A ação social, segundo Max Weber, é o conceito central de sua sociologia. Para ele, a sociologia deve compreender o sentido que os indivíduos atribuem às suas ações em contextos sociais. Uma ação só é verdadeiramente social quando leva em conta a atitude dos outros e é orientada por ela. Weber classificou as ações sociais em quatro tipos: racional com relação a fins (baseada em objetivos), racional com relação a valores (orientada por crenças ou princípios), afetiva (motivada por emoções) e tradicional (guiada por costumes enraizados).
Esse conceito é essencial para compreender como as práticas sociais se organizam, inclusive em contextos de dominação e exclusão. Ao interpretar o mundo social pela ótica dos significados atribuídos pelos indivíduos, Weber revelou que a sociedade é feita de ações intencionais e, muitas vezes, inconscientemente reproduzidas — o que torna possível que desigualdades estruturais sejam mantidas sem que os agentes se vejam como responsáveis diretos por elas.
É exatamente nessa linha que Silvio Almeida, em Racismo Estrutural, conecta a teoria da ação social ao funcionamento do racismo na sociedade moderna. Para Almeida, o racismo estrutural não depende da intenção explícita de discriminar, mas se expressa na maneira como as ações individuais e institucionais se encaixam em um sistema que já está racialmente organizado. Assim como Weber ensina que a ação social tem sentido dentro de um contexto compartilhado, Almeida mostra que os agentes sociais, mesmo acreditando agir com neutralidade, reproduzem o racismo ao seguir padrões e normas historicamente racializadas.
Por exemplo, quando um segurança barra uma ministra negra do TSE em sua própria palestra, como ocorreu com Edilene Lôbo, não se trata de uma simples falha individual, mas de uma ação social orientada por um padrão racial de suspeição. A decisão do segurança tem um sentido social construído: o corpo negro é associado à ausência de autoridade e à ameaça. Mesmo que ele não tenha consciência de estar praticando racismo, sua ação se encaixa perfeitamente em uma estrutura que produz e reproduz desigualdade racial cotidianamente.
Weber nos ajuda a entender que o mundo social é feito de significados e práticas habituais. Silvio Almeida amplia essa ideia ao demonstrar que os significados atribuídos à raça são históricos, desiguais e determinam quem é visto como legítimo em diferentes espaços. A ação social, então, é uma chave para compreender como o racismo estrutural se perpetua mesmo em sociedades que se dizem democráticas e igualitárias, pois mostra que o racismo não depende apenas de ódio ou má intenção, mas de ações sociais guiadas por lógicas racializadas invisíveis.
Portanto, o diálogo entre Weber e Almeida nos permite ver que as estruturas sociais racistas são mantidas por ações cotidianas, aparentemente neutras, mas carregadas de sentidos que perpetuam a exclusão. Isso reforça a necessidade de uma crítica profunda não apenas às atitudes individuais, mas às formas de organização e percepção social que sustentam o racismo como parte do funcionamento normal da sociedade.
Rafaela B. do Nascimento
Direito, noturno
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