A
desocupação do pinheirinho foi uma reintegração de posse realizada em janeiro
de 2012 pela Polícia Militar do Estado de São Paulo por ordem da juíza Márcia
Faria Mathey Loureiro da 6ª Vara Cível de São José dos Campos, cerca de 1600 famílias,
algo entre 6 mil e 9 mil pessoas, que ocupavam a região da cidade de São José
dos Campos desde 2004 foram tiradas a força de suas casas por agentes do Estado
a pedido da empresa Seleta, dona do terreno que estava em situação de Massa
falida.
Nossa
constituição federal coloca o direito a moradia e o direito a propriedade no
mesmo patamar, mas nesse caso vemos como
o direito a propriedade de uma parte foi resguardado e o direito a
moradia da outra parte foi negado, em Crítica a filosofia do direito de Hegel,
Karl Marx afirma que o direito é um instrumento de dominação burguesa, sendo
usado para os interesses da classe dominante, e que o Estado - contrariando Hegel
- não é uma síntese do desenvolvimento humano que através de suas leis busca
garantir a isonomia entre os cidadãos, dizendo busca apenas garantir os
privilégios dos detentores do capital.
Tendo
isto em mente, eu como estudante negro de Direito entro em crise ao refletir a
respeito da função do Estado e das leis, nesses cinco anos de formação devo
absorver um conhecimento construído por uma elite branca para servir aos seus
interesses mesquinhos e egoístas, conhecimento este organizado em uma grade
curricular que abre pouco espaço matérias propedêuticas que possibilitariam uma
verdadeira reflexão crítica a respeito dos problemas sociais existentes, não
apenas para conhece-los mas saber como desconstruir-los de modo a aplicar o
direito de uma maneira que sirva a justiça social e não aos interesses de uma
elite branca, burguesa e machista.
Com
um Direito com esse perfil explicitado acima é possível haver uma real
emancipação social ? O Caso do pinheirinho explicita a mentalidade de uma
sociedade doente onde uma ideologia hegemônica prega que é aceitável milhares
de pessoas não terem onde morar, para garantir o lucro de um ente privado, o
Direito entra aí como ferramenta de opressão e controle social como Marx
demonstra. Finalizo o texto com a música Despejo na Favela do sambista paulista
Adoniran Barbosa.
Quando
o oficial de justiça chegou
Lá
na favela
E,
contra seu desejo
Entregou
pra seu narciso
Um
aviso, uma ordem de despejo
—
Assinada, seu doutor
Assim
dizia a 'pedição'
"Dentro
de dez dias
Quero
a favela vazia
E
os barracos todos no chão"
—
É uma ordem superior
Ô,
ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
É
uma ordem superior
Ô,
ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
É
uma ordem superior
—
Não tem nada não, seu doutor
Não
tem nada não
Amanhã
mesmo vou deixar meu barracão
Não
tem nada não, seu doutor
Vou
sair daqui
Pra
não ouvir o ronco do trator
—
Pra mim não tem 'probrema'
Em
qualquer canto eu me arrumo
De
qualquer jeito eu me ajeito
Depois,
o que eu tenho é tão pouco
Minha
mudança é tão pequena
Que
cabe no bolso de trás
...Mas
essa gente aí, hein?
Como
é que faz?
Mas
essa gente aí, hein?
Com'é
que faz?
Ô,
ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
Essa
gente aí
Como
é que faz?
Ô,
ô, ô, ô, ô!, meu senhor!
Essa
gente aí, hein?!
Como
é que faz?
Elias Manoel do
Nascimento Junior – 1º Direito Diurno
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