Numa análise marxista, pode-se dizer que o proceder do caso do Pinheirinho na Justiça explicita o uso do Direito como ferramenta de dominação burguesa para a perpetuação da lógica de exploração e dos privilégios da burguesia em detrimento da classe trabalhadora. De acordo com Marx, essa instrumentalização do Direito de forma exploratória deriva de toda uma conjuntura sustentada pelo sistema capitalista de produção; em que, em nível infraestrutural, os meios de produção - em destaque para a terra - são detidos pela elite e privados da força produtiva - o proletariado - para que, em nível estrutural, a classe rica possa manter subjugada a classe operária, usando de todos os artifícios e instrumentos para isso.
Nesse sentido, evidencia-se no caso do
Pinheirinho o mesmo fenômeno: a elite, ali representada pelo interesse da massa
falida da Selecta (do empresário Naji Nahas), utiliza de seu poder financeiro e
influência para que o Direito estivesse a seu favor - a juíza Márcia Loureiro,
por exemplo, claramente toma seu lado (que, deve-se dizer, não deixa de ser ao
próprio lado que pertence: o da classe rica) ao decidir pela reintegração de
posse daquela área nobre em São José do Rio Preto; mesmo que isso significasse
o despejo de 1500 famílias de trabalhadores, feito de forma totalmente
despreparada e truculenta - figuram nessa experiência a demolição de casas
inteiras com todos os pertences dessas pessoas, agressões, abusos de autoridade
por parte dos policiais, infinitas violações de Direitos Humanos.
Isso nos mostra não somente mais um
caso do Direito a serviço do capital, onde o direito de posse, mesmo que de uma
terra inutilizada, é priorizado sob o direito de moradia daqueles que
necessitam; mas também chama atenção para a gritante necessidade de uma reforma
agrária: a terra que foi ocupada pelas
famílias não tinha antes finalidade social, ainda assim o Estado não a
confiscou e o governo estadual decidiu por conceder à Selecta SA o terreno do
Pinheirinho depois de 7 anos de ocupação. O materialismo histórico dialético
condena a concentração da terra (meio produtivo) sob o controle burguês - nas
palavras de Marx: “O Manifesto Comunista tem como tarefa a proclamação do
desaparecimo próximo e inevitável da moderna propriedade burguesa”.
O ocorrido no Pinheirinho, por fim, nos
convida a uma reflexão: quem são os juristas de hoje? E quem serão os juristas
de amanhã? Se, ao longo da história do Brasil, o Estado sempre se firmou em
bases patriarcais, conservadoras, elitistas; é a isso que estamos dando
continuidade? Ao meu ver, essa lógica vem, felizmente, mudando - quanto mais se
aprofundam as diferenças sociais mais grita a necessidade de mudança, é assim
que cresce a esquerda, o feminismo, o movimento negro, o movimento homoafetivo,
o movimento trans, enfim, todas as minorias que se fortalecem pela causa e
enfraquecem o sórdido sistema assassino ao qual nosso país se inseriu até hoje.
Cabe a nós, os juristas de amanhã, utilizar das ferramentas que possuiremos
para fazer do Direito não mais o instrumento de dominação do qual hoje muito se
utiliza, mas saber usá-lo como instrumento de emancipação social de todos
aqueles que precisam. Se não a isso, para que servimos nós?
Gabriella Di Piero - Direito Diurno
Gabriella Di Piero - Direito Diurno
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