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quarta-feira, 6 de maio de 2015

As estrelas sem fim

“Sou só uma rede vazia diante dos olhos humanos na escuridão e de dedos habituados à longitude do tímido globo de uma laranja. Caminho como tu, investigando as estrelas sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe dentro do vento.”
 Os Enigmas, Pablo Neruda.

O filme Ponto de Mutação, de Bernt Capra, é uma adaptação da obra homônima de Fritjof Capra. A obra se passa nos anos 90, onde a percepção da produção e do consumo massificados era parte intrínseca do coletivo. Por essa contextualização, percebe-se como a consciência ecológica ainda era pouca expressiva. Dessa forma, o filme trouxe ideias revolucionárias para a época, apresentando a visão holística e sua forma de interpretar o mundo.

O foco principal da obra é uma discussão entre três pessoas que, ao apresentarem seus diferentes pontos de vista, refletem sobre a existência humana e os efeitos e implicações que determinadas correntes do saber têm na natureza e na sociedade.

A personagem Sonia Hoffman, uma física que se afastou do trabalho por questões éticas, mostra para o político Jack Edwards como a visão de mundo dele é simplista e ineficiente. Jack diz ser um homem prático, mas na verdade, procura respostas prontas, muitas vezes baseado em correntes mecanicistas (uma herança cartesiana). Sonia defende o pensamento holístico, que prega que o homem e suas ações não podem ser entendidos por uma análise separada: as partes compõem o todo e o todo regula o comportamento das partes.

O terceiro personagem da trama, o poeta Thomas Harriman, não se posiciona imediatamente a respeito da questão que seus companheiros tão avidamente discutiam. Porém, ao final do dia, expressa que o pensamento holístico, ao sistematizar a vida, também se torna simplista, ineficiente e está destinado a encontrar respostas prontas.

“(...) me sinto tão reduzido sendo chamado de sistema quanto sendo chamado de relógio. A vida não é condensável assim.”
Thomas Harriman, personagem de “Ponto de Mutação”.

Assim, o poema de Neruda, que Harriman cita no filme, indica como a amplitude é algo próprio da natureza e da vida, ao contrário do que afirmam pensamentos reducionistas como o mecanicista de Descartes e o holístico que Sonia tanto defende. Investigar as estrelas sem fim seria, de fato, investigar o homem, suas ações e seu mundo sem respostas prontas. Somente assim seria realmente possível tratar as mazelas da humanidade de forma eficaz.

"Mas lembre-se: a vida sente a si mesma. Diferentemente de suas palavras, talvez e até com as melhores intenções, você errará se esquecer de que a vida, a vida é infinitamente mais que as suas ou as minhas obtusas teorias a respeito dela."



Lívia Armentano Sargi
1° ano, Direito diurno

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