Nas bocas e
ouvidos gerais, se ouve o ecoar de uma história de uma pobre moça com sonhos
além daqueles os quais o sistema a fariam alcançar. Conformada com a vida
miserável que tinha, seu nome era Macabéa – prazer moço(a), desculpa incomodar.
A moça em
questão tinha apenas dezenove anos, pouco tempo de vida e pouco história. Macabéa
vivia e pensava de maneira tão simples – e a simplicidade aqui vai além dos
poderes aquisitivos, mas invade o âmbito do seu estilo de vida. O que fazia era
comer, trabalhar, dormir, e vez ou outra se deliciar em pequenos prazeres. Mas
tudo que fazia, fazia de maneira simplória. Comia mal e matava a fome noturna
com pedaços de papeis para que pudesse dormir mal, tossindo e não entendendo a
gravidade de sua tuberculose, e então acordar para trabalhar de modo alienado.
A tal jovem
trabalhava como datilografa numa empresa metalúrgica. Não sabia do que se
tratava uma metalurgia e mesmo se soubesse, não entenderia o que isso teria a
ver com o escritório que passava os dias ouvindo descasos do seu trabalho e
recebendo menos que o salário mínimo.
“Macabéa” em seu
nome se trata de um personagem fictício, advinda do trabalho escrito de Clarice
Lispector em sua obra narrativa “A hora da estrela”. Trata-se de uma moça simples, com pouco vocabulário
e entendimento de vida, que tem sonhos além do que o sistema capitalista
consegue oferecer à sua vida singela.
Embora a obra não
necessite, em sua magnificência, de introduzir o contexto de luta de classes ,
esta, considera-se presente ao longo de toda sua história. Sob a luz das
discussões trazidas pelo filósofo Karl Marx, sobre a manutenção da infraestrutura,
“A hora da estrela” nos trás uma vasta discussão de como da manutenção da infraestrutura
e das relações de trabalho.
E esta ilustração
pode ser vista em diversas partes do texto. Seja o patrão da jovem, a figura
burguesa que explora com a imposição trabalho mecanizado e alienado, mal pago.
Seja com o breve namorado da moça que sonha em ser político (a chegada à
superestrutura), despreza a garota, e em certo momento oferece-lhe um café com
leite desde que pague a diferença do leite, ou principalmente com Macabéa, que
compra do mundo os sonhos, destoa das relações sociais e só consegue encontrar
a felicidade ante o sistema quando falece.
Thiago C. Checheto - Direito XXXV Noturno
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