Em 2004, a ocupação de um imenso
terreno desocupado localizado na zona sul de São José dos Campos – cidade que
possui um dos maiores orçamentos per
capita do Brasil - por pessoas sem-teto, culminou com o surgimento de uma comunidade
conhecida como Pinheirinho. A área era supostamente propriedade da massa falida
da empresa Selecta Comércio e Indústria S/A, pertencente a Naji Nahas. O
terreno que até então era improdutivo e não tinha função alguma, a partir da
ocupação para fins de moradia, passou a possuir importante função social.
Mesmo a ocupação da área onde se
estabeleceu a comunidade do Pinheiro ser considerada irregular, nota-se que ela
não aconteceu desordenadamente. Durante oito anos, de 2004 a 2011, a comunidade
desenvolveu-se e estruturou-se de maneira organizada, com planejamento urbano, ruas,
avenidas e casas de alvenaria, além de contar com mais de 5.000 habitantes. A
ocupação do imóvel significava, para as famílias que passaram a ali habitar, a
chance de reconstrução, de serem produtivos e de dar uma função a um imóvel
improdutivo. Cabe ressaltar que já existia uma negociação em trâmite para a
regularização da área como núcleo habitacional.
No entanto, o caso do
Pinheirinho resultou na decisão, por parte dos magistrados – que apresentaram
diversas ilegalidades durante o curso das ações judicias - da reintegração de
posse do imóvel para o seu suposto dono, o que levou à desocupação da área
pelos policiais, realizada de maneira violenta, com a demolição dos imóveis
construídos, deixando mil e setecentas famílias desabrigadas e desamparadas.
Além disso, a violação dos direitos humanos durante o processo de desocupação
foi de grande proporção. Aqui percebe-se o conflito entre o direito à propriedade
e o direito à moradia, ambos previstos pela Constituição Federal.
Portanto, percebe-se que a
teoria de dominação de classes de Karl Marx é aplicável aos panoramas contemporâneos.
Marx, ao criticar o idealismo hegeliano em sua obra “Para a crítica da
filosofia do Direito de Hegel”, afirma que o Direito pode ser um instrumento de
dominação político-social de uma classe privilegiada sobre outra. No caso do massacre da comunidade do Pinheirinho, o Direito agiu como uma ferramenta de manutenção da vontade da elite dominante em detrimento à real necessidade da área pelas pessoas que ali habitavam.
Luís Felipe Oliveira Haddad
1º ano - Direito Noturno
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