Para Karl Marx, a causa estimulante das vicissitudes
históricas são, primeiramente, alterações nas bases econômicas de determinada
sociedade. Segundo Marx, a superestrutura está integralmente subordinada às estruturas
de produção. Portanto, as mudanças que se operem nestas bases, refletirão ideologicamente
na sociedade civil, alterando as relações sociais, os hábitos e a política. Essas
mudanças, por sua vez, são frutos de um conúbio conflituoso: tese e antítese.
Para exemplificar a influência dos
métodos produtivos, podemos fazer uma comparação das relações interpessoais em
tempos remotos:
imagem I
Imagem
I: exploração velada, o trabalho depende de fatores climáticos e a produção não
possui um valor meramente capital, ela é usada, em grande parte, para a
sobrevivência familiar. E as estruturas feudais são autônomas, não precisando,
necessariamente, de laços entre essas células (feudos). Como bem notou Georges Duby: ”o feudalismo é nada mais, nada menos
que o fracionamento da autoridade em múltiplas células autônomas”.
E, novamente, faço o
uso do pensamento de Duby para exemplificar que a cultura e as expressões
sociais são mutáveis: “A arte é a expressão da sociedade em seu conjunto: crenças,
ideias que faz de si e do mundo. Diz tanto quanto os textos de seu tempo, às
vezes até mais” – e esta mutabilidade é explicada por Marx,
quando ele afirma que elas são frutos da economia de certa época (então, quando
essa economia [infraestrutura] é
alterada, a superestrutura [cultura,
instituições, estrutura de poder político, papeis sociais, rituais e
o Estado.] se transfigura).
Já hoje, numa sociedade pós-moderna, as relações sociais estão cada vez mais líquidas,
como disse o sociólogo polonês Zygmunt Bauman. E, analisando essa sociedade por
meio do pensamento de Marx e Engels, essa superficialidade das relações é
oriunda da revolução burguesa – capacidade de se reinventar e alterar o que a
cerca. Isso é escrito por Marx no Manifesto do Partido Comunista da seguinte
forma: “A burguesia só pode existir com a condição de revolucionar
incessantemente os instrumentos de produções, por conseguinte, as relações de
produção e, com isso, todas as relações sociais”.
Ademais, com o surgimento do Toyotismo, após a segunda guerra
mundial, a forma de produção foi fragmentada em partes pequenas,
individualizado a produção e descentralizando a sede industrial, mas, da mesma
forma, formando um produto social (cada parte é feita em um local, formando um
material com colaboração mútua): está aí, outra forma de exploração, porém,
dessa vez, esta exploração não é velada, ficando evidente à capacidade da
burguesia reinventar os processos em que se dá a exploração.
Para finalizar, eu vislumbro que
chegamos ao ápice do capitalismo: são usados aplicativos para explorar o homem.
Um exemplo disso é o aplicativo iFood, que promove a propaganda de produtos
alimentícios, cobrando taxas dos comerciantes. Por esse meio, esse software tira vantagens até da burguesia,
cobrando impostos de franquias famosas e possuidoras de um grande volume capital,
como o Habibs, por exemplo. Se Engels e Karl Marx estivessem presentes hoje, eu
fio-me que eles diriam que o burguês, buscando o capital, explora até o seu
semelhante: o burguês. Mas, de qualquer forma, o arcabouço teórico que engloba
a essência do pensamento de Engels e Karl Marx não deixa de romper barreiras
históricas e estourar a bolha temporal que cinge a sua época.
Referências bibliográficas:
MARX, Karl. Para a
Crítica da Filosofia do Direito de Hegel – Introdução. Covilhã: LusoSofia
Press, 2008.
MARX, Karl &
Engels, Friedrich. O Manifesto Comunista. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1998
(Caps. I e II, p.07-44).
ENGELS, Friedrich. Do
Socialismo Utópico ao Socialismo Científico. São Paulo: Centauro, 2005.
BRUNO A. CURTI - DIREITO NOTURNO
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