Com a obra “Les demoiselles d'Avignon”, o artista espanhol
Pablo Picasso encetou o movimento cubista, tornando-se o precursor de um estilo
o qual rompia paradigmas e ideologias tipicamente renascentistas. Desse modo,
através da fragmentação e
recomposição da realidade - por meio de estruturas geométricas – Picasso
questionava padrões pré- concebidos, reiterando a renúncia à perspectiva e
explicitando a liberdade artística. Analogamente, em um contexto de uma nova organização
social embasada na persuasão burguesa e na busca incessante pela racionalidade
atrelada à experiência, a racionalidade cientifica cartesiana (tal qual as
obras cubistas) mostra-se fragmentada. Assim, entre esfacelamento da
razão científica e regulação da mente por mecanismos de experiência, a
modernidade ambiciona o surgimento de novos sustentáculos para analisar-se o
mundo.
René Descartes, em “Discurso do
Método”, explicita sua descrença com uma filosofia sustentada - quase sempre - na tradição clássica, bem como com a superstição
na construção do conhecimento. Além disso pretende diferenciar o falso do
verdadeiro, sem crer demasiadamente em algo inoculado apenas pelo hábito. Tal acepção
é contrastada - na sociedade brasileira - através de extremismos políticos, nos
quais a “esquerda” ou a “direita” são meros pretextos, não raro, para a reafirmação
de um discurso de ódio já arraigado em solo tupiniquim. Partidos são enaltecidos e a política,
personificada. A razão científica presente no método cartesiano é posta em
cheque quando a dúvida secundariza-se em prol de radicalismos políticos.
Francis Bacon, na obra “Novo
Organum”, pondera uma crítica de suma importância para a ciência ao criticar os
gregos e sua filosofia, uma vez que afirma que a especulação é inócua e responsável pela exaltação da fragilidade humana. Desse modo, discorre que a fronteira da ciência deve ser
a própria ciência, mostrando-se contrário à sacralização da ciência e dos ídolos
(falsas percepções do mundo). Destarte, em um mundo cada vez mais globalizado,
constata-se a crítica de Bacon - cotidianamente – com a aclamação conferida à
figuras super estimadas. Estas, por sua vez, delegam padrões de vida e
doutrinas, criando utopias generalizadas as quais culminam em frustrações. A regulação
da mente por mecanismos empíricos é fragilizada com idealizações proferidas por
figuras de destaque.
Portanto, em um contexto no
qual a razão e a experiência são objetivadas em busca da neutralidade, a realidade
passa a ser desvendada pela própria ação antrópica e não mais por figuras
divinas. Constata-se, dessa maneira, o triunfo da ideologia burguesa, a qual almeja
o esclarecimento de métodos para obtenção da clareza, por meio da adoção da razão
e da experiência. Estas, eternizadas nos pensamentos de, respectivamente, René
Descartes e Francis Bacon, contribuíram – apesar dos obstáculos- para a existência
de um ímpeto transformador presente na sociedade moderna, sendo este responsável
por consagradas conquistas nos campos social, econômico e político. Afere-se, finalmente,
que a ciência, quando pautada na clareza e na cautela, contribui para evoluções
consagradas na história da humanidade.
Isadora Mussi Raviolo - 1º ano Direito Noturno
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