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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

Madame Satã: a conquista de direitos através da arte


“... é conhecidíssimo na jurisdição desse distrito policial como desordeiro sendo frequentador da Lapa e suas mediações. É pederasta passivo, usa as sobrancelhas raspadas e adota atitudes femininas alterando até a própria voz. Não tem religião alguma. Fuma, joga, e é dado ao vício da embriaguez. Sua instrução é rudimentar, exprime-se com dificuldade e intercala em sua conversa palavras da gíria de seu ambiente. É de pouca inteligência, não gosta do convívio da sociedade por ver que esta o repele dado os seus vícios. É visto sempre entre pederastas, prostitutas, proxenetas e outras pessoas do mais baixo nível social. Ufana-se de possuir economias, mas como não ofere provento de trabalho digno, só pode ser essas economias produtos de atos repulsivo ou criminosos.[...] É um indivíduo de temperamento calculado, propenso ao crime, e por todas as razões inteiramente nocivo à sociedade.”
                  É com esse discurso que o longa metragem “Madame Satã” se inicia. Falando da vida de João Francisco dos Santos, o filme irá tratar de questões que sempre serviram, no meio social, como forma de exclusão total desses indivíduos da sociedade. Pessoas assim como João: negro, pobre, homossexual, travesti, sempre foram vítimas da intolerância pautada em toda uma história de preconceitos e batalham dia e noite para obterem sequer o mínimo de espaço no mundo, fazendo com que sua voz seja ouvida. Seja essa voz sendo explicitada na arte, na luta e até mesmo da quebra de regras, como forma de romper com a ordem instalada, feita para compreender e responder aos anseios de uma classe dominante.
                Um filme que trata dos indivíduos marginalizados pelo meio social é de extrema importância para se compreender as formas de se conquistar os direitos já garantidos pela constituição à todas as pessoas, porém que não se cumpre. Vemos pessoas que não se encaixam no padrão estabelecido pela sociedade sobre o que é certo ou errado, e que automaticamente serão ignoradas, marginalizadas e violentadas de diversas formas. Madame Satã é um ícone de ressurgência, não só carrega uma profundidade personalística como também expele seus desejos de mudança, de conquista por um espaço livre. Livre de amarras ao preconceito, à intolerância, à justificativa racial de crime e desordem pautada em pensamentos repulsivos de superioridade.
                     É com o documento ADO 26 que será exigido legalmente que questões como a homofobia, sejam criminalizadas o mais rápido possível. Com a união de grupos que fazem parte da mesma realidade que João da Silva será possível questionar essa vivência sofrida que inspirou um contingente de pessoas significativo, e também, explorar quais são as razões que fazem com que essas pessoas compartilhem da mesma vivência. Apenas através da luta pelo direito de fato, irão se obter conquistas válidas que poderão fazer jus à todos aqueles personagens da historicidade que lutaram antes por essas mesmas concessões, por esses mesmos direitos.


Beatriz Dias de Sousa,  1 ano Direito - noturno

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