René Descartes, no seu
Discurso do Método, revolucionou todo o pensamento científico e acabou criando
as bases da ciência contemporânea. Essas bases são compostas de diversos elementos,
dos quais gostaria de chamar a atenção para um especificamente: a
compartimentalização dos fenômenos observados.
No novo método descrito por Descartes, a ciência deve
prezar por uma observação dividida, ou seja, se queremos entender o funcionamento
de algo, não podemos analisa-lo a partir do todo, mas sim a partir das partes,
que somadas formarão o todo. O objeto estudado é decomposto ao máximo em partes
menores, a fim de facilitar a compreensão dessas partes diminutas e, portanto,
mais simples. Só depois do entendimento dessas unidades, é que se pode reagrupa-las,
para então formar um todo, esse sim verdadeiramente compreensível, uma vez que
as partes que o formam já foram interpretadas da maneira devida.
Como havia dito no início, de fato essa nova abordagem
redefiniu os rumos da ciência e, quase quatro séculos depois, ainda tem
influência. Entretanto, creio que ela causou certas mudanças negativas. Devido
a uma série de razões, da qual ela faz parte, a sociedade passou a crer cada
vez mais no chamado cientificismo, concepção que acredita que a ciência é a
única forma de se compreender a realidade. As religiões, a arte, o senso comum,
tudo que não tenha um embasamento na ciência, é tido como falso e inútil.
Passamos a ver paixões, sentimentos e até pessoas como máquinas,
engrenagens, como coisas divisíveis. E diferente do que o método científico
cartesiano prega, há certas coisas que não podem ser divididas, sendo o homem
uma delas. Não é a razão que diferencia o homem de um verme, mas sim essa
indivisibilidade inerente a nós. No mundo em que vivemos, onde as relações
interpessoais foram substituídas pelo mercado e pelo Estado, essa visão de
mundo com certeza será desprezada e julgada como romântica e ingênua. Talvez
ela seja mesmo. Mas mesmo sem conhecer a pessoa de Descartes, eu arrisco
afirmar que ele jamais teve a intenção de que sua teoria tivesse esses desdobramentos.
O homem, antes de ser um animal político ou seu próprio
lobo, é um ser altruísta, como nos mostrou o sociólogo Auguste Comte. Não é
máquina e sendo assim, não pode ser analisado como tal. Não precisamos de mais
ciência para acabar com a fome, o câncer, o aquecimento global ou o desmatamento
na Amazônia. A tecnologia, se já não foi descoberta, está para ser. O que falta
é amor. Se as pessoas se lembrassem que é só por causa dele que a ciência
existe, tudo seria diferente. Enquanto não lembrarmos que “é só amor que conhece
o que é verdade”, jamais sairemos desse mundo de fome, doenças e opressão.
Thiago Campolina de Sousa - Direito Diurno
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