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domingo, 8 de março de 2020

Tempos de misticismo

    O século XX foi o período de maior evolução tecnológica na história da humanidade. Se no início do século, a humanidade dava ainda seus primeiros passos na mecânica aeronáutica; na farmácia de antibióticos e na computação, no fim desse o homem conquistara o céu e o espaço; criara tratamentos para os mais diversos patógenos e desenvolvera a internet, invenção responsável por nulificar as dificuldades de comunicação entre quaisquer pessoas no globo. Tamanho avanço só foi possível graças ao esforço incansável de pesquisadores como Robert Kahn; Von Braun e muitos outros. Apesar dos visíveis benefícios resultantes dessas conquistas, o final do século XX e o início do século XXI foram marcados por uma crescente cultura anticientífica, que busca negar conceitos consagrados na ciência em prol de misticismos e falsos conhecimentos científicos. Esse cenário, abre precedentes para uma regressão nunca antes vista, afogando o homem em trevas e colocando o bem estar do corpo social em xeque.
    É surpreendente que, em uma sociedade com uma crescente dependência da inovação tecnológica, discursos anticientíficos tenham conquistando um público tão abrangente. Isso se deve ao fato de que, apesar da maior parte da população mundial usufruir de algum tipo de recurso resultado da ciência moderna, seja nas necessidades básicas; lazer ou trabalho, grande parte das pessoas não recebem nenhuma educação científica durante sua vida. A consequência dessa situação é a recente mudança nos maiores governos do ocidente, que agora tem seus executivos controlados por negadores do aquecimento global e conservadores sociais, como Donald Trump e Jair Bolsonaro. 
    Em seu livro, O discurso do método, René Descartes defende a ideia da adoção de um novo pensar, hoje conhecido como método dedutivo, marcado pelo uso da razão como ferramenta investigativa, capaz de desconstruir velhos erros lógicos, em oposição a experiência sensível. Na mesma época, Francis Bacon publicava seu Novum Organum, tratado em que critica o silogismo e defende a interpretação racional da natureza, método denominado empirismo, na qual o homem é apenas um espectador que tenta interpretar e entender a verdade oculta no natural. Apesar de fundamentalmente diferentes quanto a maneira de se fazer ciência, as ideias desses filósofos, quando combinadas, são as bases do pensamento científico contemporâneo. Logo, é evidente que, apesar de datados, esses ideias são os maiores adversários do recente misticismo que ameaça o progresso.
    Em suma, não se encontra no debate acalorado, campo preferido por aqueles que desafiam a ciência, o caminho para defender as conquistas da humanidade, mas sim nos consagrados escritos do passado, pois se ao indivíduo falta conhecimento, somente pelo ensino a situação pode ser mudada. Dessa forma, faz se necessário que a sociedade civil, em especial aqueles que são privilegiados pela boa educação e dotados de boa-fé, trabalhe para reverter os acontecimentos recentes, e trazer a ciência de volta ao centro dos debates. Isso deve ser feito por meio da promoção de discussões e o retorno das academias ao estilo grego, para que o conhecimento, pautado pela razão e experiência, possa florescer na mente dos alunos. Seguido esse caminho, com as devidas alterações para as peculiaridades de cada nação, o homem se livrará das trevas, visto ideias, e nada mais do que ideias, iluminam a escuridão.
                 
                                       
                                                      Matheus Ferrão e Silva - 1° ano Diurno 

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