Com o surgimento e consolidação do capitalismo, as relações econômicas e sociais passaram por uma multiplicidade de modificações, fazendo com que fosse necessário o seu estudo, de modo que se pudessem compreender os profundos impactos e mudanças que foram causados em nossa sociedade.
É através disso que surge o materialismo dialético, teoria
criada por Karl Marx, com inspirações retiradas de campos diversos (desde
Economia Política Inglesa, até a Socialismo Utópico e Ideologia Alemã), na qual
se buscaria estudar o capitalismo em sua totalidade, abrangendo todos os seus aspectos
ao longo da história, como também suas contradições, que na lógica marxista, são
essenciais para a dinamização de suas características.
É exatamente o que vêm ocorrendo nos últimos anos, com uma rápida
flexibilização do capitalismo objetivando a maximização dos lucros, pautada na
terceirização dos serviços, diminuição dos direitos trabalhistas e aumento nos
chamados serviços de informalidade. Na atual situação, encontramo-nos no dilema
de nos adaptarmos, ou sermos passados para trás por essa corrente de modificações,
que longe de terem uma pausa, ou breve período para o folego, estão sempre
ocorrendo, incessantemente, nos forçando a nos desdobrar para atender aos
clamores do mercado.
Falando do Brasil em especial, o caso de preponderância da
economia, e da necessidade de salvá-la, em detrimento da vida humana, em um cenário de
pandemia e insegurança, apenas demonstra como os valores sociais encontram-se
totalmente apontados para obedecer a lógica dominante da elite econômica, que
longe de cometer ilegalidades, transformou até o Direito em um instrumento de legitimidade das suas práticas (como vimos com a promulgação da última Reforma Trabalhista em 2017,
e também a da Previdência no ano passado, que viram o regresso dos direitos e
garantias dos trabalhadores, em prol do empresariado).
A própria lógica de cada um de nós se encontra tão dominada
por essas crenças, que passamos a aceitar tudo em passividade. Nossa sociedade
parece ter se acostumado com o mercado regulando não apenas a si, mas a nós
todos, fazendo-nos agir com individualismo, buscando nos autopromover e estar
sempre a frente dos demais, como é destacado por Richard Sennet, em sua obra "A corrosão do caráter", e como isso se mostra como um obstáculo para a proteção de nossos
direitos, que passam a ser vistos como um estorvo (vide o Custo Brasil, ou a
famosa fala de figuras proeminentes do país, referentes a diminuição de
direitos para garantir mais vagas de empregos).
As diferenças de classes, outro fator preponderante e presente, foram esquecidas. Não há país no mundo como o Brasil, onde a classe média se coloca mais próximo de um empresário, banqueiro ou latifundiário, do que da própria classe trabalhadora, da qual se é proveniente, e que na menor das crises, pode voltar a pertencer, por conta dos problemas que a cerceiam no cenário atual, onde, com o avanço das grandes corporações, pequenos negócios tendem a ser incorporados ou deixados para resistir, recorrendo aos meios mais desesperados para se manter.
Num cenário de desigualdades e explorações, o primeiro passo para uma
mudança seria abrir os olhos, principalmente entre as classes menos abastadas, que além de serem as mais atingidas, são o motor para qualquer grande modificação no coletivo, seguido também pela superação dessa ideologia que nos foi posta, e que domina cada aspecto social com o qual
lidamos. A adoção da criticidade e superação da ideologia, junto do
enriquecimento científico por parte das massas, seriam as bases necessárias, na
visão de Marx, para a caminhada da sociedade como um todo na busca pela igualdade.
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