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segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

As possibilidades de um direito relativamente autônomo

Para Pierre Bourdieu, o campo jurídico é dotado de uma autonomia relativa. Isto porque, apesar do campo jurídico se distinguir por engendrar as relações de poder, o direito não é uma ciência apartada da realidade e que não se relaciona com outras ciências.

Essa autonomia relativa do campo jurídico fica evidente no caso julgado na Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 54, a qual trata da interrupção da gravidez de feto anencéfalo. Sobre essa questão, a ADPF declara a inconstitucionalidade dos artigos 124, 126, 128, I e II, do Código Penal, interpretados a ponto de abranger a antecipação terapêutica do parto de feto anencéfalo.

No caso julgado nota-se a relação entre o campo jurídico – julgamento em si – e o campo científico – laudos médicos provando a anencefalia. Nesse ponto, mostrando que o direito não é uma ciência isolada, o entendimento de Bourdieu acerca do direito – que pauta sua crítica a Kelsen e seus seguidores  é ressaltado.

Segundo Bourdieu, o direito atua dentro do chamado espaço dos possíveis. Tal espaço corresponde às possibilidades do direito, as quais são limitadas ou ampliadas pela razão e pela moral. Quanto a isso, a descriminalização do aborto de anencéfalos indica uma ampliação do espaço dos possíveis a partir da ciência, já que, atualmente, “no caso da anencefalia, a ciência médica atua com margem de certeza igual a 100%”. Para a Dra. Maria José Fontelas Rosado Nunes (professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq e diretora da Organização Não-Governamental Católicas pelo Direito de Decidir), a sociedade brasileira já chegou num consenso ético de que cabe à mulher decidir quanto a gestação e ao próprio corpo. Mas, por outro lado, a restrição aos fetos anencéfalos ocorre, justamente, por conta da moral do tempo presente, ainda influenciada por preceitos religiosos.

Apesar de reconhecer a relação do direito com outras ciências, Bourdieu salienta a autonomia do campo jurídico. Na ADPF, por exemplo, o eixo da determinação corresponde ao direito definindo o que é vida. Sendo assim, a própria estrutura jurídica condiciona os termos da discussão, evidenciando o poder simbólico do direito, sua autonomia e, até mesmo, sua superioridade.

Isabela Ferreira Sastre
1º ano Direito diurno

Sociologia do Direito – aula 3.1 

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