A sociedade hodierna enfrenta um colossal
inimigo no que tange a obtenção e o ciclo do conhecimento. Parece, no entanto, impreciso
e incorreto afirmar que tal inimigo esteja atrelado somente à atualidade. Desde
os primórdios da existência humana, o homem tende a supervalorizar seu
conhecimento e menosprezar qualquer forma de expressão e interpretação da
natureza conflitante com a sua. Tem-se a arrogância e a prepotência de crer
incondicionalmente que tudo o que se sabe condiz com a realidade, limitando o
saber pela crença ilusória de que se sabe tudo, de que se pode tudo. Dessa
forma, a humanidade se vê frente a fatos despercebidos e impotente perante as
situações cotidianas, incapaz de se livrar das pesadas, mas confortáveis,
correntes do comodismo, com a visão turva pelos óculos da idolatria e
marginalizando o mais importante instrumento de desenvolvimento do conhecimento:
a dúvida.
O pressuposto básico para o desenvolver do
conhecimento é saber que tudo é contestável. Partindo se de que quase nada se
sabe perto de tudo o que é passível de se conhecer, busca-se através da
racionalidade e da experiência contestar suas próprias crenças e alcançar a
verdade. Porém, é possível ainda hoje notar uma certa sacralização da ciência,
de tal forma que o conhecimento científico é tido como uma ostentação de
status, prevalecendo a preocupação com a vitória sobre os adversários por meio
de argumentos em detrimento da obtenção do conhecimento da verdade de forma
clara e manifesta. Tornou-se mais importante vestir e exibir um casaco de
erudição, dizer e vangloriar que se sabe, do que propriamente saber alguma
coisa.
Vestindo o casaco erudito, o indivíduo
trata os outros com arrogância e despreza todo e qualquer saber diferente do
seu. Como afirma Bacon, “ o homem se inclina a ter por verdade o que prefere” e
assim se vê aprisionado pelo conhecimento de mundo ilusório que ele acredita
ter. Em meio a tantos preconceitos e intolerâncias, a vida em sociedade se
encontra ameaçada por um problema de dimensões gigantescas, de fato um colosso,
que tende a barrar o avanço do conhecimento e colocar óculos de realidade
alterada nos olhos da sociedade, que parará de enxergar fatos e ficará
condicionada e inerte, apaixonada e obcecada por ídolos, utilizando o
conhecimento cientifico como um adereço de moda e buscando a verdade somente em
si mesma e nunca na natureza e no mundo a seu redor.
Acima de tudo, o mais importante é saber, e
saber com certeza, que não há uma única palavra aqui disposta que não seja
questionável. E que nada aqui pode ou deve ser tomado como verdade absoluta. Em
meio a tantas contradições e vagações pouco lúcidas, esse é um texto que não
mereceria ser escrito se se tivesse certeza do que se diz, e cujo único objetivo
é propagar a dúvida.
Abner Santana de Oliveira. 1º ano. Direito-Noturno.
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