É perceptível que, assim como afirmou
Francis Bacon no século XVII, “o intelecto humano se deixa abalar no mais alto
grau pelas coisas que súbita e simultaneamente se apresentam e ferem a mente”
e, dessa forma, é comum que os homens se deixem tomar por certos ídolos. Os Ídolos da Tribo são naturais da formação
humana e referem-se à interferência das paixões na construção de juízos e à
incompetência dos sentidos em fazer analogias não com o universo e sim com a
natureza humana, o que é extremamente prejudicial à ciência até hoje; os Ídolos da Caverna consistem naqueles que
todos possuem individualmente e os detêm como uma cova particular, fruto de
leituras e da educação, e que resultam em hierarquias que produzem pequenos
mundos; por sua vez, os Ídolos do Foro
são consequência das relações humanas, do diálogo e do comércio, determinando,
assim, o poder da Palavra como instrumento de perturbação humana, visto, por
exemplo, nos conhecidos resultados que obteve a oratória e retórica de Adolf
Hitler durante a Segunda Guerra Mundial; e, por fim, há os Ídolos do Teatro, que figuram mundos fictícios e teatrais, como a magia e a astrologia e
conseguem inúmeros adeptos a essa crença do poder sobrenatural.
Todos esses ídolos foram determinados
por Bacon como os responsáveis pelo bloqueio da mente humana e a conseqüente dificuldade
em fazer ciência daqueles que se pautam unicamente nas perspectivas da razão. Dessa
forma, o pensador critica veementemente o racionalismo proposto por Descartes
afirmando que este institui a ciência como um “mero exercício da mente humana”,
a exemplo do grego Aristóteles que – também crente na razão como único
instrumento para alcançar o conhecimento científico- “está
sempre pronto para tagarelar, mas é incapaz de gerar, pois, a sua sabedoria é
farta em palavras, mas estéril de obras”. Com isso, o pensador busca a
materialização do conhecimento científico, isto é, que fosse considerado
empírico apenas o que pudesse ser observado, perscrutado, investigado e, dessa
forma, aplicado pelos homens na dominação da natureza, como feito pela
emergente burguesia da época que iniciava suas primeiras manufaturas.
É
evidente, então, que limitar a ciência ao suposto conhecimento inato dos homens
(razão) é uma forma de ANTECIPAÇÃO da mente que desconsidera o contexto e
resulta inevitavelmente no senso comum e no dogmatismo dos ídolos. Assim, o real
conhecimento científico, para o pensador, seria proveniente da INTERPRETAÇÃO da
natureza, capaz de antecipar o acaso e o futuro por meio do método indutivo e
que geraria, de fato, descobertas científicas, e não apenas o cultivo das
ciências. É importante ressaltar também que essa capacidade de interpretar a
natureza em seu contexto é um instrumento para o aprimoramento da mente e do
intelecto – como um tear que facilita o trabalho do tecelão – resultando na supressão
das lacunas da mente humana e na consequente constituição da verdadeira ciência,
que seria, para Bacon, a representação das reais intenções divinas.
Dessa
forma, aplicando o pensador no Direito, vê-se, por exemplo, que a atual
perspectiva de união homoafetiva (formação de famílias) - modificada pelo
Judiciário há três anos - levou o Legislativo a modificar também o Estatuto da
Família, em uma evidente adaptação das leis diante do contexto que pode ser interpretado.
Da mesma forma, a ciência moderna não se faz de antecipações, e sim de
explorações, observações e interpretações ilimitadas, consistindo em um dos
maiores legados de Francis Bacon ao conhecimento científico. Assim, conclui-se
que a falácia dos sentidos – da qual os homens rodeados por ídolos são tão
vulneráveis – é o maior obstáculo ao avanço da ciência e que minimizá-la diante
da importância de submeter a mente a caminhos empíricos é, então, a melhor
maneira de evitar o descartável cultivo das ciências para que a própria possa,
enfim, cultivar frutos pragmáticos aos homens.
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