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segunda-feira, 23 de abril de 2018


      Nas bocas e ouvidos gerais, se ouve o ecoar de uma história de uma pobre moça com sonhos além daqueles os quais o sistema a fariam alcançar. Conformada com a vida miserável que tinha, seu nome era Macabéa – prazer moço(a), desculpa incomodar.  
      A moça em questão tinha apenas dezenove anos, pouco tempo de vida e pouco história. Macabéa vivia e pensava de maneira tão simples – e a simplicidade aqui vai além dos poderes aquisitivos, mas invade o âmbito do seu estilo de vida. O que fazia era comer, trabalhar, dormir, e vez ou outra se deliciar em pequenos prazeres. Mas tudo que fazia, fazia de maneira simplória. Comia mal e matava a fome noturna com pedaços de papeis para que pudesse dormir mal, tossindo e não entendendo a gravidade de sua tuberculose, e então acordar para trabalhar de modo alienado.
    A tal jovem trabalhava como datilografa numa empresa metalúrgica. Não sabia do que se tratava uma metalurgia e mesmo se soubesse, não entenderia o que isso teria a ver com o escritório que passava os dias ouvindo descasos do seu trabalho e recebendo menos que o salário mínimo.
    “Macabéa” em seu nome se trata de um personagem fictício, advinda do trabalho escrito de Clarice Lispector em sua obra narrativa “A hora da estrela”.  Trata-se de uma moça simples, com pouco vocabulário e entendimento de vida, que tem sonhos além do que o sistema capitalista consegue oferecer à sua vida singela.  
   Embora a obra não necessite, em sua magnificência, de introduzir o contexto de luta de classes , esta, considera-se presente ao longo de toda sua história. Sob a luz das discussões trazidas pelo filósofo Karl Marx, sobre a manutenção da infraestrutura, “A hora da estrela” nos trás uma vasta discussão de como da manutenção da infraestrutura e das relações de trabalho.
   E esta ilustração pode ser vista em diversas partes do texto. Seja o patrão da jovem, a figura burguesa que explora com a imposição trabalho mecanizado e alienado, mal pago. Seja com o breve namorado da moça que sonha em ser político (a chegada à superestrutura), despreza a garota, e em certo momento oferece-lhe um café com leite desde que pague a diferença do leite, ou principalmente com Macabéa, que compra do mundo os sonhos, destoa das relações sociais e só consegue encontrar a felicidade ante o sistema quando falece.


Thiago C. Checheto - Direito XXXV Noturno

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