Dentro
de uma análise marxista, toda a vida em sociedade, com o início da Modernidade
e a ascensão da burguesia, passou a se resumir no modo de produção capitalista,
bem como a ser explicada por ele. Ou seja, a produção se tornou a base da ordem
social. Com isso, as antíteses se aprofundaram, e o Direito surgiu como uma
síntese entre os dois polos dessa antinomia. Entretanto, o decorrer da história
comprovou que tal aparelho não é o espelho da dialética, mas sim um instrumento
legal com a finalidade de proteger o Capital.
Com
intuito de explicar como o Direito funciona a fim de salvaguardar o Capital
pode-se utilizar a teoria de Louis Althusser, filósofo francês com bases
marxistas. Segundo um minucioso estudo feito por Althusser, o capitalismo só se
sustenta, pois serve-se dos Aparelhos Repressivos e Ideológicos de Estado para
propagar sua ideologia. Isto é, toda formação
social é resultado de um modo de produção dominante, e funciona
reproduzindo os meios de produção, as forças produtivas e as relações de
produção existentes. Portanto, o Direito, como um aparelho ideológico de
Estado, tem o papel de disseminar e perpetuar a ideologia da classe dominante,
assegurando de tal forma a total dominação - sobre todas as esferas da vida de
cada indivíduo - do Capital.
Por
outro lado, os que acreditam que o Direito é sim o espelho da dialética afirmam
que os aparatos jurídicos tiveram papel crucial na síntese dos interesses tanto
da burguesia quanto do proletariado, como por exemplo na conquista dos direitos
trabalhistas e muitos outros direitos sociais. Contudo, esses progressos foram
adquiridos somente em razão da necessidade de o Capital eliminar as ameaças
que, se não controladas, poderiam ser um perigo para sua continuação. Exemplo
de tal verdade, é que as maiores vitórias em relação aos direitos sociais se
deram após a Segunda Guerra, período no qual o capitalismo se via fortemente
ofendido pelo Socialismo implantado na URSS. Além disso, depois de tantos anos
de perpetuação, sem seus inimigos, o Capital não se vê mais obrigado a conceder
esses direitos e até vem retirando- os. Tal fato fica evidente quando se olha
para o que vem acontecendo em todo o mundo, fim do Estado de Bem-estar na
Europa, a precarização cada mais acentuada do proletariado – tão bem analisada
na obra “Precariado” de Guy Standing - entre outros tantos.
Em
última análise, o que Marx pensou ser um futuro iminente – a tomada do poder
pelo proletariado – vem se mostrando cada vez mais utópico, uma vez que componentes
dessa classe vem formando uma nova, denominada Precariado. Ou seja, na voz de
Standing, se trata de uma massa disforme de pessoas que tiveram todas as suas
garantias arrancadas por meio do Direito, e que, por isso, são completamente
alienadas e anômicas, incapazes de representar um risco a esse capitalismo que se reinventa a todo minuto,
criando novas forma de exploração e jogando cada vez mais indivíduos nesse novo
grupo. Por fim, o Direito não está a serviço da população, mas sim, do Capital,
que o utiliza de forma quase impecável para se eternizar no poder, mantendo
cada vez mais distante a possibilidade de uma realidade menos desigual.
Débora
Cristina dos Santos – 1º Ano, Direito Noturno
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