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segunda-feira, 7 de outubro de 2019

A Arte e o Direito nos movimentos sociais.




  Em setembro ocorreu na Unesp campus Franca a VI Semana de Sexualidade e Gênero pela iniciativa do Centro Acadêmico de Direito, além disso foi proposto nas aulas de Sociologia do Direito uma reflexão sobre as experiências compartilhadas no Cine-Debate organizado pelo Coletivo Casixtranha, relacionando o filme Madame Satã dirigido pelo cineasta Karim Ainouz e a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão nº 26 proposta pelo Partido Popular Socialista (PPS). A partir dessas atividades, promoveu-se a discussão sobre a questão do preconceito LGBT+, em especial a transfobia e a homofobia, integrando as influencias dos movimentos sociais tanto no Direito, quanto na Arte. Assim, a própria existência de espaços para esse tipo de discussão, principalmente no ambiente universitário, é a justificativa concreta da importância dessa ADO como expressão não apenas de uma luta contra os crimes que violentam a comunidade LBGT+, mas de uma abertura de diálogo e livre expressão dessas pessoas na sociedade, seja no âmbito político, jurídico, acadêmico ou artístico.

  Dessa forma, percebe-se tanto pelo filme quanto pela palestra do Coletivo a ilustração real das lutas e violências simbólicas do sociólogo francês Pierre Bourdieu, uma vez que os relatos da vida de travestis e transexuais nessas duas atividades são permeados de conflitos por espaço e capital na sociedade, uma vez que são violentados pelo poder simbólico dominante que limita o “espaço do possível” dessas pessoas por meio de todas as formas de violência LGBT+ citadas na ADO 26. A Arte é um ponto de semelhança entre o filme e o coletivo, pois tanto os palestrantes do Casixtranha quanto João Francisco dos Santos – figura retratada talentosamente pelo ator Lázaro Ramos no filme “Madame Satã” lançado em 2002 – atuam  buscando reconhecimento no espaço artístico com o estilo de dança Vogue e apresentações transformistas, respectivamente. O Direito é então influenciado, para Bourdieu devido sua autonomia relativa, pelos movimentos sociais das minorias e suas lutas simbólicas em  busca de segurança e liberdade contando também com o ambiente jurídico e o papel dos tribunais, como bem relatado por Michael W. McCann:

 “Quando os tribunais se tornam atores importantes, eles com frequência levantam os termos em que devem se dar as lutas, os múltiplos fatores que configuram o jogo, aumentando o acesso para uns e diminuindo para outros.” (MCCANN, 2010, p. 192)

  A partir do exposto, são evidentes os efeitos da abertura de diálogo sobre as necessidades dos grupos sociais violentados e marginalizados, produzindo efeitos em diversos campos sociais. As expressões artísticas ampliam ainda mais o espaço para a ação jurídica, pois aumentam a realidade que muitas vezes é invisível aos olhos de alguns. Isso é ilustrado, por exemplo, nas ações e diálogos do filme “Madame Satã”,  como na cena em que eles tentam entrar na boate "High Life Club" e são barrados pelo guarda que nega a entrada dizendo “Porque aqui não entra nem puta nem vagabundo.” e, por isso, é posteriormente enfrentado por João, que exclama “E tem algum desses nomes escritos na minha testa?”. Tal parte do filme relata muito bem a situação da comunidade LGBT+ tanto na sociedade da década de 30 quanto na do século XXI, já que esse tipo de violência se baseia em preconceitos e rotulações para desmoralizar essa comunidade e sua livre expressão humana coletiva e individual. Essa situação de opressão da liberdade é comparada nos dias de hoje com as recentes notícias de veto a filmes com temáticas LGBT+ pelo atual presidente , o qual já realizou afirmações absurdas como “O Brasil não pode ser um país do mundo gay, de turismo gay. Temos famílias”.

  Por fim, a esperança pela dignidade e respeito à comunidade LGBT+ é afirmada pelo Direito e pela Arte, os quais se atentam para a contemporaneidade da história real de Madame Satã, fazendo com que o João Francisco de nossos tempos seja reconhecido por ser o notável artista, transformista, cozinheiro, capoeirista e pai adotivo e não seja violentado com os preconceitos que permeiam a descrição policial "preto, pobre, homossexual". 
  

Júlia Jacob Alonso 
1º ano - Direito matutino 

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