro. Logo, após longa discussão o STF decidiu que a ADPF feito pelo DEM era incoerente, decidindo então, a favor das cotas. Ainda assim, ao colocar tal decisão em responsabilidade do STF, o DEM corrobora com o processo conhecido como judicialização, que em poucas palavras pode ser entendido como a transferência de poder de decisão de questões de grande repercussão social e política pelo Judiciário, e que antes ficava a cargo dos outros poderes.

Dessa forma, assim como afirma a jurista alemã Ingeborg Maus,  quando essas questões vão para o judiciário, cria-se a figura de um pai mítico, pois, a população passa a enxergar nesse órgão a solução de seus problemas que não foi encontrada nos outros poderes, muito provavelmente em razão da inexistência ou ineficácia das ações do Legislativo e Executivo. Assim, enquanto para Maus, o judiciário passa a agir como superego da sociedade, ou seja, construindo valores que serão  interiorizados pela população, para o Ministro do STF, Luis Roberto Barroso, a judicialização não só é válida, como é também positiva para a sociedade, tornando-a indispensável para garantir a efetividade dos direitos naturais.

Em suma, conclui-se que nesse caso, cotas raciais, foi imprescindível a atuação do Judiciário para resguardar esse importante instrumento. Entretanto, é necessário inquirir sobre os limites acerca da judicialização, pois, de fato em razão da falha ou inexistência da atuação do poder Legislativo e Executivo, é indispensável a atuação do Judiciário, no entanto, a aplicação dessas políticas pelos Poderes legitimados, são a forma ideal de efetivar tais direitos. Além disso, em relação as cotas, pode-se concluir que o uso da mesma é inescusável, e que não significa privilegiar um grupo em detrimento de outro, e sim minimizar a desigualdade de oportunidades. Outrossim, elas não criam o racismo, ele já existe, a cota é simplesmente uma medida contra o ele. Sendo assim, é necessário que ações afirmativas como as cotas raciais sejam implementadas no país, visto que o Brasil é um país com uma extrema desigualdade, e essas ações visam atender a necessidade de gerar uma composição social, étnica e racial na sociedade como um todo, gerando dessa forma, a verdadeira democracia, que é tão falada, mas que até aqui existiu apenas na teoria.

Bibliografia
Ribeiro, Djamila. Ser Contra Cotas Raciais é Concordar com a Perpetuação do Racismo. Disponível em: https://www.cartacapital.com.br/sociedade/ser-contra-cotas-raciais-e-concordar-com-a-perpetuacao-do-racismo-1359.html/>. Acesso em 28 de mai.2018

Jennifer Ribeiro - Turma XXV ( Noturno )

Nenhum comentário:

Postar um comentário