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domingo, 8 de março de 2020

Descartes e o Homem enquanto máquina


              René Descartes, no seu Discurso do Método, revolucionou todo o pensamento científico e acabou criando as bases da ciência contemporânea. Essas bases são compostas de diversos elementos, dos quais gostaria de chamar a atenção para um especificamente: a compartimentalização dos fenômenos observados.
            No novo método descrito por Descartes, a ciência deve prezar por uma observação dividida, ou seja, se queremos entender o funcionamento de algo, não podemos analisa-lo a partir do todo, mas sim a partir das partes, que somadas formarão o todo. O objeto estudado é decomposto ao máximo em partes menores, a fim de facilitar a compreensão dessas partes diminutas e, portanto, mais simples. Só depois do entendimento dessas unidades, é que se pode reagrupa-las, para então formar um todo, esse sim verdadeiramente compreensível, uma vez que as partes que o formam já foram interpretadas da maneira devida.
          Como havia dito no início, de fato essa nova abordagem redefiniu os rumos da ciência e, quase quatro séculos depois, ainda tem influência. Entretanto, creio que ela causou certas mudanças negativas. Devido a uma série de razões, da qual ela faz parte, a sociedade passou a crer cada vez mais no chamado cientificismo, concepção que acredita que a ciência é a única forma de se compreender a realidade. As religiões, a arte, o senso comum, tudo que não tenha um embasamento na ciência, é tido como falso e inútil.
         Passamos a ver paixões, sentimentos e até pessoas como máquinas, engrenagens, como coisas divisíveis. E diferente do que o método científico cartesiano prega, há certas coisas que não podem ser divididas, sendo o homem uma delas. Não é a razão que diferencia o homem de um verme, mas sim essa indivisibilidade inerente a nós. No mundo em que vivemos, onde as relações interpessoais foram substituídas pelo mercado e pelo Estado, essa visão de mundo com certeza será desprezada e julgada como romântica e ingênua. Talvez ela seja mesmo. Mas mesmo sem conhecer a pessoa de Descartes, eu arrisco afirmar que ele jamais teve a intenção de que sua teoria tivesse esses desdobramentos.
            O homem, antes de ser um animal político ou seu próprio lobo, é um ser altruísta, como nos mostrou o sociólogo Auguste Comte. Não é máquina e sendo assim, não pode ser analisado como tal. Não precisamos de mais ciência para acabar com a fome, o câncer, o aquecimento global ou o desmatamento na Amazônia. A tecnologia, se já não foi descoberta, está para ser. O que falta é amor. Se as pessoas se lembrassem que é só por causa dele que a ciência existe, tudo seria diferente. Enquanto não lembrarmos que “é só amor que conhece o que é verdade”, jamais sairemos desse mundo de fome, doenças e opressão.


           Thiago Campolina de Sousa - Direito Diurno





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