De acordo com Émile Durkheim, "fatos sociais" consistem em maneiras de agir, pensar e sentir, exteriores ao indivíduo, e que são dotadas de um poder coercitivo em virtude desses serem impostos ao mesmo. Existindo à parte do homem, não podem ter outro senão a sociedade como seu substrato, caracterizando portando um fenômeno de estudo sociológico.
Ademais, o sociólogo defende a tese de que o indivíduo não possui capacidade de pensamento próprio, utilizando sempre de terceiros para a formulação de "suas" idéias. Desse modo, o pensamento do francês contraria a visão de Immanuel Kant, visto que esse acredita no "esclarecimento" do indivíduo, o qual é realizado na passagem da "menoridade" à "maioridade" racional, mediante a libertação das influências externas, com a construção de um pensamento livre e autônomo. Pois, se o homem não têm a possibilidade de construir um pensamento realmente individual, é utópica a idéia de esclarecer-se, rejeitando então tal raciocínio kantiano.
Durkheim, portanto, retoma a idéia de "tábula rasa" proposta pelo filósofo inglês John Locke, a qual, baseada no "empirismo", caracteriza a mente como uma "página em branco", sendo o aprendizado dependente primordialmente das informações e evidências absorvidas, sob às quais somos submetidos a partir do nascimento.
Kant afirma que a "menoridade" só não é vencida pela falta de coragem e determinação do indivíduo, dessa forma, coloca este como completo responsável por seu estado de ignorância. Todavia, em meio a uma sociedade implacavelmente tendenciosa e falsa, sob a influência da mídia completamente manipuladora, é incoerente que julguemos o homem da forma estabelecida pelo pensador. Como estamos sujeitos, todo momento, à influências alheias, além de todas as alternativas ao desenvolvimento do intelecto existentes possuírem matriz em opiniões e idéias customizadas, o pensamento durkheimiano torna-se mais verdadeiro do que nunca, refutando o pensamento de que em algum momento hemos de quebrar o ciclo doutrinativo previamente estabelecido pela sociedade.
À guisa de conclusão, é incontestável o caráter utópico da superação da "menoridade" proposta pelo filósofo francês. Assim, conclui-se que o homem não superou e nunca superará tal estado em que se encontra. Portanto, é de maior pertinência a reflexão acerca do pensamento crítico, do discernimento das discussões factiosas e da percepção dos discursos falaciosos. Pois, como é visto em "Ensaio sobre a cegueira", de José Saramago, a metáfora da "cegueira branca" encaixa-se nas relações intelectuais, denunciando a fragilidade ocasionada pela falta de "visão". Hoje, as pessoas encontram-se "cegas" em meio à tanta informação, à tanta distorção e tanta mentira. Cabe à nós, por fim, realizarmos o filtro das informações e não sermos ludibriados por tudo aquilo que observamos.
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