Positivismo: Ciência e imediatismo

Desde os primórdios de formação das sociedades primitivas, as mentes humanas buscam uma compreensão da natureza e de seus fenômenos. Posteriormente com a formação de sociedades um tanto mais complexas, surgiram indivíduos que buscavam a compreensão das mesmas, e também meios de torná-las cada vez melhores. Nessa perspectiva surge o positivismo, uma doutrina científica e industrial que tem por objetivo fomentar o progresso  das sociedades humanas, e que emergiu em meio a uma  realidade de mudanças revolucionárias na Europa.

Comte, autor do positivismo, enxergava o conhecimento como objeto em construção, no qual há estágios, sendo eles: o teológico, o metafísico e o positivo , sendo este  o último e também o clímax da sociedade , no qual as explicações sobre o mundo seriam produzidas através do método científico. Para ele, o positivismo dirige-se na ideia de que o conhecimento verdadeiro pode ser alcançado somente por meio da experimentação e da observação científica. Isto posto, a obtenção do conhecimento geraria um desenvolvimento científico responsável por gerar o progresso tão vislumbrado por ele.

Sendo assim é possível depreender que para a visão positivista a sociedade ideal seria aquela na qual vigora a ordem e o progresso, ou seja, uma ordem em que cada indivíduo cumpra o papel que lhe cabe, e que estes trabalhem para garantir-lhes seu lugar dentro do corpo social, e desse modo gerar o desenvolvimento científico e industrial, que para o idealizador dessa sociedade é o meio para se chegar ao progresso.

No Brasil, o positivismo teve grande influência durante a implantação da república. Tal fato tem sua máxima no próprio lema da bandeira brasileira: Ordem e Progresso. Tais palavras exteriorizam o pensamento da época, na qual a sociedade enxergava no positivismo o molde que faria o país alcançar seu desenvolvimento, que na prática significava apenas sua industrialização e não uma mudança social profunda

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Apesar de, de fato, ser possível afirmar, que o desenvolvimento cientifico é importante para a sociedade, o positivismo, entretanto não contempla todas as partes dela da mesma forma, muito pelo contrário, para ele existe uma harmonia na sociedade, mas que no entanto é gerada através de um deslocamento desigual dos indivíduos. Para mais, Comte entende, que essa sociedade somente poderá gozar da ordem com a condição de ter somente o mérito como condição de promoção. No entanto, a sociedade e os indivíduos que a compõem são complexos, o que torna a meritocracia insuficiente para organizar a sociedade, visto que durante a história, minorias sempre foram descartadas e colocadas a margem da sociedade. Posto isto, como é possível que pessoas em diferentes condições na sociedade tenham a mesma capacidade de chegar a um escopo em comum, sendo que umas sempre estarão a frente de outras, o que traz a necessidade de umas serem duas vezes melhores que outras.

Contrária a visão positivista, é possível trazer os argumentos utilizados pelos palestrantes da IX Jornada Inaugural “Marielle Franco”, que teve esse nome para homenagear a vereadora que lutava por questões sociais e que teve sua vida interrompida justamente por esse motivo, por questionar a posição que é imposta aos mais pobres, e reivindicar justiça. Dentre esses argumentos estavam o fato de que defender o trabalhador não significa prejudicar a economia, e que o humano é o protagonista das relações sociais. Dessa forma, notamos que o positivismo de Comte não enxerga o ser humano como o protagonista, para ele o progresso e  a ciência vêm a frente, juntamente com a necessidade dos seres humanos de se sujeitarem ao que lhes é imposto em detrimento desse progresso, que não necessariamente significa o progresso para cada um individualmente.

Em suma, é possível concluir que o positivismo, não possui uma visão realista e promovedora de mudanças profundas, já que o imediatismo proposto por Comte, pode solucionar uma questão no presente momento, mas que num futuro muito próximo se mostrará ineficaz. Ademais, essa doutrina possui uma visão simplificada de um corpo social complexo formado por seres humanos, que por natureza são complexos também. Portanto, é possível concluir que o verdadeiro progresso não está com seu alicerce fincado apenas na ciência, e sim na força humana de cooperar junto aos outros para fazer do meio em que vivem o melhor possível para si e para o outro.

Jennifer Ribeiro - Turma XXXV - Direito Noturno