Total de visualizações de página (desde out/2009)

domingo, 26 de abril de 2015

Bacon e a inauguração da ciência pragmática

É perceptível que, assim como afirmou Francis Bacon no século XVII, “o intelecto humano se deixa abalar no mais alto grau pelas coisas que súbita e simultaneamente se apresentam e ferem a mente” e, dessa forma, é comum que os homens se deixem tomar por certos ídolos. Os Ídolos da Tribo são naturais da formação humana e referem-se à interferência das paixões na construção de juízos e à incompetência dos sentidos em fazer analogias não com o universo e sim com a natureza humana, o que é extremamente prejudicial à ciência até hoje; os Ídolos da Caverna consistem naqueles que todos possuem individualmente e os detêm como uma cova particular, fruto de leituras e da educação, e que resultam em hierarquias que produzem pequenos mundos; por sua vez, os Ídolos do Foro são consequência das relações humanas, do diálogo e do comércio, determinando, assim, o poder da Palavra como instrumento de perturbação humana, visto, por exemplo, nos conhecidos resultados que obteve a oratória e retórica de Adolf Hitler durante a Segunda Guerra Mundial; e, por fim, há os Ídolos do Teatro, que figuram mundos fictícios e teatrais, como a magia e a astrologia e conseguem inúmeros adeptos a essa crença do poder sobrenatural.
Todos esses ídolos foram determinados por Bacon como os responsáveis pelo bloqueio da mente humana e a conseqüente dificuldade em fazer ciência daqueles que se pautam unicamente nas perspectivas da razão. Dessa forma, o pensador critica veementemente o racionalismo proposto por Descartes afirmando que este institui a ciência como um “mero exercício da mente humana”, a exemplo do grego Aristóteles que – também crente na razão como único instrumento para alcançar o conhecimento científico- “está sempre pronto para tagarelar, mas é incapaz de gerar, pois, a sua sabedoria é farta em palavras, mas estéril de obras”. Com isso, o pensador busca a materialização do conhecimento científico, isto é, que fosse considerado empírico apenas o que pudesse ser observado, perscrutado, investigado e, dessa forma, aplicado pelos homens na dominação da natureza, como feito pela emergente burguesia da época que iniciava suas primeiras manufaturas.
É evidente, então, que limitar a ciência ao suposto conhecimento inato dos homens (razão) é uma forma de ANTECIPAÇÃO da mente que desconsidera o contexto e resulta inevitavelmente no senso comum e no dogmatismo dos ídolos. Assim, o real conhecimento científico, para o pensador, seria proveniente da INTERPRETAÇÃO da natureza, capaz de antecipar o acaso e o futuro por meio do método indutivo e que geraria, de fato, descobertas científicas, e não apenas o cultivo das ciências. É importante ressaltar também que essa capacidade de interpretar a natureza em seu contexto é um instrumento para o aprimoramento da mente e do intelecto – como um tear que facilita o trabalho do tecelão – resultando na supressão das lacunas da mente humana e na consequente constituição da verdadeira ciência, que seria, para Bacon, a representação das reais intenções divinas.

Dessa forma, aplicando o pensador no Direito, vê-se, por exemplo, que a atual perspectiva de união homoafetiva (formação de famílias) - modificada pelo Judiciário há três anos - levou o Legislativo a modificar também o Estatuto da Família, em uma evidente adaptação das leis diante do contexto que pode ser interpretado. Da mesma forma, a ciência moderna não se faz de antecipações, e sim de explorações, observações e interpretações ilimitadas, consistindo em um dos maiores legados de Francis Bacon ao conhecimento científico. Assim, conclui-se que a falácia dos sentidos – da qual os homens rodeados por ídolos são tão vulneráveis – é o maior obstáculo ao avanço da ciência e que minimizá-la diante da importância de submeter a mente a caminhos empíricos é, então, a melhor maneira de evitar o descartável cultivo das ciências para que a própria possa, enfim, cultivar frutos pragmáticos aos homens.



Nenhum comentário:

Postar um comentário