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domingo, 18 de agosto de 2019

O direito e o discurso de classe


            Apesar de, segundo Bourdieu, o direito estar majoritariamente a serviço da classe dominante, os magistrados possuem o papel de introduzir mudanças que o renovam, impedindo que o discurso (ideologia) dessa mesma classe prevaleça.
O machismo, tendo como característica ser o discurso de uma classe dominante, impediu historicamente que a mulher tenha autoridade sobre seu próprio corpo, gerando como uma das consequências a proibição e criminalização do aborto pelo Estado. Em contraponto a esse discurso, emerge o movimento feminista, clamando pelos direitos das mulheres. E como uma das conquistas recentes desse movimento no Brasil, fora levado ao Superior Tribunal Federal a questão da descriminalização do aborto nos casos os quais o feto é anencefálico.
Pressionada por esse movimento, a magistratura cumpriu seu papel de inovar o direito, legalizando o aborto de fetos anencefálicos, libertando a mulher de abuso psicológico e físico. Em consonância com seus cargos na magistratura, a maioria dos votos deu-se a favor dessa mudança justamente pelos ministros entenderem que ela compreendia a ampliação de direitos de grupos socialmente minoritários, não se submetendo ao discurso dominante.
Além disso, vale se ressaltar, analisando os votos de cada ministro, a presença das características da universalidade e neutralidade, as quais Bourdieu explicitou em sua teoria. A universalidade, que versa sobre a autoridade que o direito possui ao se aplicar a todos, e a neutralidade, sobre o voto de cada ministro não aparentar ser uma expressão de sua vontade própria, mas sim, algo que lhe foi “revelado” ao analisar o caso racionalmente.

Paula Fávero Perrone 1° ano - matutino

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