Há mais de 2 milênios, “A república” de Platão nos
apresentou uma visão idealista de sociedade utópica que se baseava em
estamentos para a plenitude de sua harmonia, sua utopia elaborava uma estrutura
hierárquica de classes em que a classe governante seria composta por reis
filósofos, detentores de conhecimento sobre o bem, o belo e o justo. A
conceituação da utopia de Platão foi criticada contemporaneamente por Aristóteles
e posteriormente por inúmeros filósofos, ambos os críticos não concordavam com
a ideia de legitimar o controle da
unidade social por um grupo dominante, mesmo esse sendo capaz de tamanha responsabilidade,
tal critica viria a se confirmar com o decorrer da história e com a instituição
do capitalismo.
Em 1866 é publicado “Crime e castigo”, obra de Fiódor Dostoiévski
que reflete a sociedade russa do século XIX e também diversas outras sociedades
que foram afetadas pela práxis capitalista, Dostoiévski nos põe em meio a uma
sociedade desgastada pelas desigualdades sociais e econômicas em que um jovem
estudante de Direito, chamado Raskólnikov, se vê obrigado a largar seus estudos
e cometer um crime após chegar a completa miséria, sem perspectiva positiva alguma
para sair de sua situação. A obra de Dostoiévski além de nos mostrar quão
injusta pode ser uma sociedade desigual como essa também nos apresenta a
principal ferramenta de manutenção social e de dominação, o Direito penal como
solução a problemas sociais advindos de um cenário econômico como esse.
No decorrer do livro vemos como o protagonista é perseguido
pelo polícia sendo considerado o indivíduo mais prejudicial aquela sociedade, o
Direito como atua hoje também age desta maneira, sua prática procura manter
delimitado a relação de poder entre as classes, beneficiando quem possui uma posição
social prestigiada e marginalizando aquele que não possui bens, conhecimento e oportunidades
de crescimento social e econômico O Direito segue de maneira a conservar a
estratificação social e manter a classe detentora de conhecimento e de bens no
poder, cedendo direitos básicos com o fim de não incitar a uma desordem generalizada
entre as classes.
O capitalismo como o existente hoje se molda e transforma para
sua própria perpetuação, as relações se desenvolvem e mantém seu caráter de dominância,
porém como Marx e Engels elaboram em seu materialismo dialético, devemos levar
em conta o cenário concreto para a compreensão da realidade, com isso vemos que
caminhamos para uma sociedade mais desigual em um mundo cada vez mais limitado
de recursos, como explicita Josué de Castro em sua obra denominada Geopolítica da fome , “as sociedades estarão
radicalmente divididas em apenas dois grupos de indivíduos: o dos que não comem
e o dos que não dormem; não dormem com medo dos que não comem". Esse
cenário indica a iminência de um
conflito entre as classes ou talvez até mesmo de uma revolução.
Carlos
Alberto Lopes Lima - Turma XXXV - Direito Noturno
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