“(...) A antirrazão do
capitalismo totalitário, cuja técnica de satisfazer necessidades, em sua forma
objetualizada, determinada pela dominação, torna impossível a satisfação de
necessidades e impele o extermínio dos homens – essa antirrazão está
desenvolvida de maneira prototípica no herói que se furta ao sacrifício
sacrificando-se. A história da civilização é a história da introversão do
sacrifício. Ou por outra, a história da renúncia.(...)” (Adorno e Horkheirmer,
Dialética do Esclarecimento, p.54)
Weber não é um
defensor da burocracia e nem defensor da racionalização atrofiada da sociedade,
ele apenas busca identificar e analisar alguns aspectos no mundo moderno. A
burocracia, então, é a profissionalização do Estado no sentido de desvinculá-lo
dos interesses pessoais, o engraçado é que esse termo é popularmente conhecido
no Brasil por demora, incompetência, “enrolação”.
Sob um ponto
de vista, pode-se considerar que a burocratização começou a surgir de forma
mais forte a partir da Revolução Industrial. Com esse fenômeno houve o êxodo rural
e o início do desenvolvimento maciço de tecnologia que daria frutos ao que
chamamos hoje de meio técnico-cientifico-informacional e globalização. Assim,
apesar da produção ser pautado por um certo “racionalismo”, lógica,
desenvolvimentismo, e a sociedade ser pautada por um certo formalismo cheio de
preceitos e formas as relações interpessoais se caracterizam por uma série de
contradições que tentam desumanizar certos caracteres humanos: “Na Cidade findou a sua liberdade moral;
cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para
uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar,
adular, vergar, rastejar, aturar; rico e superior como um Jacinto, a sociedade
logo o enreda em tradições, preceitos, etiquetas, cerimônias, prazer, ritos,
serviços mais disciplinares que os dum cárcere ou de um quartel... A sua
tranqüilidade [...] onde está, meu Jacinto? Sumida para sempre, nessa batalha
desesperada pelo pão ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia
rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para esses milhões de seres que
tumultuam na arquejante ocupação de desejar — e que, nunca fartando o desejo,
incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota? Os sentimentos
mais genuinamente humanos logo na cidade se desumanizam!” (A Cidade e as Serras – Eça de Queirós)
De tal modo que na sociedade moderna a racionalização torna-se
instrumental. O sujeito apenas quer buscar o poder, a fama, o prestígio sem se
atentar ao meio de se conseguir isso, as artes, por exemplo, que em tese são
grandes maneiras para aflorar o conhecimento e a análise crítica, acabam se
tornando mais uma ferramenta de manobra para controlar e deter a opinião das
massas, do povo. A televisão e as revistas atualmente são uma prova de quantos
tais meios de comunicação, “cultura” e “arte” engessam o pensamento e uniformizam
e enquadram as pessoas como os “alfas” e “betas” já alertados em Admirável
Mundo Novo de Aldous Huxley. Ou seja, a incogruência nessa estória toda consiste que uma forma de produção e tecnologia que prometeu o despertar do conhecimento e do raciocínio lógico, foi apenas capaz de mecanizar o ser humano.
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