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segunda-feira, 2 de setembro de 2019



É melhor morrer na luta do que morrer de fome. Essa é a frase mais famosa de Margarida Alves, trabalhadora rural e sindicalista assassinada a mando de latifundiários por lutar pelos direitos trabalhistas em plena ditadura militar. Oras, ela morreu em 1983, 5 anos antes da promulgação da nossa Magna Carta de 1988, poderíamos dizer que fazia parte de um contexto que não pertence mais ao nosso cenário de Estado Democrático de Direito, não é mesmo? Não, não podemos de forma alguma dizer isso, pois em Junho de 2019, Carlos Cabral Pereira, mais um trabalhador rural sindicalista, foi assassinado perto de sua residência. E não, não é um caso isolado, pois em 2017, a cada 6 dias, um ativista do campo era assassinado.
Veja bem, se lutar por direitos trabalhistas pode ser letal, imagina então ocupar a terra de quem muitas vezes é quem paga a bala que dá o tiro. É isso que o MST faz há décadas, ocupando, resistindo e acima de tudo, produzindo. Mas essa produção não interessa a grande máquina do sistema, porque o Brasil sempre serviu pra ser sugado até secar, primeiro no ouro, agora na terra e na água. Pra mandar tudo pro Hemisfério Norte, pros  países desenvolvidos, pra quem sabe, talvez, um dia, conseguirmos chegar a evolução deles, porque eles são a meta, claro.
Enquanto uma pessoa é dona de milhares de hectares de terra, pra exportar tudo que nela produz, milhares de famílias poderiam estar ali, cada uma no seu pedacinho, produzindo pra vender na cidade. Em qual das duas situações você enxerga patriotismo, meu caro? Poderíamos, inclusive, pensar: "coitado do fazendeiro, trabalhou tanto pra ter o dinheiro que tem, aí vem essas pessoas e roubam?" Vamos ignorar que provavelmente ele não trabalhou foi nada, herdou a terra do pai, que por sua vez herdou do avô e assim por diante... Vamos considerar que ele é muito esforçado e com o esforço conseguiu ficar rico, muito rico. Não é como se o MST fosse tirar ele da casinha dele, jogar ele na lama e deixar ele morrer de fome. 
Não é nenhuma Escolha de Sofia por parte do Estado, onde qualquer um que perder morre, pois o latifundiário pode até perder um pedaço dos seus milhares de milhares de metros quadrados de terra, que ás vezes ele nem usa, e, quando usa, usa mal, mas, quando você olha pro outro lado, aquelas famílias sem a terra, sem moradia, sem trabalho, estão sujeitas a fome e à criminalidade. O Estado, por décadas de “democracia”, nunca teve a coragem de enfrentar a questão por vias legais, mesmo que a Constituição preveja a reforma agrária, nem mesmo nas mãos de governos no quais a classe popular depositou esperanças de transformações, o porquê disso é evidente: trabalhador rural não financia campanha, latifundiário sim. O MST está buscando essa transformação com as próprias mãos, sendo demonizado e criminalizado, pois se ele esperar ação do Estado, ele vai ter que esperar sentado e com fome.
Os que argumentam contra os métodos do MST, devem acreditar muito que a Justiça é igual para todos, e por isso, não é necessário usar a força, a luta, o enfrentamento, pois só o Direito é suficiente. Então me digam: se o Direito é suficiente e serve a todos, quem matou Margarida Alves e Carlos Cabral Pereira? Em uma sociedade heterogênea, marcadas por injustiças históricas sangrentas que são legitimadas pelo poder judicial conservador que se curva aos interesses dos poderosos, os movimentos sociais têm que se fazerem vistos, têm que provar que nossa realidade não é a mesma da Europa e dos Estados Unidos e que temos que construir nossa própria história. O Direito até pode ser emancipatório, mas não é por natureza, para que ele seja emancipatório tem que ser moldado.


Lauriene Ellen Borges de Bem ( Noturno)

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