“O
poder simbólico é, com efeito, esse poder invisível o qual só pode ser exercido
com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe estão sujeitos ou mesmo
que o exercem.” (BOURDIEU, p.80) Posto isso, uma forma de manifestação deste poder
simbólico é o uso da norma padrão da Língua Portuguesa, no caso, a norma culta.
Como na citação, boa parte dos usuários não tem a consciência desta sujeição em
relação a esta variante da língua, bem como de sua força simbólica na escolha
deste registro em detrimento de outros. Nesse sentido, este saber,
infelizmente, ficou reservado a um punhado de catedráticos da língua ou à
própria elite.
A
proposição que se quer defender aqui é a de que a língua é, por excelência, não
só o instrumento de representação de poder, e mais, de uma classe dominante,
mas também um meio de distinção dos estratos sociais existentes. Rodrigo Dias,
em seu “blog,” apregoa que a cultura dominante contribui para a integração real
da classe dominante, assegurando uma integração e uma comunicação entre os
membros dessa classe e ao mesmo tempo distingue de outras classes, o que reforça
o valor tanto elitista quanto excludente
da variedade culta.
É
só com advento da Linguística que se buscou o desenvolvimento de uma
educação linguística para os usuários da
Língua Portuguesa no sentido de perceber e de respeitar as inúmeras variantes
deste idioma. E, ainda, a percepção para saber quando, como e com qual
interlocutor dever-se-ia empregar a norma culta, dado o seu valor distintivo e
classificatório no interior das relações sociais. Destarte, da mesma forma que
ninguém vai à praia de terno e de gravata, assim também é com os usos dos vários níveis de linguagem, visto que ninguém
vai se referir a um magistrado do mesmo que se relacionaria com um colega do dia a dia ou sem a devida atenção ao emprego de certo registro
condizente com a situação comunicativa em questão, com o rigor da situação,
implicando numa inadequação da modalidade linguística usada quando da ausência
do bom senso do usuário.
A
própria norma culta, calcada numa tradição, é um sistema estruturado, o qual
articula o som ao sentido, como constatado na dicotomia significante versus significado (Nos estudos dos
signos). A esse respeito o próprio Bourdieu, justifica seu valor enquanto
sistema simbólico na medida em que ela só pode exercer um poder estruturante
porque ela é estruturada, porque traz consigo o conhecimento necessário à natureza
das coisas, ao seu sentido, bem como de sua origem, haja vista a divisão da
palavra se iniciar pela menor partícula portadora de significado, a saber: os morfemas.
Se
de um lado, a norma culta, como símbolo, é instrumento da integração social,
por outro lado, ela também serve como meio de exclusão social, pois na medida em
que integra os indivíduos, estabelecendo
uma hierarquia nas relações e diferenciação destes, ela é excludente quando não
é empregada nas situações formais, por exemplo: numa prova de vestibular em que
sua falta de domínio resultará na exclusão do candidato do exame. Salienta-se
que seus domínios não se limitam ao universo da fala ou da escrita, mas da
própria compreensão textual, haja vista o emprego situacional e o nível de
linguagem existente nos termos pedaço,
trecho e excerto, o que requer certo conhecimento da língua, experiência de leitura
e de mundo. Em verdade, o que se quer evidenciar é que, guardadas as devidas proporções,
o emprego de determinado registro linguístico revelará o berço cultural do
usuário.
Outra
questão não menos relevante a considerar é o fato de que por ser a norma culta
eleita para ser a norma-padrão no ensino de língua materna nas escolas, nos
meios de comunicação, nas leis, nos decretos do governo, ela foi escolhida
exatamente por representar os interesses da classe dominante; portanto, além
das razões já expressas aqui em termos de distinção cultural, sua importância reside no fato de ser oriunda de lugares,
como São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais, representantes do ciclo
político-econômico brasileiro, iniciado no Nordeste, no período da colonização.
Finalmente,
é desnecessário tecermos extensas ponderações, no que concerne à magnitude simbólica de uma língua de cultura, como o
português-padrão, pois já foi discutido com vagar. Nesse sentido, o que importa
é a percepção do usuário da língua quanto ao emprego do português-padrão como
símbolo de um grupo específico social; usado como ferramenta de exclusão
sociolinguística. Assim, trata-se mais de uma questão política e cultural do
que simplesmente a escolha de uma variante em detrimento de outras.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
http://sociologiaeantropologia.blogspot.com.br/p/palavras-do-autor.html
Acesso em 27.11.2017
http:/professornogueira.files.wordpress.com/2013/02/marcos-bagno-a-lc3adngua-de-eulc3a1lia-pdfrev.pdf
Acesso em 27.11.2017
Nome: Luciana Molina Longati - Direito - Noturno -Turma: XXXIV
Nome: Luciana Molina Longati - Direito - Noturno -Turma: XXXIV
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