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segunda-feira, 26 de maio de 2025

A religião como mediadora da dominação racial: intersecções entre fé, carisma e exclusão

A religião, desde as primeiras sociedades humanas, desempenha papel central na organização social e na legitimação do poder. Max Weber destacou que a dominação carismática — uma das formas legítimas de autoridade — está intimamente ligada à figura do líder religioso, cuja autoridade é fundada na percepção de dons excepcionais e na fé de seus seguidores. No entanto, essa mesma fé, que pode servir para unir grupos, também pode ser utilizada para reforçar formas de exclusão, particularmente no que tange à racialização das relações sociais.

Silvio Almeida, ao discutir o racismo estrutural, mostra que as formas de dominação racial não se restringem a aspectos econômicos ou jurídicos, mas permeiam as dimensões simbólicas e culturais da sociedade, incluindo a religião. Muitas tradições religiosas foram, historicamente, cooptadas para justificar e naturalizar hierarquias raciais, seja por meio de interpretações teológicas que hierarquizam povos e raças, seja pela exclusão sistemática de grupos racializados dos espaços de poder e fé.

A interseção entre a autoridade carismática e o racismo estrutural torna-se evidente quando líderes religiosos utilizam sua influência para legitimar narrativas que reforçam a desigualdade racial, seja por meio da promoção de doutrinas exclusivistas, seja pela manutenção de práticas segregacionistas. Por outro lado, a fé e a religião também podem funcionar como espaços de resistência e construção identitária para grupos racializados, oferecendo recursos simbólicos e comunitários contra a dominação.

A análise da religião como mediadora da dominação racial revela o papel ambíguo da fé nas dinâmicas sociais: enquanto instrumento potencial de exclusão e legitimação de hierarquias raciais, ela também pode se transformar em espaço de resistência e afirmação identitária. Reconhecer essa dualidade é essencial para não reduzir a religião a um fenômeno monolítico, mas sim compreendê-la como campo de disputa simbólica e política. O desafio contemporâneo é, portanto, desvincular a autoridade carismática que sustenta a dominação racial das práticas religiosas, promovendo uma fé crítica e inclusiva que contribua para a superação das estruturas racistas. Assim, sob a luz de uma crítica contundente o diálogo entre Weber e Silvio Almeida nos oferece um caminho para refletir sobre como o poder se manifesta e pode ser subvertido nas intersecções entre raça, religião e autoridade, e dessa forma, nos desafia a romper com o conformismo e a repensar as bases sobre as quais nossa sociedade está construída.

                                                                                              -Elisama S. Braga, 1 ano Direito Matutino.

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