Do passado para cá, a
maneira como o conhecimento é composto sofreu alterações de grande relevância.
Filósofos como René Descartes e Francis Bacon colaboraram para a construção das
bases realistas da ciência moderna, pautada na razão e experimentação. Bacon,
filósofo inglês, defende o distanciamento dos chamados “ídolos”, empecilhos à
ciência e ao conhecimento. Descartes, pensador francês, postulou que a
contestação de tudo, mediante a razão, é o pontapé inicial para se alcançar o
conhecimento. Com isso, a explicação do mundo baseada na misticidade dá lugar
ao empirismo científico, com um viés muito mais sóbrio e racional.
Entretanto, apesar de
as bases da ciência moderna serem bastante distintas daquelas de séculos atrás,
nota-se um cenário de corrosão sistêmica do conhecimento científico: o
ressurgimento de movimentos antivacinas e terraplanistas se choca com modelos
científicos amplamente aceitos e atestados. Essa conjuntura de desconfiança do
saber não apenas revela traços típicos da atual era da pós-verdade, onde a
importância dos fatos empíricos é esmaecida, a medida em que julgamentos
puramente pessoais ganham destaque, como também maximiza o processo de
desinformação em nível mundial.
Por conseguinte,
observa-se o efeito nefasto da indiferença com relação aos métodos idealizados
pelos dois pensadores do Velho Mundo: nos últimos anos, de acordo com o
Ministério da Saúde, doenças de baixa recorrência voltaram a dar as caras no
território nacional. Também, o fortalecimento de métodos alternativos de saúde
e a ignorância desenfreada parecem ter arrastado a sociedade hodierna de volta
à idade das trevas.
Alguns poderiam
indagar se as dúvidas que certos grupos cultivam em relação à esfericidade da
Terra, por exemplo, não se encaixariam nas teses postuladas por René. Nesse
contexto, deve-se pontuar que, de acordo com o sujeito europeu, as incertezas
deveriam vir acompanhadas do aferimento dos fenômenos e a afirmação de algo
estaria, desse modo, condicionada à provas que as sustentem. Logo, é evidente
que os dizeres desses indivíduos constituem um equívoco, dado que seus
apontamentos amparam-se, sobretudo, em apelos sem credibilidade.
Portanto, é evidente
que nos tempos da pós-verdade, pelo qual o mundo passa, o questionamento da
ciência e de seus fundamentos aparenta ser algo recorrente. À vista disso, o
estudo filosófico e o desenvolvimento de um pensamento emancipado e seletivo se
faz necessário para que a ciência ainda se mantenha de pé, garantindo, assim, o
contínuo progresso da humanidade.
Fábio Eduardo Belavenuto Silva - Matutino - 1º ano de Direito
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