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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

O materialismo histórico dialético como ferramenta de compreensão da sociedade

 

        Richard Sennet, em sua obra intitulada “A Corrosão do Caráter: Consequências Pessoais do Trabalho no Novo Capitalismo” analisa a sociedade de seu tempo, do fim do século XX, sob o prisma do materialismo histórico dialético: ao desvendar a lógica produtiva imperante entre os indivíduos, torna-se capaz de apontar como estes se relacionavam, a forma através da qual pensavam e quais eram as motivações de suas ações cotidianas. Nesse sentido, Sennet revela como o ideal do “capitalismo impaciente”, que urge uma vida direcionada à “acumulação flexível”, como elenca David Harvey, também se manifesta no cotidiano pessoal dos indivíduos inseridos nesse sistema produtivo.

            Embora essa análise seja referente ao fim do século XX, a sociedade atual não se mostra muito diferente da qual era outrora dominada pelo “capitalismo impaciente”. A organização produtiva neoliberal, que domina o pensamento econômico, torna-se capaz de transformar tudo numa constante busca pelo “aperfeiçoamento profissional”, de modo que nenhuma oportunidade deve ser desperdiçada. Dessa forma, mesmo em tempos pandêmicos, por exemplo, ficou comum a disponibilização de cursos online para que as pessoas pudessem se “desenvolver profissionalmente” enquanto ficavam em suas casas, como se fosse possível classificar qualitativamente o aproveitamento da quarentena pelos indivíduos.

            Como consequência a esse pensamento ultracompetitivo, até mesmo as coisas mais banais da vida têm seu preço: hoje é possível encontrar, por exemplo, fones que são capazes de isolar o som ambiente para os indivíduos que buscam um pouco de silêncio. Fica evidente, portanto, a capacidade do sistema capitalista em alterar a relação do homem com a natureza, e como a partir de tal alteração, de modo surpreendente e assustador, o próprio capitalismo encontra formas de lucrar.

            Por fim, como é atestado por Marx e Engels já no século XIX, nada do mundo fático fica ileso à forma pela qual os indivíduos organizam seus meios de produção material e de vida. Nesse sentido, nem mesmo a religião atualmente se mostra capaz de “fugir” desse capitalismo imperante e exacerbado: há cerca de uma semana houve a divulgação de uma suposta lavagem de dinheiro envolvendo a construção de uma das maiores basílicas do Brasil, sob a administração da Afipe, que chegou a movimentar cerca de 2 bilhões de reais(1).

            Portanto, é através do materialismo histórico dialético, elencado por Marx e Engels e utilizado por Sennet em sua análise social, que se torna possível observar as diversas manifestações do neoliberalismo no cotidiano atual dos indivíduos, marcado pela competição incessante e pela alteração do natural, e do qual nem mesmo a religião sai ilesa.

(1). Reportagem sobre suposta lavagem de dinheiro envolvendo a construção da Basílica: https://g1.globo.com/go/goias/noticia/2020/08/24/padre-robson-diz-que-nova-basilica-de-trindade-deve-custar-r-14-bilhao-apos-previsao-inicial-de-r-100-milhoes-nao-e-barato.ghtml

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