A dominação, enquanto exercício de poder sobre outros indivíduos, é um conceito central na sociologia de Max Weber, que a define como a probabilidade de encontrar obediência dentro de um grupo determinado. No contexto das sociedades modernas, essa dominação se expressa por meio de instituições, normas e práticas que organizam as relações sociais. Silvio Almeida, ao abordar o racismo como estrutura de poder em O que é racismo estrutural (2018), demonstra como a exclusão racial sistemática funciona como um instrumento de controle social, organizando quem deve ocupar quais espaços e sob quais condições. Desse modo, o racismo se apresenta como uma forma eficaz de dominação nas sociedades capitalistas contemporâneas.
Para Max Weber, a dominação se legitima de diferentes formas: pela tradição, pelo carisma ou pela racionalidade legal. Em todos os casos, a dominação pressupõe a obediência daqueles que estão subordinados, muitas vezes sem questionar as razões dessa obediência. No entanto, Weber também reconhece que a dominação não se mantém apenas por consenso: ela pode ser sustentada pela violência simbólica, pela manipulação ideológica e pelo controle das oportunidades sociais e econômicas.
Nesse sentido, Silvio Almeida argumenta que o racismo deve ser compreendido como um elemento constitutivo das estruturas de dominação. Para ele, “a raça é um fator organizador da vida social” (ALMEIDA, 2018, p. 20), e o racismo atua como mecanismo que estabelece fronteiras entre grupos sociais, delimitando quem pode acessar recursos, direitos e reconhecimento. Em outras palavras, o racismo estrutura relações de poder que se traduzem em práticas de exclusão e subordinação, funcionando como uma forma de dominação cotidiana.
O racismo, então, não é um simples preconceito individual, mas um sistema de controle social que determina posições sociais com base em construções raciais. Isso se revela, por exemplo, nas estatísticas que apontam a predominância de pessoas negras nas periferias, nos subempregos, nas prisões e entre as vítimas de violência policial. A sociedade, ao naturalizar esses padrões, reforça a ideia de que essas pessoas pertencem a esses espaços — o que leva à reprodução de uma dominação silenciosa e contínua.
Weber observava que a dominação moderna se tornava eficaz quando as pessoas não percebiam que estavam sendo dominadas, justamente por acreditarem que o sistema era racional e legítimo. É isso que ocorre com o racismo estrutural: as instituições (como a escola, o sistema penal, o mercado de trabalho e a mídia) operam com critérios aparentemente neutros, mas que na prática produzem desigualdades raciais. Como alerta Almeida, “o racismo se alimenta da aparência de normalidade das desigualdades que ele próprio produz” (ALMEIDA, 2018, p. 43).
No Brasil, por exemplo, jovens negros são sistematicamente vigiados, reprimidos e marginalizados, mesmo sem terem cometido qualquer crime. A chamada “guerra às drogas” é um reflexo disso: uma política pública supostamente voltada ao combate ao tráfico, mas que se traduz, na prática, na criminalização da juventude negra e periférica. Essa política seletiva reforça a dominação sobre grupos racializados, mantendo-os sob constante controle do Estado e excluídos das possibilidades plenas de cidadania.
A partir das reflexões de Max Weber sobre dominação e das análises de Silvio Almeida sobre o racismo estrutural, é possível compreender o racismo como uma estratégia eficiente de controle social nas sociedades modernas. Longe de ser um fenômeno isolado ou meramente ideológico, ele se insere nas instituições e regula o acesso a direitos, oportunidades e reconhecimento. Combater essa forma de dominação exige, portanto, não apenas denunciar práticas discriminatórias individuais, mas enfrentar as estruturas que sustentam e naturalizam a desigualdade racial em nossa sociedade.
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