Generalizadamente, a esquerda adota um
discurso variável conforme as circunstâncias conjunturais e históricas vividas:
a sua subida ao poder é historicamente justificada segundo os meios distintos
que se apresentam em cada experiência daquilo que ela mesma chama de “socialismo
real”. De fato, por mais díspares que se apresentem seus discursos, o grupo
autodenominado como a esquerda de sua época arroga para si- ressalte-se:
generalizadamente-, o título de advogado do marxismo como se apresentara na
época de seu surgimento. Ora, é certo que a metodologia marxista tem-se
aplicado de modos distintos nos grupos distintos que a defendem, porém a mesma
guarda essências fundantes de sua existência que se ramifica para os mais
variados saberes amalgamando-se àqueles de natureza filosófica, sociológica,
antropológica, histórica, jurídica e outras mais. As essencialidades do
pensamento marxista devem ser, pois, objeto de apreciação enquanto tais,
despidas das interpretações que escolas marxistas quiseram delas fazer
especificamente em seus contextos históricos. Com isso, decerto tem-se maior
concretude daquilo que seria o pensamento marxista de per si, viabilizando sua
interpretação no momento presente. Não se discute aqui a inépcia econômica do
socialismo, mas cruamente uma analogia entre a realidade sociológica e as
ideias que Friedrich Engels e Karl Marx apresentaram em sua época.
Inicialmente, parta-se do estudo
comparativo efetuado por Engels entre o que ele chama socialismo utópico e
socialismo científico. O autor critica os mentores do socialismo após a
Revolução Francesa chegando a falar que suas ideias se degeneravam em “puras
fantasias”. Engels critica um pensamento metafísico que seria a base dos socialistas utópicos surgindo classificações do autor
como “reino da utopia”, “fantasias que hoje parecem provocar risos” e “cúmulo
de disparates”. Decerto, pelo que logicamente se conclui, a metodologia
marxista estaria, portanto, assentada na objetividade, no realismo e na
cientificidade de seu saber, longe de quaisquer utopias. Trata-se de um
reducionismo deveras estranho quando se compara a suposta objetividade e
realismo com as aplicações feitas dessa sistemática cognominada por si como
científica. Não é preciso recorrer às atrocidades genocidas dos soviéticos, dos
chineses, vietcongues, cambojanos ou de quaisquer outros países socialistas para constatá-lo.
Os governos que antecederam por 13 anos o atual subiram ao poder com promessas,
dentre as quais estava a erradicação da pobreza no Brasil. Entretanto, não
parece que mergulhar o país em um estado de recessão econômica e desemprego
seja das mais científicas e realistas consequências que poderiam ser previstas pelo autor.
Ademais, não só acerca das utopias
criticadas por Engels o marxismo toma para si a bandeira em prol do
materialismo. Este tende a se aplicar metodologicamente em tudo quanto seria
possível, não sem razão as relações econômicas sejam tão importantes para os
autores do marxismo. Isto, acrescente-se, também é genericamente presente nas
distintas obras em que o marxismo se expõe enquanto tal. As ideias sobre o
sistema de produção capitalista estão presentes desde as análises críticas do
Direito em Hegel até o Manifesto do Partido Comunista. Questiona-se: que
realismo há em defender o materialismo como única fonte de análise da
realidade? O próprio Marx repisa a ideia de que as situações vividas
socialmente são fruto da ideologia vigente em sua época. É de se corroborar,
assim, a ideia de que Marx estaria tendo suas ideias a partir do sistema
vigorante, dado ser assaz fantasioso crê-lo como único desvinculado do sistema
em que vivia. E, por óbvio, havia influência das ideologias da época,
verifica-se que desde o fim da Idade Média, a humanidade tem tendido
filosoficamente para um maior grau de dessacralização do saber, no sentido de
que apenas a matéria e a ciência são aceitáveis para a apreciação da realidade.
O marxismo tende a se apresentar como ápice desse processo histórico, não
acabado, sem dúvida, o nacional-socialismo também mais a frente defenderia a
ciência como justificativa para sua existência. Mas o método implícito nas
obras de Marx e Engels que se apresenta como uma reafirmação da dialética
hegeliana, mas arrogando para si o status
de materialista, tende a confluir num exclusivismo nada saudável para se
analisar a sociedade e o meio em geral.
A fixação pela análise da realidade como
uma constante dicotomia materialista- a ideia de luta de classes o explicita-
faz do método marxista reducionista e autoritário, pois sua aplicação social
sempre cairá, de alguma forma, na ideia de grupos que devem ser retirados para
se instaurar a ditadura do proletariado. Não é estranho o discurso
autocontraditório- pois prega uma situação de união social, mas ressaltando a
incompatibilidade entre os entes sociais- constantemente feito pela oposição
brasileira de que o país está sendo entregue às “elites”, ao “grande capital”,
aos “imperialistas”, aos “fascistas”, aos “poderosos” ou quaisquer outros
adjetivos que se possa discricionariamente criar em nome da divisão social. O
caso do Direito é emblemático: mesmo Hegel tendo dito que o paradigma do saber
jurídico é a liberdade, o marxismo reiterará a ideia de uma dualidade entre uns
dominantes e outros dominados, esvaziando, com isso, todo um desenvolver
histórico pelo qual o Direito passou e calcou suas bases. E em tudo aquilo em
que se tenta assentar o marxismo, os princípios basilares de oposição e
materialismo estarão sempre presentes, por mais diverso e prolixo que se
demonstre o discurso, como no caso do próprio Direito em que se tenta criticar
o caráter especulativo dessa ciência, em outros termos, o seu caráter não
materialista.
É conclusivo salientar: o pensamento
metodológico marxista é eminentemente reducionista, exclusivista e fechado. A despeito
do discurso que muitos de seus defensores têm de uma suposta abertura ao mundo
dos marginalizados, na verdade, seu pensamento é puramente materialista e,
portanto, inumano. A crítica marxista à religião classificando-a como “ópio do
povo” recrudesce a ojeriza ao pensamento metafísico e o próprio Marx diz “É com
razão, pois, que o partido político prático na Alemanha exige a negação da
filosofia.”. A conclusão patente será a de que o marxismo reduz a história, o
direito, a filosofia e todos os saberes humanos à sua constante dual
materialista. Ao dizer-se concreto o socialismo científico tão somente conduz à
utopia, em vista de seu reducionismo metodológico que conflui em
inaplicabilidade prática. Por fim, vale ressaltar este ponto: a busca pelo socialismo
científico, de fato, nunca conduziu ao mesmo sem contrariar fatores da própria
natureza humana que devem ser levados em consideração, desde sua espiritualidade
à sua objetividade física. A exclusão desse pragmatismo nas análises marxistas
é um percalço a se encarar, pois conduz ao autoritarismo, maneira única de se
alçar à utopia que o marxismo demonstrara, já que sua análise histórica errou e
não conduziu ao comunismo como predizia. Com isso, a única saída para o
marxismo seria a retração da ordem nas instituições alcançando seu escopo na
força, daí poder concluir-se o descarte dessa forma de pensamento para fins
práticos.
Enfim, vê-se, pois, que nem se elencou
aqui as variantes desenvolvidas historicamente- social-democracia, socialismo fabiano,
menchevismo, Escola de Frankfurt, Gramsci-, mas tão somente a essência que é
intrínseca ao marxismo. A história e o presente são demonstrativos daquilo a
que conduz o marxismo: a busca da utopia contra a própria realidade que só se
modificaria, então, pelo uso da força. Assim, como se vê, não sem razão os
partidos da oposição sentem-se tão atraídos e tão vislumbrados na defesa de regimes
ditatoriais.
Gustavo
de Oliveira- 1º ano noturno