Um dos principais
aspectos que permeia a obra de Marx é a luta entre classes. Tal
ideia propõe que as sociedades, em geral, lutam internamente entre
uma classe opressora e uma classe oprimida, mesmo que não percebam a
olhos vistos, num processo contínuo. Esta ideia, apesar de seus
defeitos, pode ser vista hoje em dia em muitos aspectos, e produz
muitas ondulações que afetam nosso cotidiano, como, por exemplo, no
polarizado e inócuo debate direita-esquerda.
Aprofundando tal
ideia, Marx identificava a classe opressora como a burguesia, maior
beneficiada pelo sistema capitalista, e o proletariado, como vítima
dos ideais burgueses. Para explicar o motivo das classes oprimidas se
conformarem com sua situação, Marx usa muito em sua obra o conceito
de alienação, isto é, a divisão do trabalhador do produto que ele
produz. Fazendo tal, o trabalhador se vê na necessidade de gastar
mais horas de seu tempo trabalhando para conseguir aquilo que produz.
Isto envolve também o problema moderno do consumismo, que prega que
as pessoas são aquilo que elas tem. Além disso, faz referência
também àquilo que Marx chamava de mais-valia. Nesse aspecto Marx se
mostrou revolucionário, pois em pleno século XIX ele viu estes
aspectos que se mostram muito presentes em nossa sociedade do século
XXI.
Outra das leituras
de Marx diz que a burguesia deve sempre reinventar os meios de
produção, a fim de se manter no poder. Fazendo isso, ela muda as
dinâmicas da sociedade antes que elas tenham tempo de se
solidificar, impedindo então uma tomada de consciência e, por
consequência, de mudança. Além disso, há também a questão da
força que o modelo de produção burguês usa para que todos os
países sigam tal sistema. Com a rápida mudança proporcionada pelo
sistema, há o barateamento cada vez maior de tecnologias e meios de
comunicação, e isso impele todas as nações a seguirem o sistema,
sob risco de ficarem para trás. Um exemplo que mostra isso nos dias
atuais é a questão da China e dos celulares. A China, apesar de se
dizer um país com sistema de governo socialista, tem o sistema de
produção capitalista a fim de não ficar para trás em relação a
outros países no aspecto econômico, inclusive suplantando-os,
mostrando o aspecto da força do modelo de produção. No outro
aspecto, o lançamento cada vez mais rápido de celulares da mesma
linha mostra como é necessário para o modelo burguês a ideia de
renovação, contrário a solidificação das coisas.
Karl Marx, na
segunda metade do século XIX, teve a sensibilidade de ler o mundo e
o cerne da cultura burguesa de forma que explica muitos aspectos de
fatos sociais que aconteceriam apenas dois séculos depois, podendo
ser considerado um visionário. Infelizmente, por questões
ideológicas, muitos não se atrevem a ler suas ideias e vomitam
preconceitos sobre o autor, seguindo a tendência de polarização
dos dias atuais. Tal preconceito, entretanto, não mancha a obra do
autor, e mesmo que ela contenha erros, qualquer preconceito baseado
neles é apenas mesquinharia, haja vista o número e a complexidade
dos acertos do autor.
Gabriel Reis –
Direito Noturno
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