Muito embora a humanidade tenha desenvolvido métodos e ferramentas de produção e aprimoramento científico, assim contribuindo para a transformação do conhecimento em todos os campos das ciências humanas e da natureza, o atual cenário do pensamento crítico se encontra abalado. Do termo "négationnisme" (francês), o "negacionsimo" designa a negação, a fuga e a refutação infundada de uma determinada ralidade comprovada e dada como concreta, o que se encaixa perfeitamente nos recentes episódios dos movimentos anti-vacina, do "terraplanismo" e da tentativa de reescritura da história, como por exemplo a negação da escravidão e do holocausto.
Nessa medida, esse termo se torna o oposto e a mais verídica forma de contradição em relação ao desenvolvimento dos fundamentos epistemológicos e de método para a produção de conhecimento, observados tanto em "O discurso do Método", de René Descartes, quanto em "Novo Organum", de Francis Bacon. Ambos, filósofos do século XVII, preocuparam-se em construir fundamentos concretos para o desenvolvimento do pensamento, seja por meio da racionalidade, seja pela experiência. Logo, quando Descartes propõe a utilização da razão como norteadora da construção do conhecimento, ele demonstra a necessidade de se pensar ceticamente e de duvidar de tudo, a fim de eliminar quaisquer dúvidas e, assim, conceber uma verdade irrefutável. Por outro lado, Bacon entende que além da necessidade racional de se pensar as coisas, faz-se necessário o uso da experiência e da experimentação contínua para a promoção de um conhecimento verdadeiro, ou seja, uma certa interpretação da natureza e do cotidiano e da eliminação de ideias atreladas ao senso comum e, tal como utiliza em seu livro, da eliminação dos "ídolos".
Então, no momento em que a biologia se apoiou no método cartesiano e no empirismo baconiano para a comprovação e efetivação da vacina como meio de se prevenir doenças, como também quando a história concebeu o conceito de "holocausto", pautada nos eventos históricos não tão distantes, e certas pessoas e grupos de indivíduos refutam essas ideias baseados em pensamentos de caráter puramente opinativo e subjetivo, no intuito de promover um tipo de conhecimento infundado, distante de um método e de uma estratégia, os fundamentos do conhecimento e da ciência são amargamente feridos e se comprova a necessidade contemporânea dos pensamentos setecentistas.
Por fim, apesar da enorme distância temporal existente entre o início do pensamento crítico e científico, com Bacon e Descartes, as proposições desses filósofos são de extrema validade e importância até os dias atuais, principalmente no combate à desinformação e ao "negacionismo" vigentes na sociedade globalizada do século XXI. Portanto, a refutação rasa desses movimentos negacionistas não passa, ou de uma falta de leitura e conhecimento acerca dos autores fundadores da ciência contemporânea, ou de uma onda de más intenções de certos indivíduos.
João Cenamo Baldi de Freitas - diurno - 1º ano de Direito.
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