“Por esse pão pra comer, por esse
chão pra dormir
A certidão pra nascer e a
concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me
deixar existir
Deus lhe pague (...)”
“(...) Por mais um dia, agonia,
pra suportar e assistir
Pelo rangido dos dentes, pela
cidade a zunir
E pelo grito demente que nos
ajuda a fugir
Deus lhe pague (...)”
Nessa canção, Chico Buarque expressa,
de forma irônica, gratidão pelas concessões dadas a ele para viver e, como ele mesmo diz,
suportar o que lhe é proposto para viver. É possível utilizar esses trechos
para enriquecer a reflexão acerca do Direito brasileiro, em que se deve colocar
em questionamento o que ele realmente é : conquista ou concessão?
Segundo os estudos de Marx e
Engels, a formação histórica e a estruturação das sociedades humanas são fruto
de um processo dialético em que se reflete o antagonismo de classes, e isso influencia
diretamente os valores, os comportamentos e as leis de uma sociedade. Sendo
assim, fica claro que o Direito também é descendente desse processo e reflete
essa constante luta de classes. Nesse sentido, observa-se , mediante a estrutura da sociedade
brasileira e do próprio sistema capitalista, que uma classe dominante detém o controle
sobre o aparato legislativo como uma das suas formas de dominação. Isso é
observado desde a formação das leis que
buscam manter o Satus quo do Brasil, até suas respectivas aplicações, que se
dão pela elite, já que o linguajar jurídico, além de outros ordenamentos como
vestimentas e o próprio regimento dos processos, restringem o Direito, seu uso
e sua interpretação a classes sociais mais elevadas.
Portanto, como se deve pensar que
os direitos, hoje garantidos aos cidadãos, foram frutos de conquistas? Sendo
que, claramente, há esse monopólio do Direito resguardado por classes
dominantes e que só tende a manter uma ordem social e um sistema econômico
vigente? É profundamente triste enxergar essa realidade... Historicamente, a
maioria dos direitos que os brasileiros têm se deram como forma de concessões para
que a ordem se mantivesse, ainda que estruturados em regimes democráticos, tendo como maior exemplo a Constituição cidadã de 1988 que concede inúmeros direitos mas conserva um arcaboiço de desigualdades sociais. Só
se resta “ser grato”, como foi Chico Buarque em sua canção, e lutar como propõe
o marxismo para superar essa situação de dominação que determina o
funcionamento do Direito e de toda a sociedade.
Música utilizada para a reflexão: https://www.letras.mus.br/chico-buarque/72896/
Alice Oliveira Silva
Turma XXXV- Direito (noturno)
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