É impossível ler a função da divisão social do trabalho de Durkheim e não correlaciona-la às proposições de Comte. Enquanto o primeiro afirma que cada um tem sua função no fato social e na divisão do trabalho, outro afirma que não devemos romper com essa função social, a ponto de eliminar aqueles que ousem atrapalhar a organização que leva ao progresso, afirmando também a questão da solidariedade uns para com os outros, e por isso cumprir cada um com sua função, para que não se prejudique ninguém.
Tal pensamento, apesar de gerar a ideia de que os seres humanos completam-se, assim como consta no exemplo das relações amorosas, serve também como pretexto para regimes totalitários ou ditatoriais legitimarem seu poder; é o velho ideal de "Brasil: ame-o ou deixe-o". Tanto Comte, Durkheim ou qualquer um dos autores contratualistas, é possível levar sua teoria para o lado da dominação. O que não quer dizer que este tenha sido o princípio pela qual tal foi escrita. No caso de Durkheim, este não prega a obediência de ninguém à alguém e sim a cooperação mútua em prol da evolução social, é ser solícito naquilo que lhe é incumbido fazendo suas tarefas prazerosamente e não escravo do sistema. Buscou, não a obediência perante a opressão e sim, perante o bem, o conforto, a felicidade do todo e para o todo.
Para que cada um cumprisse sua função com exatidão e perícia é que existiria a divisão do trabalho. E não somente no trabalho! Durkheim cita o tempo todo a importância da diferenciação como forma de complemento às relações sociais entre os seres humanos, fato extremamente importante na sociedade atual por diversos motivos:
- Vivemos numa sociedade de inovações, principalmente tecnológicas, onde a cada dia surgem novas formas de se trabalhar com a matéria prima e portanto, necessitamos de novas profissões, pessoas criativas e empreendedoras dispostas a encarar o novo;
- Vivemos numa sociedade de "modinhas", seja na forma de se vestir, falar ou agir, e essa falta de personalidade própria, com o tempo, deixará os grupos cada vez mais tipificados, mais iguais e menos criativos. É como se nos acostumássemos tanto a seguir um padrão que nos esquecemos do que fazer caso a situação mude. Onde ficará o poder de improvisação, de inovação? Exclusivamente para o teatro e administradores? Teremos que fazer uma graduação só para nos tornarmos o que a maioria dos seres humanos tem a capacidade de ser sozinho?
Além da diferenciação, há também a solidariedade que Durkheim tanto fala. No cotidiano, estamos mais acostumados a não ser solidários, aquilo que mais se aproxima de solidariedade seriam as obrigações morais, que ultimamente estão saindo de moda. Ser solidário é agir por vontade própria em benefício de alguém sem esperar ser beneficiado além do regozijo de ter feito algo bom.
Bom, muito mais do que ler Durkheim como puramente uma teoria acadêmica, por que não encará-lo como forma de melhoria das relações humanas?
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