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segunda-feira, 23 de outubro de 2017

As cotas como instrumento para a emancipação


 Hoje, temos uma efervescência de diversos grupos sociais reivindicando direitos que até então os haviam sido negados. Em meio a isso tudo, questiona-se qual seria o papel do direito e Boaventura se posiciona afirmando que o direito deve ser visto de modo a emancipar os indivíduos. Sendo assim, ele explica a necessidade de reinventar o direito de forma a adequá-lo às reivindicações dos grupos sociais subalternos e de seus movimentos.

Uma discussão bastante polêmica que está em evidência são as cotas. As cotas seriam a forma encontrada para anular, pelo menos em parte, a diferença entre a educação recebida pelos jovens mais privilegiados e aqueles marginalizados, que pela precariedade do sistema público de educação dificilmente conseguem uma vaga em faculdades públicas. Esse assunto divide opiniões, pois se por um lado são defendidas como objeto necessário ao estabelecimento de uma igualdade de fato, por outro lado sua constitucionalidade é contestada. Porém, apesar de todas as críticas, a Lei de Cotas está em vigor graças ao direito, numa tentativa de cumprir com esse papel emancipatório defendido por Boaventura.

Aqueles que se mostram contrários a lei citada questionam seu real objetivo, pois para eles a facilitação do ingresso daqueles com menor renda seria apenas uma manobra para maquiar as deficiências do ensino público. Além disso, apontam que as cotas ferem o princípio da igualdade, defendido no art.5º da Constituição Federal, pois ao privilegiar alguns por sua classe social ou cor de pele estaria admitindo que seriam menos capazes. Visto isso, falam que a Lei de Cotas não está em consonância com a Constituição, assim seria uma lei inconstitucional.

No entanto, olhando por outra perspectiva, as cotas não ferem a isonomia, uma vez que sua intenção não é privilegiar e sim minimizar as diferenças de oportunidades. Tendo isso em mente, é possível superar essa concepção meramente formal e abstrata de igualdade que é tratada pela Constituição e considerar a realidade para a aplicação desse princípio. Além disso, as cotas ajudariam a amenizar esse modelo de “segregação informal” que se estabeleceu em nosso país e que priva a convivência de igual para igual em muitos espaços. Por último, a lei serviria de instrumento para a concretização da justiça compensatória, pois como apontou o Ministro Gilmar Mendes a pequena quantidade de negros nas universidades decorre de um processo histórico, oriundo do modelo escravocrata.

Desse modo, seguindo a linha de pensamento de Boaventura, vemos a necessidade do direito de não se limitar a ser apenas um instrumento de regulação e passar a refletir as lutas políticas e sociais concretas.


Érika Luiza Xavier Maia- 1º ano Direito Noturno

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