Um relógio é uma máquina. Máquina de medir o tempo. Tempo esse mecânico.
A película de Bernt Capra intitulada originalmente "Mindwalk", e traduzida para o português como "Ponto de Mutação", foi lançada em 1990. Ela nos traz, de maneira sagaz, uma discussão deveras interessante, abordando vários temas que angustiam nossas almas, tendo como condutor principal a visão de mundo que temos. Ambientado no belíssimo Monte Saint-Michel, o filme nos conduz, através das personagens (dotadas de um mínimo, mas suficiente background), em um questionamento profundo do modo como desenvolvemos a ciência.
A personagem principal, Sonia, é uma cientista em uma espécie de reclusão, que lê buscando nas produções humanas um conforto, uma resposta, um alívio para sua decepção profissional. Isso porque ela descobre que sua pesquisa com lasers está tendo seu propósito inicial(que seria o bem comumatravés de avanços na medicina) deturpado com finalidade bélica.
Ao se encontrar com um político norte-americano deprimido com derrotas em sua carreira, e seu amigo poeta, Sonia inicia com eles um debate em alto nível. Ela expõe as limitações que a visão cartesiana impõe aos avanços da sociedade: esse método consiste em enxergar a realidade como uma grande máquina, e assim sendo, seria possível dividir e analisar pequenas partes, e depois dizer que se entende o todo. Já a crítica que traz a personagem principal consiste no fato de que a realidade é muito mais complexa e está repleta de interligações. Por isso não seria possível entender o todo estudando apenas as partes. Como exemplo temos o problema da fome na África: existe ausência de alimentos, causada pela gestão do governo, que por conta da pressão dos bancos, prefere pagar suas dívidas a tentar resolver o problema da fome.
Nesse aspecto o enredo do filme se sustenta muito bem, tornando a narrativa relevante mesmo vinte e cinco anos depois de sua produção.
A obra, no entanto, parece arrastada em alguns momentos, principalmente por falta de um conflito mais convincente, pois a personagem do político americano tem poucos argumentos a seu favor, e acaba repetindo de maneira exaustiva as poucas idéias que possui, o que não pode ser descartado como algo proposital, com o intuito de demonstrar a limitação do método cartesiano.
Jansen R. Fernandes
1 Ano Direito
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