Ao discutir a descriminalização do aborto
nos casos de anencefalia não vou me centrar em explanar sobre o avanço que foi
a decisão para com os direitos das mulheres, não por acreditar que esse assunto
já é consenso, mas sim por que infelizmente, até as conquistas em que acreditava
que estavam, pelo menos no que constitui o mínimo de avanço, solidificadas, a
sombra da ameaça conservadora beira sobre elas.
Sobre isso, impossível não falar
sobre a PEC 181. A ameaça a este direito adquirido não só mostra as
fragilidades do positivismo e do estruturalismo ortodoxo, mas sim a perspicácia
de setores que, ao conseguirem uma situação agora favorável, tentam derrubar os
direitos mais básicos. É possível enxergar essa movimentação não só nas vias
legislativas onde 18 homens escolheram sobre a vida de milhões de mulheres, mas
sim no esforço para legitimar essa decisão, que é de fato ancorado na religiosidade,
porém não menos preocupante tendo em vista o como a religiosidade ainda é um
fator capaz de desequilibrar as lutas negativamente. Ora, até a mim, que
mantenho um circulo de pessoas majoritariamente progressistas em minhas redes
sociais, chegaram, por via dessas, discursos a favor da horrenda decisão.
Tendo isso em vista, para a garantia
desses e de todos os outros direitos, mesmo aqueles mais básicos, é preciso ter
noção que o direito, por mais que esteja submisso a determinadas relações de
poder que são pouco fluídas, é sensível aos discursos e a consciência coletiva
de sua época, e lutar por ela é tão importante quanto lutar pelos espaços e
pelas relações de poder.
Eduardo A. M. Souza
Direito Noturno
Eduardo A. M. Souza
Direito Noturno
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