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domingo, 6 de abril de 2014

Um trabalho interior

"Sentir o universo é um trabalho interior" 


Monte Saint-Michel é parte de um conjunto de fortificações que, na Idade Média, marcavam o limite entre as fronteiras feudais. Por conta da sua localização e de seu relativo isolamento, servia como centro de defesa e convivência dos mais diferentes setores sociais, o que deu origem à heterogeneidade das cidades burguesas. De maneira análoga, a ilha francesa serviu ao filme Ponto de Mutação (direção: Bern Capra) como um foco ao qual diferentes histórias e ideias se encontram, entram em conflito e aprendem a conviver, isolando a si mesmos das influências externas e focalizando nas diferentes teorias, interpretações e percepções acerca da relação entre os seres humanos e entre estes e a natureza.
O filme trabalha a questão da parte e do todo. De um lado há a concepção que se inicia com os estudos de Descartes, criador do método dedutivo racional, e que se concretiza com as pesquisas de Isaac Newton. O paradigma Newtoniano-Cartesiano aponta que, para que o todo seja conhecido, faz-se necessário fragmentá-lo, o que criou as bases para a "especialização" do conhecimento, ou o saber que fica cada dia mais técnico, restrito. De outro lado, há o paradigma holístico (do grego "holos", todo), a ideia de que um sistema não pode ser limitado à soma de seus componentes.
A grande crítica de Ponto de Mutação está na necessidade de uma mudança de valores. Se a ciência representa a incerteza, o incompleto e o impreciso, há a urgência de deixá-la de lado e pensar no universo como um organismo vivo, o qual é sim composto por partes, porém interdependentes. Assim, Capra propõe uma nova forma de enxergar o mundo: não se pode pensar a economia distante da esfera social, ou esta aparte do âmbito da natureza. A teoria indica que os problemas de sistemas como a humanidade, da natureza, ou mesmo dos indivíduos está na falta de percepção do todo, uma vez que, na tentativa de trabalhar apenas uma das partes, não se leva em consideração o feito geral e a longo prazo. Com isso, o filme utiliza como metáfora as "partes" diferentes - a física (ciência), a poesia (arte) ou a política - interagindo depois de muito tempo isolados em suas próprias realidades, solidificando o que aponta a teoria holística: juntos sanam seus problemas, juntos se completam.

Sofia Lopes Andrade - Noturno

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