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segunda-feira, 27 de novembro de 2017

A Norma Culta como Capital Simbólico

“O poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo que o exercem.” (BOURDIEU, p.80) Posto isso, uma forma de manifestação deste poder simbólico é o uso da norma padrão da Língua Portuguesa, no caso, a norma culta. Como na citação, boa parte dos usuários não tem a consciência desta sujeição em relação a esta variante da língua, bem como de sua força simbólica na escolha deste registro em detrimento de outros. Nesse sentido, este saber, infelizmente, ficou reservado a um punhado de catedráticos da língua ou à própria elite.
A proposição que se quer defender aqui é a de que a língua é, por excelência, não só o instrumento de representação de poder, e mais, de uma classe dominante, mas também um meio de distinção dos estratos sociais existentes. Rodrigo Dias, em seu “blog,” apregoa que a cultura dominante contribui para a integração real da classe dominante, assegurando uma integração e uma comunicação entre os membros dessa classe e ao mesmo tempo distingue de outras classes, o que reforça o valor  tanto elitista quanto excludente da variedade culta.
É só com advento da Linguística que se buscou o desenvolvimento de uma educação  linguística para os usuários da Língua Portuguesa no sentido de perceber e de respeitar as inúmeras variantes deste idioma. E, ainda, a percepção para saber quando, como e com qual interlocutor dever-se-ia empregar a norma culta, dado o seu valor distintivo e classificatório no interior das relações sociais. Destarte, da mesma forma que ninguém vai à praia de terno e de gravata, assim também é com os usos dos  vários níveis de linguagem, visto que ninguém vai se referir a um magistrado do mesmo que se relacionaria com  um colega do dia a dia ou sem  a devida atenção ao emprego de certo registro condizente com a situação comunicativa em questão, com o rigor da situação, implicando numa inadequação da modalidade linguística usada quando da ausência do bom senso do usuário.      
A própria norma culta, calcada numa tradição, é um sistema estruturado, o qual articula o som ao sentido, como constatado na dicotomia significante versus significado (Nos estudos dos signos). A esse respeito o próprio Bourdieu, justifica seu valor enquanto sistema simbólico na medida em que ela só pode exercer um poder estruturante porque ela é estruturada, porque traz consigo o conhecimento necessário à natureza das coisas, ao seu sentido, bem como de sua origem, haja vista a divisão da palavra se iniciar pela menor partícula portadora de significado, a saber: os morfemas.   
Se de um lado, a norma culta, como símbolo, é instrumento da integração social, por outro lado, ela também serve como meio de exclusão social, pois na medida em que  integra os indivíduos, estabelecendo uma hierarquia nas relações e diferenciação destes, ela é excludente quando não é empregada nas situações formais, por exemplo: numa prova de vestibular em que sua falta de domínio resultará na exclusão do candidato do exame. Salienta-se que seus domínios não se limitam ao universo da fala ou da escrita, mas da própria compreensão textual, haja vista o emprego situacional e o nível de linguagem existente nos termos pedaço, trecho e excerto, o que requer certo conhecimento da língua, experiência de leitura e de mundo. Em verdade, o que se quer evidenciar é que, guardadas as devidas proporções, o emprego de determinado registro linguístico revelará o berço cultural do usuário.
Outra questão não menos relevante a considerar é o fato de que por ser a norma culta eleita para ser a norma-padrão no ensino de língua materna nas escolas, nos meios de comunicação, nas leis, nos decretos do governo, ela foi escolhida exatamente por representar os interesses da classe dominante; portanto, além das razões já expressas aqui em termos de distinção cultural, sua importância reside no fato de ser oriunda de lugares, como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, representantes do ciclo político-econômico brasileiro, iniciado no Nordeste, no período da colonização.
Finalmente, é desnecessário tecermos extensas ponderações, no que concerne à magnitude  simbólica de uma língua de cultura, como o português-padrão, pois já foi discutido com vagar. Nesse sentido, o que importa é a percepção do usuário da língua quanto ao emprego do português-padrão como símbolo de um grupo específico social; usado como ferramenta de exclusão sociolinguística. Assim, trata-se mais de uma questão política e cultural do que simplesmente a escolha de uma variante em detrimento de outras.
REFERÊNCIAS   BIBLIOGRÁFICAS:

http:/professornogueira.files.wordpress.com/2013/02/marcos-bagno-a-lc3adngua-de-eulc3a1lia-pdfrev.pdf Acesso em 27.11.2017

Nome: Luciana Molina Longati - Direito - Noturno -Turma: XXXIV

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