— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
— Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.
A mesma terra em que se planta é a terra em que se morre:
essa é a principal ideia presente no trecho acima retirado da obra Morte e Vida Severina de João Cabral de
Melo Neto, que se trata de uma narrativa em versos da viagem que o retirante
Severino faz de sua terra até Recife. Contudo, além de apresentar as
dificuldades vivenciadas no sertão nordestino, o excerto também aborda a
questão da propriedade privada e da luta de classes discutida por Friedrich
Engels. O fragmento citado ressalta a absurda realidade do proletariado: vive
sua vida trabalhando para conseguir algo que – com raras exceções – conseguirá
apenas após sua morte.
Alguns filósofos iluministas, entre eles Locke e
Rousseau, propuseram que a propriedade privada seria um direito inalienável e,
portanto, deveria ser garantida pelo Estado assim que firmado o contrato
social. Entretanto, existe uma clara contradição que emana dessa teoria. Para
homens que acreditavam na necessidade de igualdade e liberdade, a defesa
daquilo que Engels considera ser a origem de toda desigualdade social e,
consequentemente, da luta de classes é, no mínimo, incoerente.
Ana Clara Tristão - 1º ano Direito diurno
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