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segunda-feira, 26 de maio de 2025

Imposição das Desigualdades

 Pedro Duarte Silva Sinicio Abib – Direito Noturno


Análise de Silvio Almeida, Raça e Rascismo, a partir do conceito weberiano de Poder


Para Weber, a ação social é toda aquela que diz respeito aos indivíduos em uma relação social, dotada de sentido subjetivo, presente diariamente em nossas vidas, instituições e no tecido social. A partir disso, cabe ao sociólogo a interpretação das ações sociais, buscando os condicionantes que as influenciam e explicam a maneira como se manifestam no mundo. Desse modo, busca-se compreender os motivos subjetivos por trás das ações sociais.

Em sua análise, Weber introduz o conceito de “Poder”, que seria a probabilidade de um ator impor sua vontade numa relação social mesmo com resistência. Ou seja, em uma concorrência de vontades provenientes de diferentes ações sociais, qual prevalece e por quê?. Com isso, Weber constata que uma ação social, por diversos fatores, pode se impor sobre outra e a condicionar, e passa a buscar entender os motivos pelos quais isso ocorre.

Ao analisar o texto de Silvio Almeida, Raça e o Racismo, sob a ótica do poder weberiano, é possível constatar uma construção histórica de narrativas racializadas, para justificar, normatizar e enraizar o exercício desse poder sobre determinados grupos. Como demonstra o texto, o conceito de raça surge em um contexto colonialista, para justificar as inúmeras ações desumanas contra os povos africanos e latinoamericanos, com um objetivo claro de classificá-los como intelectualmente inferiores para facilitar e explicar a imposição de suas vontades, ou de sua ação social (exploração de recursos), sobre os povos que ali viviam. 

Posteriormente na linha do tempo da história, esse método ainda foi repetido inúmeras vezes, como no neocolonialismo, no surgimento de teorias como o Determinismo Biológico e Geográfico, ou nos recentes ataques ao Oriente Médio, sempre utilizando de tratamentos diferenciados ou injustos (Discriminação) ou, em um contexo macro, da sistematização dessa discriminação racial (Racismo) para exercer poder sobre todo um povo, garantindo privilégios,  subalternidade e a imposição da vontade do grupo dominante.

Atualmente, como resultado de toda essa construção histórica, o autor traz dois termos fundamentais, o Racismo Institucional e o Racismo Estrutural, todos permeados pela dinâmica de poder weberiana com objetivo de segregar socialmente a população negra. O Racismo Institucional, que seria a representação, por parte das instituições que compõem nossa sociedade, da vontade e do poder dos grupos dominantes, perpetuando em nome deles, as desigualdades raciais. É o uso das instituições, por parte da elite branca, como mais uma forma de exercer poder e manter a exclusão racial, uso como exemplo o recente encontro do presidente norte americano Donald Trump com o presidente sul africano Cyril Ramaphosa, em que Trump utiliza de todo o aparato estatal, das câmeras, de sua equipe e do poder de influência de suas mídias, para espalhar discursos sem qualquer base científica sobre um genocídio branco na África do Sul, país que viveu quase 50 anos sobre o regime segregacionista do apartheid.

Já o Racismo Estrutural é mais complexo, são as formas de sua manifestação em toda a estrutura social, interligando instituições, práticas e formas sociais que reproduzem o preconceito, em um sistema auto reprodutivo. O Racismo Estrutural exerce poder de forma sutil, quase que invisível, uma vez que condiciona a ação social do indivíduo desde seu nascimento, formando sua percepção de mundo, normalizando práticas e perpetuando ensinamentos e crenças discriminatórias, uma construção social desde a infância que pautada em interesses e vontades das elites dominantes, condicionam e moldam as ações sociais dos indivíduos em formação intelectual, para que esses estruturas se perpetuem. Dessa forma, o poder aqui é difuso e sutil, preso a consciência, mas se manifestando no real, como na segregação espacial, no sistema carcerário ou no acesso a serviços de qualidade em nosso país.

Por fim, percebe-se, que o poder weberiano não necessariamente depende de uma verdade objetiva, ele pode se escorar e fundamentar em conclusões infundadas ou meias-verdades, desde que o grupo tenha capacidade para impor sua versão dos “fatos” ao restante do todo social. Assim sendo, percebemos que o Racismo e a Discriminação em nossa sociedade seguiram o mesmo caminho, foram impostos pelos grupos de maior poder e se consolidaram como um poder tanto simbólico quanto material, perpetuando suas vontades na imposição das desigualdades.


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