Direito, cotas, e emancipação
Sobre as cotas sociais, os que discordam de tal medida
afirmam que as cotas são uma medida paliativa e que o ideal seria melhorar as condições
das escolas públicas. Esses não deixam de estar corretos, porém uma mudança
desse tipo demoraria quanto tempo para ter efeito? Fora todos os esquemas de
corrupção, incapacidade e falta de disposição dos políticos. Então, apenas
insistir nessas mudanças, mesmo que começassem hoje, seria ficar de braços
cruzados olhando toda essas injustiças sociais perpetuarem.
Um argumento que a princípio parece conclusivo por parte dos
que contestam as cotas raciais é que no Brasil a miscigenação é tamanha, que é
impossível falar de etnias, e que a justificativa das cotas raciais como forma
de compensar anos de exploração do povo africano não se justifica. Pois muitos
negros beneficiados pelas cotas têm enorme presença de origem europeia nos seus
genomas, enquanto brancos com grande presença de genes africanos não seriam
beneficiados. Entretanto, o preconceito no Brasil é contra o fenótipo, e não
contra o genótipo. As pessoas distinguem o negro e o branco pelo que é visível,
não importando a sua origem. Logo, tal argumento não se justifica para abominar
as cotas raciais.
Outro ponto importante, é que o sistema de cotas no Brasil
foi copiado do modelo americano, em que o racismo foi institucionalizado por
mais de 100 anos. Concordo que o ideal não seria a cópia de um sistema de outro
país, todavia questiono se esses anos de institucionalização não se comparam
aos 350 anos de sistema escravista onde o preconceito foi tão enraizado na
cultura brasileira?! Portanto, podemos disser que apesar de longe do ideal, a
aplicação do modelo americano também passa longe de ser irracional.
Em síntese, analiso que as cotas buscam por meio da força do
Direito, tal qual foi preconizado por Boaventura, reparar as mazelas que um
processo de sucateamento do ensino público e uma política inexistente de
inserção do negro na sociedade pós abolição vêm promovendo na sociedade
brasileira.
Luiz Felipe Fermoselli Andreotti, 1o Ano Noturno
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