“Sou
só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à
longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu, investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite,
acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento.”
Os Enigmas,
Pablo Neruda.
O filme Ponto de Mutação, de Bernt Capra, é uma adaptação da obra homônima
de Fritjof Capra. A obra se passa nos anos 90, onde a percepção da produção e
do consumo massificados era parte intrínseca do coletivo. Por essa
contextualização, percebe-se como a consciência ecológica ainda era pouca
expressiva. Dessa forma, o filme trouxe ideias revolucionárias para a época,
apresentando a visão holística e sua
forma de interpretar o mundo.
O foco principal da obra é uma
discussão entre três pessoas que, ao apresentarem seus diferentes pontos de
vista, refletem sobre a existência humana e os efeitos e implicações que determinadas correntes do saber têm na
natureza e na sociedade.
A personagem Sonia Hoffman, uma
física que se afastou do trabalho por questões éticas, mostra para o político
Jack Edwards como a visão de mundo dele é simplista e ineficiente. Jack diz ser
um homem prático, mas na verdade, procura respostas
prontas, muitas vezes baseado
em correntes mecanicistas (uma herança
cartesiana). Sonia defende o pensamento holístico, que prega que o homem e
suas ações não podem ser entendidos por uma análise separada: as partes compõem
o todo e o todo regula o comportamento das partes.
O terceiro personagem da trama, o
poeta Thomas Harriman, não se posiciona imediatamente a respeito da questão que
seus companheiros tão avidamente discutiam. Porém, ao final do dia, expressa que
o pensamento holístico, ao sistematizar a vida, também se torna simplista, ineficiente
e está destinado a encontrar respostas prontas.
“(...)
me sinto tão reduzido sendo chamado de sistema quanto sendo chamado de relógio.
A vida não é condensável assim.”
Thomas Harriman, personagem de “Ponto de Mutação”.
Assim, o poema de Neruda, que Harriman
cita no filme, indica como a amplitude é algo próprio da natureza e da vida, ao
contrário do que afirmam pensamentos reducionistas como o mecanicista de
Descartes e o holístico que Sonia tanto defende. Investigar
as estrelas sem fim seria, de fato,
investigar o homem, suas ações e seu mundo sem
respostas prontas. Somente assim seria realmente possível tratar as mazelas
da humanidade de forma eficaz.
"Mas lembre-se: a vida sente a si mesma. Diferentemente de suas palavras, talvez e até com as melhores intenções, você errará se esquecer de que a vida, a vida é infinitamente mais que as suas ou as minhas obtusas teorias a respeito dela."
Lívia Armentano Sargi
1° ano, Direito diurno
Nenhum comentário:
Postar um comentário