Contesto-te, Professor !
Na última aula de
sociologia, o Professor abordou dois pensadores clássicos do século XVII e os
enalteceu por serem muito “atuais”.
O primeiro
pensador, René Descartes, pelo pouco que lembro, é um racionalista: defende a
razão como primado básico da pesquisa científica e para transformação do mundo.
Qualquer coisa além disso é balela, sejam as nossas superstições, as nossas
crenças religiosas, os nossos preconceitos, a nossa ideologia... Já o segundo
pensador, Francis Bacon – de nome bem sugestivo, ainda mais quando você ainda não
jantou – é um pensador que defende o uso da experiência para comprovação de
teorias e fenômenos de qualquer natureza por meio de métodos indutivos. Também,
descreveu com bastante riqueza os tipos “gurus” que fazem a nossa cabeça, aos
quais atribuímos a explicação e solução de tudo que acontece mundo, os ídolos.
Contudo, é
interessante notar que esses pensadores têm nada de atuais, afinal em nossa
sociedade pós-moderna, “dita evoluída”, o que impera é a imbecilidade do indivíduo, que
não analisa criticamente os diversos
fatos do seu cotidiano, prefere terceirizar o pensamento a um “especialista” –
nomeação dada aos ídolos do século XXI, de grande bagagem intelectual, os quais
ministram suas aulas no YouTube,
formados em futilidades ou “achismos” e pós-graduados em ódio e sensacionalismo
– e tomá-lo como verdade, pois acha um incômodo raciocinar. Como se uma opinião
ou conhecimento sobre algo fosse uma daquelas comidas baratas de fast food, fácil
de achar e pronta para ser consumida; ficando saciado com a “verdade” engolida
e farto de conhecimento suficiente para ir no Facebook e proclamar os ensaios da revolução cultural. E, diante de
qualquer objeção, mesmo que uma criticazinha bem mixuruca, combate à moda
jacobina digital os contrarrevolucionários : xingando-os, humilhando-os,
plantando mentiras e por aí vai. É o que ocorre com os seguidores e militantes dos
principais candidatos à Presidência da República: Jair Bolsonaro e Luís Inácio
Lula da Silva. Para você ver, caro leitor, como imbecilidade não tem ideologia.
Além disso, já
que não querem pensar com a própria cabeça, não têm ao menos a curiosidade em
descobrir as coisas tentando experimentá-las, sentido-as e formando juízo de
valor com base na realidade vivida, o que engrandece a pessoa e faz abrir um
leque de opções, antes preso a diversos preconceitos, dogmas. Mas não, preferem
manter-se confinados na caverna vendo somente a imagem das sombras a ver a Luz.
Questões como a legalização da maconha, a desmilitarização da polícia, a
privatização das estatais são prontamente rechaçadas, sem que haja alguma experiência
anterior que prove o sucesso dessas medidas ou não.
Portanto,
discordo do meu Professor quando chama esses autores de “atuais”, pois
denominá-los assim é equipará-los a toda sandice que governa nossos tempos, no
qual o debate acerca das principais questões é raso, pobre e violento; não
havendo razão alguma ou experiência vivida que o norteia, tendo apenas como “grandes
referências” pessoas de baixa formação intelectual e que opinam com “achismos”
ou paixões pessoais, mas como têm coragem – ou loucura – de falar a uma massa
alienada, conseguem angariar milhões de seguidores. Como dizia o músico Renato
Russo: “falam demais por não terem nada a dizer”.
Descartes, deve
revirar-se no túmulo ao ouvir que é “atual”; Bacon provavelmente gostaria de
ser fritado e servido para uma tribo de canibais.
O professor não é
bobo, ele é “macaco velho” da Sociologia. Para dar essa opinião ele analisou com
prudência e tem experiência. Pensando
bem, ele pode até ter razão... é que na verdade, esses pensadores são atuais, e nós “sociedade evoluída” é que somos
pré-históricos, vivendo nas cavernas e achando que a sombra da fogueira é a Luz
do Sol, como contava Platão.
John R. Angelim Novais, 1º ano Direito - Noturno, 2017.
Uma visão muito clara realmente. A sociedade em que vivemos, e que Descartes e Bacon tentaram, através de seu império da razão, construir é, em verdade, uma representação de mau gosto da modernidade. Poucos são os que existem através de seu pensar. O que queria construir os autores, o que estava em suas "utopias", tornou-se a realidade distópica da modernidade.
ResponderExcluirVinicius H. O. Borges