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domingo, 26 de maio de 2013

Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida



— Essa cova em que estás,
com palmos medida,
é a conta menor
que tiraste em vida.
— É de bom tamanho,
nem largo nem fundo,
é a parte que te cabe
deste latifúndio.
— Não é cova grande,
é cova medida,
é a terra que querias
ver dividida.
— É uma cova grande
para teu defunto parco,
porém mais que no mundo
te sentirás largo.
— É uma cova grande
para tua carne pouca,
mas a terra dada
não se abre a boca.

A mesma terra em que se planta é a terra em que se morre: essa é a principal ideia presente no trecho acima retirado da obra Morte e Vida Severina de João Cabral de Melo Neto, que se trata de uma narrativa em versos da viagem que o retirante Severino faz de sua terra até Recife. Contudo, além de apresentar as dificuldades vivenciadas no sertão nordestino, o excerto também aborda a questão da propriedade privada e da luta de classes discutida por Friedrich Engels. O fragmento citado ressalta a absurda realidade do proletariado: vive sua vida trabalhando para conseguir algo que – com raras exceções – conseguirá apenas após sua morte.

Alguns filósofos iluministas, entre eles Locke e Rousseau, propuseram que a propriedade privada seria um direito inalienável e, portanto, deveria ser garantida pelo Estado assim que firmado o contrato social. Entretanto, existe uma clara contradição que emana dessa teoria. Para homens que acreditavam na necessidade de igualdade e liberdade, a defesa daquilo que Engels considera ser a origem de toda desigualdade social e, consequentemente, da luta de classes é, no mínimo, incoerente.

Como disse Legião Urbana, “quem me dera, ao menos uma vez, provar que quem tem mais do que precisa ter quase sempre se convence que não tem o bastante”, é impossível – no atual contexto socioeconômico – modificar a cobiça dos homens. E, enquanto isso, muitos outros Severinos viverão e morrerão da mesma morte severina.



Ana Clara Tristão - 1º ano Direito diurno

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