Cadê minha mamãe? Me esgoelava, gritava, me revirava, mas ela não vinha. Será que ela foi embora? Por que me abandonar? Foi quando de repente ouvi a porta do quarto abrindo. Sabia que ia ser ela. A porta se entreabria cada vez mais e minha expectativa só aumentava. De súbito pensei que fosse parar finalmente de chorar. A penumbra se esgotou e pude ver quem estava a vir. Era a Dona Lurdes. Quando mamãe cansava de mim e me abandonava era essa senhora que cuidava de mim. Voltei a gritar.
Ela me pegou no colo, me acariciou e me acolheu. Mamãe já vem, ela foi trabalhar. Só isso que sabia repetir.Mas o que era trabalhar? Nunca havia experimentado tal sensação. Conhecia o que era comer, brincar, trocar frauda, fazer xixi, mas trabalhar eu nunca havia conhecido sua ação, seu cheiro, e até seu gosto. E Lurdes repetia isso quase todos os dias.
Mais tarde me colocaram no meu acento à mesa. Ao fundo ouvia Lurdes discutindo com alguém sobre minha papinha. Ele não vai gostar nada dessa daqui. Claro que vai, é um sabor novo. Mas ele não gosta de coisas novas. "Dá" logo pra ele. Vou tentar.
Ela chegou com uma colher na mão repleta de uma substância diferente. Deveria ser a "papinha de outro sabor". Não queria abrir a boca, ela já havia falado que eu não iria gostar. Ela insistia. Usou até a frase mágica. "olha o aviãzinho". Sempre quando ela falasse isso aprendi que deveria abrir a boca. Mas dessa vez NÃO.
Ela voltou a insistir depois de um tempo. Eu não aguentava mais ficar lá sentado, mas não queria provar a asquerosa papinha. Ela insistia, insistia, insistia...................... ..................
Não tive como não EXPERIMENTAR.
Túlio Boso Fernandes dos Santos
Direito Matutino
Turma XXXI
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