“O trabalho dignifica o homem”, desde cedo me diziam. Talvez o trabalho digno. Pecado
é a preguiça, mas o burguês recebe benção divina. A herança que resta ao
proletariado são os calos. Ao capitalista a alegria, provavelmente por saber
que vai aproveitar sua aposentadoria.
O capitalismo é flexível. As classes todas correm riscos. O
rico, porém. possui reservas, o pobre possui lacunas. Lacuna no estômago,
lacuna na cabeça, lacuna na esperança. “Não se planejou”, disseram. “Agora se
reinvente”.
O refúgio às vezes vive contigo. Asse pão, venda o armário e
dirija para aplicativo. Perdeu os direitos trabalhistas pelo qual lutou, mas tem
o que comer. Ai se adoecer, vá ao médico mesmo que o atestado não lhe livre da
labuta independente – de insuficiência basta a assinatura na carteira. “Faça o
dinheiro trabalhar para você”, li na revista da sala de espera.
A realidade é instável com ilusão de segurança. Até o primo
com diploma vem sofrendo com mudanças. Sua companhia agora terceiriza,
colocando o emprego de todos em jogo. Ou já pode distribuir currículo ou aceita
trabalhar por pouco.
Santificam os pobres depois da morte, o que oferecem em vida
é abstrato. Do pó viemos e a ele voltaremos, mas não se vive de poeira. Se os
garotos quiserem abandonar os estudos para trabalhar, não sou exemplo. Um cliente
disse que o conhecimento é capaz de libertar ao homem. Talvez o homem que não
teme a fome, a mim basta ter filhos direitos.
Lívia Pimenta Clemente Silva
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