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segunda-feira, 24 de agosto de 2020

Relações Socioecológicas e o Materialismo Histórico

O princípio base da epistemologia segundo Descartes tem como primazia a interação, observação de seus fenômenos, além da transformação de sujeitos da natureza (incluindo o próprio homem). Marx e Engels, por meio do materialismo histórico, visam a análise científica a partir processos produtivos da humanidade e suas implicações nas mais diferentes esferas, como sociedade, economia, cultura, política e de certo modo, em menor ou maior intensidade, como a transformação material concedida em sua perspectiva transformam o meio ambiente, estando presente, por exemplo, na primeira parte da obra O Capital de Marx, onde o cientista define o trabalho como “...um processo entre o homem e a natureza; um processo em que o homem, por sua própria ação, media, regula e controla seu metabolismo com a natureza.”¹

Ou quando Engels descreve os impactos da transformação predatória da natureza para uma finalidade de alienação de recursos naturais para a produção durante a obra O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem ao já constatar em sua teoria as consequências de processos de degradação ambiental afim do desenvolvimento da sociedade industrial “Nós não devemos nos vangloriar demais das nossas vitórias humanas sobre a natureza. Para cada uma destas vitórias a natureza se vinga de nós. É verdade que cada vitória nos dá, em primeira instância, os resultados esperados, mas em segunda e terceira instâncias ela tem efeitos diferentes, inesperados, que muito frequentemente anulam o primeiro.”²

Tendo isso em vista, principalmente chamando a atenção ao metabolismo social com a natureza, se materializando como Metabolismo Socioecológico, é possível afirmar a relevância da visão sociológica marxista para com o Meio Ambiente. Sendo importante ressaltar que para um conceito do termo “Meio Ambiente” fugindo do conceito antropocêntrico da humanidade como algo totalmente alienado e ímpar diante dos outros elementos da natureza para uma perspectiva filosófica ecocentrista, onde a humanidade figura como interdependente e relacionados de maneira geral aos outros elementos ecossistêmicos, sem abrir mão também das particularidades da raça humana dentro da biosfera. Levando em conta suas três macroestruturas particulares da sociedade contemporânea dentro do chamado “Tripé da Sustentabilidade”³ elabora por John Elkington: Impacto Ambiental, Social, e Econômico.

Destrinchando assim a afirmação acerca de trabalho elaborada por Karl Marx, pode se dizer que o trabalho é considerado um mecanismo que torna o ser humano capaz de modificar o ambiente que o circunda, alterando as circunstâncias naturais. E com o surgimento e desenvolvimento do capitalismo, as modificações impostas pela classe burguesa e seus valores acerca da relação do meio pelo homem, tornam-se cada vez mais intensas conforme ocorre a remodelação dos desejos e necessidades que redirecionam o intercâmbio social com a natureza para a procura pela acumulação de capital culminando em um processo aliena e modificando também o homem em suas diferentes esferas como agente no meio ambiente, tanto com a natureza em si, como sua cultura, perspectivas sociais, culturais e políticas. Marx e Engels encampam uma crítica o direcionamento dessa remodelação do “Metabolismo Socioecológico” e como ela se materializa graças as forças da classe burguesa na influência e perpetuação dessa nova relação do homem com a natureza cada vez mais voltada ao capital, e menos voltada a uma organicidade humana em relação a natureza e seu bem estar ecológico, que engloba tanto sua relação com o ambiente em si como quanto ser social.

Relação esta que se torna cada dia mais desigual e alienante da ligação entre o “natural” e o do “capital”, que torna o indivíduo inserido dentro do capitalismo com um ser muito mais impessoal, alienado como agente natural e programado desde muito cedo a entender que este sistema é um “outro ecossistema” afastado de qualquer outro que se tenha ciência na natureza, com as suas próprias leis de mercado, leis para a produção, a cadeia alimentar que é divisão de classes pautada em suas relações de produção e capital, entre outros vários fatores e fenômenos. Fenômenos estes que acabam por criar seres perfeitos para o “capitalismo selvagem”, mas que se afastam cada vez mais de um mundo cada vez mais degradado, seja quando falamos materialmente quando tratamos de recursos naturais ou mesmo socialmente quando a lógica neoliberal delega ao ser humano a supressão da característica mais nata da humanidade e que possibilitou que chegássemos até o nosso patamar evolutivo atual: O senso de comunidade. 

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Referências: 

1: MARX, Karl. O Capital, Volume I. p. 283, 637-8. ed. Bras: Manuscritos Econômico-filosóficos; trad. Jesus Ranieri, São Paulo, Boitempo, 2004

2: MARX, Karl; FRIEDERICH, Engels. O Papel do Trabalho na Transformação do Macaco em Homem. 1. ed. Stuttgart: Neue Zeit, 1896 p. 180-181 (Disponível em: < https://www.marxists.org/portugues/marx/1876/mes/macaco.htm >)
3: "Triple Bottom Line (Tripé da Sustentabilidade): como unir planeta pessoas e lucro na gestão empresarial." (Disponível em: https://rockcontent.com/br/blog/triple-bottom-line/) 
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Lucas Costa Mignoli Ferreira da Silva - Direito Notuno

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